Óscares: Passadeira recheada de cor e com Time’s Up ao peito

A 90ª cerimónia dos Óscares, ao contrário de gala de prémios como os Globos de Ouro ou os BAFTA, não tem dress code imposto como forma de luta contra o assédio sexual e discriminação laboral de género. Mantém, contudo, a forte tónica em torno destes crimes contra mulheres – e que vieram a público no último trimestre de 2017 – e que vão, seguramente, dominar a noite.

Como, aliás, começou por provar Patrick Stewart, o ator britânico que colocou o Time’s Up na lapela e surpreendeu a passadeira vermelha com a forma como escolheu para juntar a sua voz de protesto à de centenas de mulheres, atrizes, produtoras, figurinistas e tantas outras vítimas de assédio na indústria da sétima arte.

Ator britânico Patrick Stewart enverga o símbolo do movimento Time’s Up pin na lapela [Fotografia: Carlo Alegri/Reuters]

A passadeira vermelha da gala tem sido dominada por vestidos longos de cores fortes – rosas, vermelhos, azuis e verdes -, mas também por brancos. Decotes mais recatados, outros mais vertiginosos convivem com modelos florais. Confira na galeria acima – ainda em atualização – os primeiros looks da gala.

Ainda que o preto obrigatório tenha sido arredado do fundo vermelho do Dolby Theatre, em Los Angeles, e dos modelos escolhidos pelas atrizes, há, porém, discursos esperados e presenças que pretendem espicaçar consciências e que não ficam nos bastidores desta festa que premeia o melhor que se faz na sétima arte: entre elas o produtor Harvey Weinstein – acusado de múltiplos casos de assédio – que comparece ao evento em forma de estátua crítica e envergando um roupão.

O apresentador Ryan Seacrest deverá ter uma noite difícil, após mais de 12 anos a cobrir o evento. O apresentador nomeado pelo canal E para fazer a cobertura da chegada das estrelas poderá ficar sem interlocutores do outro lado do microfone, isto depois de ter sido acusado de assédio sexual por uma figurinista. A fundadora do movimento #MeToo, Tarana Burke, terá pedido, em entrevista à revista Variety, para que aquele rosto fosse afastado da cobertura noticiosa da gala. A atriz Jennifer Lawrence foi logo das primeiras a anunciar boicote às perguntas.

Recorde os candidatos à glória de uma noite

Este ano, dois canadianos de origem portuguesa podem sair com uma estatueta dourada: Luís Sequeira (Guarda-Roupa) e Nelson Ferreira (montagem de som) estão nomeados pelo filme “A forma da água”. O filme do mexicano Guillermo Del Toro lidera a corrida com 13 nomeações, nas principais categorias, de melhor filme, realização, interpretação – com Sally Hawkins, Octavia Spencer e Richard Jenkins.
Segue-se “Dunkirk”, de Christopher Nolan, com oito nomeações, sobretudo em categorias técnicas, e “Três cartazes à beira da estrada”, de Martin McDonagh, com sete nomeações, incluindo para melhor atriz principal pela interpretação de Frances McDormand.
Para o Óscar de melhor filme, além de “A forma da água”, “Dunkirk” e “Três cartazes à beira da estrada”, estão nomeados “Chama-me pelo teu nome”, “A hora mais negra”, “Foge”, “Lady Bird”, “Linha Fantasma”, “The Post”.
A categoria de melhor realização é disputada por Guillermo del Toro, Christopher Nolan, Greta Gerwig (“Lady Bird”), Jordan Peele (“Foge”) e Paul Thomas Anderson (“Linha Fantasma”).

Os momentos inéditos desta noite, numa cerimónia que conta com 90 anos

Eis uma estreia: Uma mulher nomeada, pela primeira vez, para o Óscar de melhor fotografia, com Rachel Morrison pelo filme “Mudbound – As lamas do Mississipi”. A chegada do filme sírio às nomeações para os Óscares também se reveste de uma importância pioneira e única. Falamos do documentário “Last men in Aleppo“, de Feras Fayyad e Soren Steen Jespersen, sobre os Capacetes Brancos, força civil síria que já salvou quase 100 mil pessoas no conflito na Síria e que foi objeto da curta documental vencedora do Óscar do ano passado para essa categoria.
O realizador Jordan Peele é o primeiro afroamericano a ser nomeado em simultâneo para melhor filme, realização e argumento original, com “Foge”.

Carla Bernardino com Lusa

Imagens de destaques: Reuters