Pandemia pôs “mulheres e teens a deixaram de usar tantos filtros nas redes sociais”, diz Luísa Beirão

Luísa beirão
[Fotografia: Divulgação]

Aos 44 anos, Luísa Beirão alarga a sua área de atuação e influência e na moda. A manequim lançou uma marca de vestuário que junta linhas desportivas a toques de ousadia que quer tocar em vários públicos: dos jovens aos mais velhos, mulheres e homens. HIA, acrónimo de Here I Am (Aqui estou, em tradução literal), quer ser, segundo a manequim, “um manifesto de poder, de conforto, de quem somos e queremos ser no dia-a-dia e no futuro”.

À margem do lançamento, Luísa Beirão fala dos caminhos que estão reservados às manequins quando cai o pano sobre as passereles, a passagem do tempo, a pressão da eterna juventude e, claro, sobre o caso de Linda Evangelista, que ficou desfigurada num tratamento estético, tendo avançado para a tribunal contra a empresa que o fez. Uma conversa por escrito que não esquece os feitos da pandemia no universo da beleza e das mulheres.

Porque decidiu criar esta marca e quais as razões que justificam a escolha do nome?

Senti que não havia nenhum produto idêntico em Portugal, nenhuma marca que quisesse interagir como a HIA quer interagir com a população em geral. HERE I AM é um manifesto de poder, de conforto, de quem somos e queremos ser no dia-a-dia e no futuro. Uma das frases que a HIA usa é “because confidence is the beste thing you can wear” (Confiança é a melhor coisa que pode usar, em tradução literal)

Qual o público-alvo que pretende atingir?

A ideia é que todos possam usar, mulheres, teens, homens. Os vestidos estão pensados para as mulheres de qualquer idade, inclusive para teens. A minha filha, com 13 anos usa e fica linda. Os crop tops também favorecem todas as idades e as sweaters, são oversized, o que inclui os homens.

É precisamente a junção de duas peças tão básicas que faria sentido numa primeira fase da marca lançar. As cores dos slip dresses são ousadas, sim, mas fáceis de coordenar com qualquer outra côr, acessório ou peça.

De que forma é que quer ser distintiva face às demais marcas?

De todas as formas. A HIA não é apenas uma marca, é um statement, é uma forma liberdade, é uma marca que se distinguirá pelas certezas e qualidade de cada peça.

Será venda direta nas redes sociais ou há já parcerias com espaços físicos?

Na primeira fase apenas online, tenho recebido algumas propostas de parcerias para espaços físicos que estou a avaliar, mas no momento ficará online.

Uma vez manequim e tendo trabalhado no mundo da moda, quais as opções para uma manequim para lá da roupa? Para onde gostava de seguir?

Milhares de ideias, projetos sem fim! Uma vez que a marca já está lançada, o futuro é super-entusiasmante!

Como manequim e tendo em conta o caso de Linda Evangelista [que tem a sua imagem profundamente e para sempre alterada devido a um tratamento estético que não correu bem], como é lidar com a passagem do tempo quando a vida profissional se alicerça na beleza e na moda? Quais são as maiores exigências que são impostas a manequins e ex-manequins?

Desde muito cedo que a beleza está associada à moda, que a pressão de nos mantermos eternamente jovens acontece, mas temos de ter a clareza suficiente para nos respeitarmos enquanto pessoas e não cedermos a todo o tipo pressão. No meu caso, sempre tive esse discernimento.

O que deveria ser feito por parte da sociedade e por parte dos próprios manequins para evitar este tipo de pressões?

Desde há uns anos que as próprias agências de modelos já não aceitam trabalhar com miúdas com menos de 15 anos e se tiverem um peso inferior a X. Outra coisa que mudou nos últimos dois anos de covid-19 e deste confinamento, em todo o mundo, é que principalmente as mulheres e teens deixaram de usar tantos filtros nas redes sociais e começaram a expor-se de uma forma muito mais natural, a aceitarem que não faz mal não sermos/serem perfeitas, e melhor, a crítica baixou de tom. Isto foi sem dúvida uma das grandes mudanças.

Numa altura em que as marcas apostam cada vez mais na beleza de manequins e mulheres mais velhas e experientes, isto acaba por ajudar ou ser uma pressão ainda maior para as manequins? Em quê? Porquê?

Há idades para tudo, o exemplo que refere tem a ver precisamente com a resposta anterior. A aceitação pela nossa idade, pelas nossas rugas, pelo que fizemos, independentemente da área em nos inserimos, este fator realidade tem sido valioso para a projeção de muitas marcas.