Osteoporose: porque é que os ossos das mulheres se partem a partir dos 50?

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Maria Júlia tinha uma saúde de ferro aos 88 anos. Até que caiu nas escadas do prédio sem elevador. Foi para o hospital com uma anca fraturada e ficou para sempre acamada. Descobriu que tinha osteoporose e já pouco havia a fazer para reverter a situação, dado o estado avançado da doença. Já lá vão 11 anos. Continua a comparecer às festas de família, mas depende do transporte fornecido pelos bombeiros.

“Os ossos dela são como uma teia de aranha de tão frágeis”, diz-nos a filha, Antónia Martins, que também já apresenta sintomas da doença, mas está a ser medicada com estimuladores de formação óssea e vitamina D. “De resto, aos 99, ela tem mais vontade de viver que todos nós!”

Maria Júlia faz parte das 500.000 pessoas que em Portugal sofre de osteoporose. E, segundo o Instituto Português de Reumatologia, (IPR) integra o grupo de risco: é mulher caucasiana e de baixa estatura, tem mais de 50 anos e foi magrinha a vida inteira.

Mas em que consiste a osteoporose?

Trata-se de uma doença do esqueleto, que pode atingir qualquer parte do mesmo e conduz à diminuição da resistência dos nossos ossos.

Atinge sobretudo as mulheres porque a quantidade de massa óssea é adquirida, quase na totalidade, até aos 20 anos. A partir daí vai diminuindo de uma forma contínua em ambos os sexos e, no caso da mulher, de forma abrupta e rápida aa partir da menopausa.

Por outro lado, o osso masculino é um pouco diferente do feminino, devido ao ambiente hormonal durante a puberdade, além de ser normalmente de maiores dimensões.

Mas na verdade estamos todos sujeitos à doença já que, à medida que a idade avança, o processo contínuo e obrigatório de remodelação óssea se realiza de uma forma desequilibrada: isto é, o osso destruído é sempre superior ao osso formado, sempre mais fino e frágil.

“Daí que a osteoporose seja tão frequente depois dos 50 anos em que uma em cada três mulheres ou um em cada cinco homens vão ter uma fratura até ao fim da vida”, diz Ana Paula Barbosa, da Sociedade Portuguesa de Osteoporose e Doenças Ósseas Metabólicas, (SPODOM).

Mais: segundo dados deste organismo estima-se que ocorra uma fratura a cada três segundos, em algum lugar do planeta. As estatísticas dão conta que, em casos mais graves, 20% dos doentes que sofrem uma fratura no colo do fémur morrem no período de seis meses após o incidente, 40% perdem autonomia na sua mobilidade e 33% acabam por recorrer a lares ou outro tipo de dependência de terceiros.

Prevenir para não remediar

Existem formas para ajudar a travar o processo, embora não impeçam que ele ocorra. Tudo se resume ao estilo de vida: desde cedo há que manter uma alimentação adequada, suficiente absorção de cálcio e de vitamina D.

As crianças, por exemplo, necessitam de cerca de 600 a 800 mg de cálcio por dia. No caso dos adolescentes, a quantidade varia entre 900 e 1200 mg. Já nos adultos, a quantidade recomendada situa-se entre os 800 e 1000 mg por dia. Ou seja: não esquecer de ingerir produtos lácteos como o leite, o iogurte e o queijo; legumes verdes e cereais integrais.

Também se devem evitar bebidas carbogaseificadas e regimes alimentares com poucas proteínas pois estas são necessárias para assegurar a produção de colagéneo no osso.

Não menos importante é a prática de exercício físico. E não espere pelos 50 para começar. Segundo o IPR, a marcha, jogging ou exercícios com carga são perfeitos. Já a natação tem uma ação relaxante e melhora o desempenho muscular, mas não estimula o metabolismo ósseo.

Por fim, nada como passar regularmente algum tempo ao sol. Os raios solares asseguram a síntese da vitamina D no organismo, indispensável para uma boa absorção do cálcio nos intestinos.

Claro que evitar o consumo de substâncias como café, álcool e tabaco também só trará benefícios. “Estes cuidados não garantem, contudo, que a osteoporose deixe de se manifestar, dado que pode existir uma predisposição familiar”, alerta Eugénia Simões do IPR.

Depois há que estar alerta a sinais como fraturas frequentes após os 40 anos, sobretudo do punho, vértebras e bacia, além de dores prolongadas, diminuição da estatura e curvatura das costas. Se sofrer de doenças como artritre reumatoide, anorexia, reumatismo, perturbação da tiroide ou paratiroide ou epilepsia também deverá ser vigiada.

Diagnóstico e tratamento

Reconheceu alguns dos sintomas mencionados? Então o mais indicado será realizar exames complementares de densitometria óssea, radiografias e/ou análises sanguíneas. E, se as suspeitas se confirmarem, é necessário, na maioria das vezes, recorrer a medicamentos coadjuvados de cálcio e vitamina D.

A maioria vai inibir a reabsorção/perda ósseas; mas existem outros medicamentos que vão estimular a formação óssea. Claro que terão que ser discutidos com o seu médico. Só não vale seguir a mesma receita da melhor amiga ou vizinha!