“Os poderosos não estão acima da lei”, diz alegada vítima do príncipe André

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Virgina Giuffre à saída do tribunal [Fotografia: EPA]

Virginia Giuffre, alegada vítima de abuso sexual do príncipe André, disse que “os poderosos não estão acima da lei e devem ser responsabilizados”, congratulando-se com a decisão do não arquivamento do processo judicial contra o duque de York.

“O meu objetivo sempre foi mostrar que os ricos e poderosos não estão acima da lei e devem ser responsabilizados”, escreveu Virginia Giuffre no Twitter. A alegada vítima do príncipe André disse que só pretende “procurar justiça” contra aqueles que a magoaram e “tantas outras [vítimas]”.

Além de mostrar gratidão à sua “extraordinária equipa jurídica” (lidera pelo prestigiado advogado David Boies), Virginia Giuffre disse que se sente acompanhada: “Não estou a percorrer este caminho sozinha, mas junto de inúmeras sobreviventes de abuso e tráfico sexual”.

A mulher, que hoje tem 38 anos, sustentou que o príncipe André a abusou sexualmente quando tinha 17 pelo menos três vezes, em casas diferentes, que o magnata norte-americano Jeffrey Epstein (que morreu antes do julgamento) colocou à disposição do filho da rainha Isabel II.

André negou sempre as acusações e disse não conhecer Virginia Giuffre, apesar da imprensa ter divulgado uma fotografia antiga em que aparece agarrado à cintura da então jovem. No fundo da fotografia pode ver-se a ex-companheira de Epstein, Ghislaine Maxwell, que foi considerada culpada em dezembro por tráfico sexual no tribunal federal de Manhattan e agora corre o risco de ser condenada a dezenas de anos de prisão por colaborar no aliciamento de menores para atividades sexuais.

O julgamento contra o príncipe André ainda não tem data agendada, enquanto crescem os rumores no Reino Unido de que o duque de York, que renunciou aos títulos militares na quinta-feira, poderia procurar um acordo extrajudicial para evitar a humilhação de um julgamento público.

No entanto, o advogado de Virginia Giuffre disse à televisão pública britânica BBC nos últimos dias que a sua cliente não está a procurar uma compensação financeira.”Um simples acordo financeiro não é algo que ela esteja interessada. Penso que o importante é que esta resolução [judicial] faça-lhe justiça e faça justiça à sua denuncia”, indicou.

Julgamento pode acontecer entre setembro e dezembro de 2022

O segundo filho da rainha Isabel II é acusado de violação por Virginia Giuffre, quando esta cidadã norte-americana tinha 17 anos, em 2001. A queixosa afirma ter sido apresentada ao membro da família real britânica por Jeffrey Epstein, milionário norte-americano acusado de crimes sexuais que se suicidou na prisão em 2019.

O príncipe André, de 61 anos, nega veementemente as acusações e qualquer comportamento impróprio, alegando que nunca se encontrou com a mulher em causa, e ainda pode recorrer da decisão do juiz de Nova Iorque, Lewis Kaplan, que esta semana negou provimento ao recurso.

Se todos os recursos forem negados e não houver acordo entre as partes, este julgamento poderá ser realizado entre setembro e dezembro de 2022. Virginia Giuffre, uma norte-americana de 38 anos que agora mora na Austrália, acusou André publicamente há vários anos, mas só no verão passado decidiu levar o caso a tribunal. Giuffre acusa o príncipe de ter abusado dela sexualmente três vezes em 2001, quando ela tinha 17 anos, em Londres, Nova Iorque e nas Ilhas Virgens Americanas.

Civis pedem retirada de Ducado a André

Representantes da sociedade civil de York, no norte de Inglaterra, pediram a retirada do título de duque daquela cidade ao príncipe André, acusado nos Estados Unidos de abuso sexual de menor e que recentemente renunciou aos títulos militares.

Entre as vozes críticas está a deputada trabalhista, Rachael Maskell, que através da rede social Twitter considerou “insustentável” que o segundo filho da rainha Isabel II continue a deter o título de duque de York, como é reconhecido habitualmente. “É insustentável que o título de duque de York continue a pertencer-lhe por mais um dia – esta associação com York deve terminar”, salientou Maskell, deputada eleita por aquela região.

Para a deputada trabalhista, as suspeitas sobre o príncipe André, acusado de violação por Virginia Giuffre, quando esta cidadã norte-americana tinha 17 anos, em 2001, são “demasiado sérias para ter aquele privilégio [de ser duque de York]”.Maskell vincou ainda que parte das funções públicas do duque implicam cooperar com entidades sobre questões como a violência sexual.

Também o vereador da câmara municipal daquela cidade, Darryl Smalley, defendeu a retirada do título de duque de York, um dos mais prestigiados da nobreza inglesa e que é tradicionalmente atribuído ao segundo filho homem de um monarca. O político do Partido Liberal Democrata lembrou que embora o duque “permaneça inocente até prova em contrário”, o Palácio de Buckingham e o governo britânico “devem pesar as consequências das preocupantes acusações”.

“Esta conexão única de York com a coroa e a monarquia é uma parte importante do legado e da história da cidade e uma grande fonte de orgulho”, sublinhou, citado por um jornal local.

Os ‘media’ britânicos também noticiaram a especulação crescente de que o príncipe André tem sido isolado dentro da família real, à exceção da sua ex-mulher, Sarah Ferguson, de quem se divorciou há mais de um quarto de século. A própria ‘Fergie’ revelou recentemente, na televisão italiana, que continua “100% ao lado” do duque de York.

LUSA