Ordem dos Médicos pede para “responsabilizar” opiniões fora da realidade técnica da saúde

Alice Santos
[Fotografia: Divulgação TVI]

Gurus espirituais, influencers com dicas de vida saudável e terapias alternativas, entre outros, são vários grupos ou subgrupos de pessoas que inundam a Internet com ideias e opiniões não fundamentadas na medicina tradicional. Também os discursos de autoajuda e motivacionais estão em voga, que se multiplicam pelo país e que enchem salas e recintos de espetáculos.

Discursos que se expandem nas redes sociais e que, por vezes, abrem mesmo caminho para as televisões, arriscando anteciparem uma espécie de sagração. Veja-se o mais recente e polémico caso de Alice Santos, uma digital influencer portuguesa que afirmou que os médicos “são tóxicos”, falou da “medicina” como “um negócio sujo” e que a depressão se cura com sol e exercício físico. Ela é atualmente uma das novas concorrentes do novo reality show da TVI, O Triângulo, e foi expulsa do formato da TVI no domingo, 16 de abril.

De volta às polémicas, haverá algum tipo de perigo ligado a este tipo de comportamento? Deverão estas atitudes ser sancionadas e os seus autores responsabilizados?

O Delas esteve à conversa com Paulo Santos, presidente do Colégio de Especialidade de Medicina Geral e Familiar, da Ordem dos Médicos, que referiu que, apesar de cada um ser livre de expressar a sua opinião, deve sempre ter-se em conta que o impacto no outro.

Paulo Santos vinca que cada vez mais se respeita a “autonomia do doente” e a sua liberdade em fazer o tratamento proposto ou não. “Se em última análise o doente não quiser fazer o tratamento não faz, não há problema nenhum, não pode é vir para os outros dizer ‘eu não faço portanto acho que vocês também não deviam fazer e o medicamento até vos vai fazer mal’. Não faz sentido do ponto de vista das evidências científicas e do ponto de vista do que são as melhores práticas”, referiu.

Paulo Santos referiu ainda que, apesar de cada um ter direito à sua opinião, é necessário ter algum cuidado com este tipo de atitudes: “A visibilidad pública que esta opinião tem eu diria que é criminosa porque pode condicionar aquilo que é o acesso e aquilo que é a confiança da população no sistema de saúde e vir a criar problemas bem mais complexos e complicados de saúde”.

O Presidente do Colégio de Medicina Geral e Familiar notou ainda que este tipo de posição é antigo e lembrou os movimentos antivacinas. No entanto, o especialista referiu ainda que “antigamente isto não chegava a lado nenhum, primeiro porque não havia a difusão das redes sociais que temos hoje e segundo porque a comunicação social sempre teve um papel de triagem deste tipo de informação. (…) O que acontece hoje é que estas vozes rapidamente chegam a canais de Youtube e redes sociais e, à custa de alguma propaganda, acabam por ser muito ouvidos e serem até líderes de opinião, acabando por ter um impacto muito maior”.

Para Paulo Santos esta postura deveria ser responsabilizada: “Este tipo de opiniões são completamente disparadas da realidade e isoladas do que é a nossa capacidade de intervenção técnica. Uma pessoa que emite esta opinião e que está completamente fora daquilo que é a realidade técnica tem de ser responsabilizada por essa opinião”, afirmou.

O especialista explicou também que a Ordem dos Médicos tenta ter uma posição mais interventiva nesta matéria: “A OM tem tido um carácter de intervenção nesta área e tem tentado que – ao nível da comunicação social, das estruturas que governam o nosso país e que regulam toda a área da saúde – possam ter um papel pró ativo em termos do que é a promoção da saúde, deixando de parte o que é a despromoção da saúde”.