Pandemia, 37 mulheres, uma instalação que vende as almofadas para apoiar APAV

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[Fotografia: Captura ecrã/Make yourself at home/Marta Pedroso]

Dois sofás e 37 almofadas brancas, impressas com autorretratos de outras tantas mulheres durante o primeiro confinamento, devido à pandemia de covid-19, dão forma à instalação Make yourself at home, de Marta Pedroso e Francisco Leone.

A inaugurar esta sexta-feira, 4 de fevereiro, no ‘foyer’ da sala Luis Miguel Cintra e na janela do salão Bernardo Sassetti, no Teatro S. Luiz, em Lisboa, a instalação apoia a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, e materializa uma ideia do produtor Francisco Leone e da diretora de cena Marta Pedroso, que procuravam fazer uma espécie de diagnóstico do estado de espírito através do corpo, e reúne imagens de 37 mulheres, entre as quais a escritora Ana Margarida de Carvalho, a ‘rapper’ Capicua e as atrizes Custódia Gallego, Cláudia Jardim e Mariana Monteiro.

A todas foi pedida uma prova do seu corpo, que tanto podia ser algo de cariz mais evidente, mais explícito, ou simplesmente a nudez da pele, de um olhar ou de uma expressão.

Basicamente, a ideia de Francisco Leone e Marta Pedroso, logo em março de 2020, foi que cada imagem mostrasse uma espécie de “diagnóstico do estado de espírito através do corpo,” que depois seria complementada com versos de Cláudia Lucas Chéu, explicou a dramaturga e encenadora à agência Lusa.

Para que o trabalho não resultasse “numa coisa fragmentada”, Cláudia Lucas Chéu acabou por propor aos artistas “uma espécie de ‘puzzle'”, entre as imagens e as palavras, “que completasse um poema”.

Os poemas teriam de ser feitos em consequência do estado de espírito demonstrado pelas autorretratadas, seguindo “aquele terror inicial que todos tivemos naquele primeiro confinamento, em que muitos de nós fomos confrontados com uma solidão e com o nosso próprio corpo”, acrescentou Cláudia Lucas Chéu.

“Não foi assim há tanto tempo, mas, na realidade, naquela fase estávamos ainda mais ignorantes”, observou, acrescentando que, decorrido este tempo, “já nem sequer conseguimos muito bem perceber que emoção é que estava ali, mas a ideia foi de tentar captar esse momento”.

E porque a poesia é algo mais espontâneo, livre de quadros pré-definidos, e a previsibilidade de uma encomenda é “até uma coisa anti-natura ao nível da poesia”, a preocupação da dramaturga e encenadora na construção dos textos – na construção do poema, dos poemas – foi “ver que outras imagens lhe sugeriam” as que lhe estavam a ser propostas pelas diferentes mulheres.

“De que forma é que isso tinha algum sentido de reflexão, algum sentido de dialética, mais do que propriamente estar a mostrar a imagem que ali estava, porque pensei que ia ser muito pobre, não só para mim por fazer esse trabalho, mas depois no conjunto da escrita do projeto”, disse.

A escritora Ana Margarida de Carvalho, a ‘rapper’ Capicua, a fotógrafa Estelle Valente, a jornalista Fernanda Freitas, as atrizes Cláudia Jardim, Custódia Galego, Mariana Monteiro, Raquel Castro, e as próprias Cláudia Lucas Chéu e Marta Pedroso, do quadro do S. Luiz (que, nas horas vagas, também é DJ), contam-se entre as ‘auto-fotografadas’.

Todas as almofadas estão à venda na rede social Instagram, em makeyourselfathome20, e a receita vai reverter totalmente para a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV).

A instalação está patente esta sexta e sábado, 4 e 5 de fevereiro, no Teatro S. Luiz, em Lisboa, dias em que pode ser visitada das 18:00 às 19:00 e, no domingo, das 15:30 às 16:30. De 09 a 19 de fevereiro, pode ser vista das 17:00 às 18:00 e, no dia 20, das 14:00 às 15:00, assim como nos dias 03 a 05 de março (das 17:00 às 18:00), e no dia 6 de março, o último da mostra (das 14:00 às 15:00).