Os tipos de mulheres que aderiram ao Estado Islâmico

Os pedidos de mulheres de vários países ocidentais que foram “ajudar” localmente o grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico para regressar a casa com os seus filhos está a preocupar o Ocidente, pelo fosso que abre entre segurança e questões humanitárias.

Para ajudar a compreender melhor o grau de ligação destas mulheres grupo extremista islâmico, o Centro Internacional para o Estudo do Extremismo Violento divulgou um estudo sobre as principais motivações que levaram centenas de mulheres ocidentais a deixar os seus países e partirem para a Síria ou para o Iraque com o objetivo de se juntarem ao ‘jihadista’ Estado Islâmico (EI) ou à Al-Qaida. A investigação categoriza essas mulheres em 10 grandes grupos, como pode ver na galeria acima, e explica também os papéis que desempenharam nos grupos onde foram acolhidas.

O estudo foi feito com base em mais de 100 entrevistas a pessoas que pertenceram ao EI, mas regressaram, fugiram ou estão presas, e visa perceber as razões para ajudar na prevenção e na reintegração.

As conclusões mostram que o EI, mas também a Al-Qaida, conseguiram atrair centenas de mulheres ocidentais para as suas fileiras – quer da Europa, quer do Canadá, da Austrália, dos Balcãs ou da América do Norte. De acordo com as estimativas, 13% (4.761) do total de 41.490 pessoas que viajaram para se juntar ao grupo Estado Islâmico eram mulheres, sendo que do total de pessoas que regressaram a casa (aproximadamente 17% ou 7.366), apenas 4% (256) são mulheres.

Muitas das mulheres que foram para a Síria e para o Iraque levaram já crianças com elas, refere o estudo, mas muitas outras foram à procura de casamento. Tanto umas como outras tiveram mais crianças enquanto estavam no EI. De acordo com um responsável iraquiano do Centro Internacional para o Estudo do Extremismo Violento, das 700 mulheres do EI que estão presas no Iraque, a maioria tem pelo menos três filhos.

Pelas entrevistas feitas a mulheres que conseguiram regressar, o Centro Internacional conclui ser claro que as mulheres enfrentaram mais dificuldades do que os homens para fugir do EI, já que raramente têm acesso a dinheiro, têm quase sempre de estar acompanhadas por um homem e podem facilmente tornar-se alvos sexuais dos contrabandistas que se ofereceram para as ajudar a atravessar o território dominado pelos ‘jihadistas’.

A análise refere ainda que a maioria das mulheres do EI não teve o mesmo treino de armas e lei islâmica que os homens nem tiveram de jurar fidelidade ao grupo.

De acordo com as respostas dadas nas entrevistas, as mulheres ocidentais foram sobretudo postas a trabalhar na ‘hisbah’, ou seja, na polícia da moralidade, ou ficaram dedicadas a recrutar outras pessoas através da Internet.

Muitas ficavam simplesmente em casa, ocupadas a criar filhos pequenos e algumas trabalharam como professoras, médicas, administrativas e um número muito reduzido como guerrilheiras.

De uma forma geral, os seus papéis profissionais eram estritamente femininos e viviam condicionadas pelo grupo. Durante a maior parte do tempo, as mulheres do EI eram mães e esposas e encorajadas a servir o califado através da procriação.

Nos recrutamentos que fez em todo o mundo, o EI passou sempre a imagem de que os homens que faziam parte do grupo eram super-masculinizados, sempre armados e em posições que imitavam os seus heróis e muito protetores das mulheres.

As mulheres, por seu lado, eram idealizadas como apoiantes e vítimas a precisar de ser salvas por homens “de verdade”, sobretudo de sociedades islamofóbicas.

A sexualidade também foi frequentemente usada como forma de seduzir tanto homens como mulheres para o grupo, com as mulheres a oferecerem-se como parceiras sexuais a homens que fossem para os locais para casar com elas.

O estudo inclui o relato de uma jornalista francesa que se fez passar por uma jovem mulher a ser seduzida pelo EI. Anna Erelle, pseudónimo da jornalista, relatou a sedução de que foi alvo na rede social Facebook por um guerrilheiro francês do grupo ‘jihadista’ que a contactou no próprio dia em que ela publicou um vídeo dele. Ele pediu-a em casamento, ofereceu-lhe riqueza, uma vida sexual picante e amor. A jornalista admitiu mesmo que se ela fosse de facto a mulher jovem e vulnerável que fingiu ser, ele teria parecido incrivelmente sedutor.

Várias mulheres do Reino Unido que foram para o EI referiram nas entrevistas ao Centro de Estudo do Extremismo Violento que apelidavam estes homens de ‘jihotties’ (“brasas da jihad”, em tradução livre) e foram motivadas pela aventura de partir para casar com um ‘bad Boy’ (mauzão) e com homens “de verdade”.

Fundado em 2015, o Centro Internacional para o Estudo do Extremismo Violento é responsável por fazer investigação e dar aconselhamento estratégico a líderes governamentais, a serviços secretos, de defesa, organizações internacionais, autoridades policiais e à sociedade civil em todo o mundo.

Delas com Lusa

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