Orçamentos do Estado: das unhas pintadas às ‘raparigas avantajadas’

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Deputada socialista a pintar as unhas durante a discussão do Orçamento do Estado de 2019 [Fotografia: Rafael marchante/Reuters]

O dia em que se começou a discutir, na generalidade, o Orçamento do Estado (OE) para 2019, uma única imagem dominou o debate: uma fotografia de uma deputada socialista a pintar as unhas em pleno hemiciclo. Foi revelado depois – nesta mesma segunda-feira, 29 de outubro -, que a imagem captada pela Reuters, e que não mostrava o rosto da pessoa em questão, era de Isabel Moreira, a deputada independente pelo Partido Socialista.

A reação não se fez esperar e por todo o lado ecoaram críticas que têm ganhado expressão maior no Facebook do rosto da própria deputada da bancada socialista. Nele, a propósito de um vídeo replicado pela própria Isabel Moreira de uma intervenção do colega de partido e antigo secretário de Estado dos Assuntos Fiscais Fernando Rocha Andrade, podem ler-se perto do 80 comentários, na sua absoluta maioria masculinos, a condenar a atitude de Moreira e a pedir a sua demissão do cargo parlamentar. Contactada pelo Delas.pt, Isabel não quis comentar o assunto. “Não vou falar. Obrigada, bom dia”

Esta não é a primeira vez que, aquando de debates, sobretudo no Orçamento do Estado, os deputados acabam visados em polémica por estarem em atividades completamente alheias à discussão do documento.

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Já em novembro de 2014, uma estudante de 16 anos da Escola Secundária Alves Redol, de Vila Franca de Xira, escrevia, indignada, ao então primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, relatando ter visto deputados (sem avançar nomes) “o tempo todo, e não estou a exagerar, no Facebook a ver raparigas avantajadas”. Nessa mesma ocasião, em que esteve no hemiciclo a assistir ao debate do OE2015, a mesma aluna contava que viu “outros [parlamentares] a assistir a vídeos de quedas, e até houve uma vez que três deles se juntaram a rir com qualquer coisa que viram no computador”.

Estas terão sido as palavras da aluna que, na altura, enviou também a carta a Marcelo Rebelo de Sousa, então comentador de domingo no jornal a TVI. Uma denúncia que colocou todos os partidos políticos bem como Assunção Esteves, então presidente da Assembleia da República, entre o silêncio e a condenação de qualquer generalização.

Em outubro de 2013, também na mesma janela temporal em que se debatia o clausulado que mais mexe com a vida das famílias portuguesas, o deputado socialista João Galamba convocou sobre si todas as atenções depois de ter pedido, na sua conta de Twitter, ajuda para encontrar um link pirata que lhe permitisse assistir, em direto, ao clássico FC-Porto – Sporting.

Um jogo de transmissão exclusiva no canal por subscrição Sport TV e que teve lugar a 27 desse mês e que resultou na vitória dos dragões por 3-1. A derrota foi mesmo para as associações do setor dos media. Em novembro desse ano, a Associação do Comércio Audiovisual de Obras Culturais e Entretenimento de Portugal (ACAPOR) escrevia uma carta aberta ao deputado – atualmente, recém-nomeado secretário de Estado da Energia – na qual pedia a “renúncia ao mandato após o pedido feito na sua conta da rede social.

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Em março de 2010, o malogrado deputado socialista e presidente do Conselho de Administração da Assembleia José Lello defendia a necessidade de “definir a mobilidade” dos repórteres fotográficos da Assembleia da República, considerando ser importante definir restrições que impedissem que os jornalistas retratassem os ecrãs dos computadores dos representantes públicos e defendendo estes “não” podiam “estar sujeitos ao voyeurismo”.

Uma posição contrariada pelo então presidente da Assembleia – e também socialista – Jaime Gama. Este sublinhou que o hemiciclo era “um espaço público”, sendo que os computadores disponíveis eram “do serviço público”.

Imagem de destaque: Rafael Marchante/Reuters

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