Os motivos pelos quais os casais estão a discutir em tempos de Covid-19

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Com a chegada da pandemia provocada pelo novo Coronavírus, mesmo os casais com uma relação muito estável estão a ter mais discussões. O stress de viver em tempos de pandemia sem um fim claro à vista, enquanto lidamos com preocupações com a nossa saúde, finanças, família e o futuro do nosso país, faz com que as tensões em casa aumentem mais do que o normal.

“Se teve uma discussão com o seu parceiro por causa de uma pilha de pratos para lavar, essa forte reação pode ter menos a ver com a própria cozinha desarrumada e mais com o crescente stress relacionado à pandemia“, diz a terapeuta familiar, Abigail Makepeace ao site The Huffington Post.

“Quando está a suprimir emoções, mesmo num pequeno incidente, pode transformar-se numa explosão”, explica a especialista, acrescentando que “isso acontece porque essas emoções estão a implorar por uma saída e, ficar chateada com o seu parceiro, apresenta uma oportunidade para a expressão delas”.

Assim, com a existência de discussões pelo mais pequeno detalhe entre os casais, o The Huffington Post perguntou quais as discussões mais frequentes e pediu conselhos a vários especialistas do que deve ser feito nesta altura entre os casais.

“Não estamos de acordo sobre como lidar com as nossas finanças”

Desde que a pandemia começou que as economias do país e das pessoas têm vindo a baixar.

“Muitos de nós estamos a passar por mudanças na renda à medida que os empregos estão a ser perdidos e a economia oscila, o que causa ansiedade em relação ao nosso bem-estar financeiro”, diz a terapeuta familiar e matrimonial, Amanda Baquero.

Para casais que estão a discutir sobre dinheiro, a especialista recomenda designar um tempo para atualizar o seu orçamento.

“Cada parceiro deve identificar o que acredita ser as suas necessidades urgentes e quais outras despesas podem esperar”, aponta, acrescentando que “o casal pode partilhar isso um com o outro e encontrar um meio-termo que atenda às necessidades de ambos“.

“Não podemos concordar sobre os riscos que podemos correr”

Outro ponto comum de discórdia entre os casais é o quão vigilantes eles devem ser quanto às medidas de segurança, como usar uma máscara ou praticar o distanciamento social. Muitas vezes, os parceiros têm diferentes níveis de conforto quando se trata de correr riscos relacionados ao vírus.

“Desde grandes decisões, como decidir se mandar as crianças de volta para a creche, ou as pequenas decisões, como a melhor forma de ver os amigos, há sempre algo pelo qual se discute“, explica a psicoterapeuta Brittany Bouffard.

A psicoterapeuta aconselha a tentarem abordar os diferentes pontos de vista com uma mente aberta em vez de julgar.

“Pode sentir-se extremamente preocupada e avessa ao risco para aumentar a sensação de segurança, e o seu parceiro pode estar ansioso para finalmente se socializar. Fale sobre as suas razões, medos e necessidades. Isso pode ajudar a esclarecer o ‘porquê’ para entender melhor as perspetivas um do outro”, refere.

“Não temos tempo para estar sozinhos e estamos a enlouquecer”

O conceito de espaço pessoal foi deitado fora durante a quarentena. Apesar de já ter terminado, muitos casais continuam a dormir, comer, trabalhar e relaxar em ambientes fechados. Para alguns, a união 24 horas por dia, sete dias por semana, reacendeu a faísca no relacionamento. Para outros, é fruto de frustração e ressentimento.

“Antes, a rotina típica da maioria dos casais, incluía tempo separados durante o dia para trabalho, escola ou outras responsabilidades”, afirma Amanda Baquero. “Agora que estamos a maior parte do tempo em casa, a partilhar o mesmo espaço, estamos a perder muito tempo longe um do outro“.

“Não podemos concordar se os nossos filhos devem voltar à escola ou fazer ensino à distância”

Os estudos a partir de casa têm sido difícil para as crianças e pais. As crianças sentem falta de estar na sala de aula e de ver os professores e amigos. Os pais querem que os filhos tenham as suas rotinas normais de volta, mas também devem pesar os riscos para a saúde.

O terapeuta Kurt Smith diz que “alguns pais optaram por manter os filhos completamente separados dos amigos e avós. Outros estão a ser seletivos e a reunir-se com familiares e amigos em quem confiam. Alguns decidiram deixar os filhos brincar com os filhos de ‘outros pais que pensam da mesma forma’. Quase nenhuma dessas decisões foi alcançada facilmente ou sem fortes discussões“, afirma.

“Não me sinto apoiada pelo meu parceiro”

Estamos a viver uma época extremamente stressante e as pessoas lidam com o stress de maneiras diferentes. Num relacionamento, um dos parceiros pode guardar o stress para ele próprio, enquanto o outro é mais expressivo sobre como se está a sentir.

“Como resultado, uma pessoa pode sentir que o parceiro está com a ‘cabeça na areia’ e evita falar, enquanto a outra pode sentir que o seu parceiro é ‘muito emocional’, constantemente à procura da atenção do outro para se acalmar” explica Abigail Makepeace.

Reconheça que não existe uma maneira certa de lidar com o medo e não há problema se o seu parceiro lidar com as coisas de maneira diferente. Considere também procurar apoio fora do seu relacionamento romântico.