Outros açúcares: melhores e mais saudáveis

Qualquer açúcar em excesso faz mal – e é tão fácil ser excessivo aqui, lembra-se do pastel de nata do pequeno-almoço? É açúcar suficiente para 3 dias. A usar açúcar use um o minimamente refinado possível e com o mínimo de índice glicémico. Se o puder dispensar completamente, melhor.

O açúcar é essencial, sim é, para a nossa saúde e níveis de energia. Mas em valores mínimos, quase residuais quando comparados que aquilo que enfardamos diariamente. Porque não é só o meio pacotinho de açúcar com que religiosamente tempera a bica, pensando que agora é que vai ficar magra. É tudo aquilo que entra pela porta do cavalo: o açúcar no pão, na fruta (imenso! Então em algumas até assusta), nas batatas, nos iogurtes da moda, na maioria das coisas que despejamos de um frasco ou de um pacote, ou seja, de uma forma geral, em quase tudo.

Mas somos pessoas, não é? Agarradas ao açúcar, especialmente porque em tempo geológico o açúcar é uma droga recentíssima, e a humanidade só ultimamente sente os seus efeitos físicos e particular e mais recentemente os mentais, de forma grave e pandémica; de tal forma que em 2014 a Organização Mundial de Saúde cortou os 50 gramas diários recomendados para metade.

E tudo isto porque nunca como hoje esteve tão disponível e de forma tão barata o seu consumo. Senão faça as contas ao açúcar naqueles deliciosos hamburger+batatas fritas+refrigerante+gelado por apenas menos que 5 euros. Caiu-lhe a ficha? A mim, quando fiquei diabético e tive que fazer estas contas cada vez que mastigava, caiu.

Agora, cada um sabe de si e de suas artérias. Percebemos perfeitamente que desta chinela é fácil escorregar, e por isso trazemos-lhe outros açucares, menos perigosos, menos processados e por isso mais saudáveis.
Na sua maior parte não têm o nível de doçura a que estamos habituados, é certo, mas aqui como já sabemos não é a prática que faz a perfeição; novas práticas são boas novas para a sua saúde, e por vezes, quando o palato já passou pelo cold turkey, começamos a perceber como afinal aquele café melhora tanto com um mais saudável açúcar de coco. E daqui a dois meses, melhora tanto sem açúcar nenhum; podemos afinal dizer que estes são os outros açucares, os da ressaca do açúcar costumeiro.

Stevia
Esta planta é a exceção: consegue ser, na sua forma seca e moída, muito mais doce que o açúcar normal, entre 10 a 20 vezes. E na sua forma processada, um produto branco chamado esteviol, com a aparência de açúcar, branco e cristalizado, até 300 vezes mais doce.

Pertence à família dos crisântemos e como estes cresce como um arbusto até cerca de 80cm de altura, e é originária da América do Sul. Mas eu já a vi à venda num Pingo Doce, partilhando escaparate com o cebolinho e o manjericão. Pode comprá-la e usá-la logo, fresca, em saladas de fruta ou em chá. Faz também um excelente molho agridoce para acompanhar vários pratos orientais.

Sendo hipoglicémica, ou seja de baixo valor em glicose, é ideal para diabéticos e porque tem menos de meia caloria por 100 miligramas, é também ideal para toda a gente.

Não se lhe conhecem efeitos secundários contraproducentes e ao contrário do açúcar clássico, refinado e de cana, não ataca o esmalte dentário, bem pelo contrário; porque rica em vitamina C e em clorofila, trava o avanço das cáries.

Pode ser comprada em pó, líquida ou em comprimidos para adoçar bebidas, mas quase sempre nestes casos a stevia entra na composição numa percentagem relativamente baixa. Procure-a na descrição do pacote ou do frasco; quando a percentagem de esteviol – o composto doce da folha – chega a 30% já não é nada mau. Por isso, se se cruzar com ela, fresca, no escaparate do supermercado compre várias, neste caso compensa, e muito, ter a coisa a sério. A maior parte dos hortos tem-na envasada e não é difícil fazê-la medrar na varanda ou numa jardineira de janela: a Viplant vende-a a €1,62 cada pé com cerca de 15cm de altura. Se as coisas correrem bem pode depois secá-la em casa, idealmente na estação quente, inteira ou em ramos, num local à sombra e ventilado, pendurada por um fio de cabeça para baixo.

Xilitol
Este é um produto quase alquímico, um resumo, natural e concentrado, dos açucares encontrados em vários vegetais e frutas e mesmo em alguns cogumelos. A sua doçura é equiparável à da sacarose com a benesse de ter menos que metade das calorias desta. É tolerado por diabéticos e tem mesmo outras aplicações clínicas, como por exemplo a prevenção de cáries e uso reconhecido no tratamento da desordem do metabolismo de lípidos. Apresenta-se cristalizado, como o açúcar costumeiro, e pode regular a sua dosagem como se fora este, ao contrário da stevia, onde pode e deve ter uma mão bem mais leve. Falando agora apenas para diabéticos, o xilitol tem um índice glicémico de apenas 7. Bom não é? Especialmente se pensarmos que o açúcar do costume tem cerca de 60/70.

Açúcar de coco
Antes do paleio académico, digo-lhe já que depois de adoçar um café com açúcar de coco não mais usará seja o que for para o fazer. O seu aspecto, e sabor, lembram o do açúcar mascavado suave, mas tem apenas metade do índice glicémico deste. Não é o melhor para a saúde desta breve lista, mas é bem mais saudável que o de cana refinado, e de sabor quase idêntico, senão melhor.

É obtido pela extração das doces humidades das flores da palma dos coqueiros, que são depois aquecidas até formarem um espesso caramelo que depois de seco é triturado. Este processo ainda hoje em dia é na sua maior parte feito de forma artesanal no nosso exótico distante, por isso tenha em conta, quando o comprar, que a marca é séria e obedece a critérios de comércio justo e sustentável.

 

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