A búlgara Kristalina Georgieva poderá ser a próxima grande adversária de António Guterres para o cargo de secretário-geral da ONU.
Segundo a imprensa búlgara, citada pela Agência Lusa, a vice-presidente da Comissão Europeia pode entrar na corrida nos próximos dias e conta com o apoio de peso de Angela Merkel.
A Alemanha e a chanceler terão, de resto, procurado apoio para Georgieva durante a última cimeira do G20, apesar de a Bulgária ter escolhido, anteriormente, para candidata ao cargo Irina Bokova. A atual diretora-geral da UNESCO tem sido a mulher mais bem posicionada nas primeiras quatro votações informais no Conselho de Segurança da ONU e tem o apoio da Rússia que criticou duramente o alegado apoio da Alemanha a uma candidatura-surpresa, nesta fase do processo.
Uma porta-voz do Ministério dos Negócios estrangeiros russo, referiu que o Presidente russo, Vladimir Putin, terá dito a Angela Merkel que “a nomeação de um candidato para o cargo de secretário-geral da ONU é um decisão soberana de um país e qualquer tentativa de influenciar essa decisão direta ou indiretamente é inaceitável”.
As declarações do Kremlin podem querer dizer que, a confirmar-se a candidatura de Kristalina Georgieva, esta contará com o veto da Rússia.
Quem é Kristalina Georgieva?
Apesar de ainda não haver confirmação sobre a sua participação nesta eleição, já várias vozes se fizeram ouvir em relação a essa possibilidade. Se do lado russo houve críticas, da parte de Bruxelas vieram elogios que se juntam ao apoio alemão.
Martin Selmayr, chefe de gabinete de Jean-Claude Juncker, comentou no Twitter que a nomeação de Georgieva “seria uma grande perda” para a União Europeia, mas que a política búlgara “seria uma forte secretária-geral da ONU, faria muitos europeus orgulhosos” e seria um “sinal forte” para a igualdade de género.
A vice-presidente da Comissão Europeia, que pertence à família política do Partido Popular Europeu [centro-direita], é também a comissária europeia responsável pelo Orçamento e Recursos Humanos. Durante a presidência de Durão Barroso, Kristalina Georgieva foi comissária europeia para a Cooperação Internacional e Ajuda Humanitária e o seu trabalho no âmbito das catástrofes naturais que devastaram o Haiti e o Paquistão, em 2010, fez com que fosse distinguida “Comissária do Ano”, nos prémios “European of The Year” desse ano.
Formada em economia e especialista na relação entre políticas ambientais e recursos e crescimento económico, Kristalina Georgieva começou a carreira no Banco Mundial, onde chegou a ocupar o cargo de Diretora do Departamento Ambiental.
No início de 2010 deixou a instituição para assumir o cargo de comissária europeia. Transitou da presidência de Durão Barroso para a de Jean-Claude Juncker, mudando de pasta e acumulando a vice-presidência da Comissão Europeia.
Se a sua candidatura avançar será inédita em vários aspetos, mas nem todos representam um progresso para a ONU.
Regras e transparência das candidaturas
Nenhuma regra impede um país de nomear dois candidatos, mas é algo que nunca aconteceu. O Governo da Bulgária afirmou que a candidatura da diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, ao cargo de secretário-geral da ONU se mantém.
Da mesma forma, nada opõe a que um candidato possa ser nomeado por um país que não o seu, mas também isso seria uma novidade. Foi avançado que o nome de Georgieva poderia ser proposto pela Hungria, Croácia e Letónia, com o apoio da Alemanha.
Outra das questões que esta candidatura-surpresa de Georgieva levanta prende-se com a transparência.
A ONU já realizou apresentações, entrevistas e debates com todos os 11 candidatos ao cargo, o que permitiu um nível de envolvimento público sem precedentes. Por isso, e ainda que permitida pelos estatutos da organização, uma nomeação tão tardia significaria um retrocesso na tentativa de tornar o processo mais transparente.
O ex-primeiro ministro português António Guterres venceu as primeiras quatro votações informais para o cargo, que aconteceram em 21 de julho, 05 de agosto, 29 de agosto e 09 de setembro.
Estão agendadas duas novas votações: uma semelhante às primeiras quatro, que acontece a 26 de setembro, e outra na primeira semana de outubro. Nesta segunda ronda, os votos dos membros permanentes do conselho, que têm poder de veto sobre os candidatos, serão destacados.
É esperado que o sucessor de Ban Ki-moon, cujo mandato termina no final do ano, seja escolhido durante este outono. O atual secretário-geral da ONU afirmou que gostaria de ver uma mulher a ocupar o seu lugar.
Entre os 11 candidatos ao cargo – seis homens e cinco mulheres – três já desistiram e duas das baixas foram do lado feminino. A secretária executiva da estrutura da ONU para as alterações climáticas, Christiana Figueres, retirou ontem a sua candidatura, seguindo a croata Vesna Pusic e o ex-primeiro-ministro do Montenegro Igor Luksic.
Imagem de destaque: Eric Vidal/Reuters