Papa Francisco: “As mulheres resolvem as questões e resolvem bem”

Pope Francis leads the weekly General Audience at the Vatican
Papa Francisco [Fotografia: EPA/RICCARDO ANTIMIANI]

O Papa Francisco reconheceu esta sexta-feira, 10 de março, que “às vezes o celibato pode levar ao machismo” e destacou a necessidade de nomear mais mulheres para cargos de responsabilidade no Vaticano.

Numa entrevista concedida na sua residência, na Cidade do Vaticano, Itália, ao portal argentino Infobae por ocasião do décimo aniversário do seu pontificado, o Pontífice abordou a possibilidade de rever este estatuto dentro da Igreja e invocou também o papel das mulheres.

“O Conselho da Economia é composto por seis cardeais e seis leigos. Os leigos [eram] todos homens, claro. Teve de ser renovado e coloquei um homem e cinco mulheres (…). Em vez de colocar um vice-governador, coloquei uma vice-governadora [Raffaella Petrini], e ele [o governador, Fernando Berges] sente-se muito mais ajudado porque as mulheres resolvem as questões e resolvem bem”, admitiu o Papa.

“Elas têm outra metodologia. Elas têm um senso de tempo, de espera, de paciência, diferente do dos homens. Isso não diminui os homens, eles são apenas diferentes e têm de se complementar”, acrescentou.

O Papa Francisco manifestou-se disponível para rever o celibato no seio da Igreja Católica, por ser uma “receita temporária” da igreja ocidental. “Não há nenhuma contradição em que um padre se possa casar. O celibato na Igreja ocidental é uma prescrição temporária: Não sei se se resolve de uma forma ou de outra, mas é provisório nesse sentido”, disse o Papa Francisco.

Questionado sobre se a questão do celibato “poderia ser revista”, o chefe da Igreja católica respondeu “sim, sim”, acrescentando que muitos dos membros da Igreja do oriente, aqueles que o desejem, “são casados”.

“Na Igreja Católica há sacerdotes casados: Todo o rito oriental é casado. Todo. Aqui na Cúria temos um – hoje deparei-me com ele – que tem a sua esposa, o seu filho”, revelou Francisco.

Estas questões surgem numa altura de revelações de escândalos de abusos sexuais no seio da Igreja em todo o mundo — recentemente em Portugal uma comissão independente apontou centenas de casos após uma investigação — e num crescente debate sobre se este problema estará ou não relacionado com a obrigatoriedade de celibato na Igreja Católica.

Surge também após o eclodir, há cerca de três anos, de um processo sinodal na Alemanha, um fórum de diálogo que busca fórmulas para superar a crise que a Igreja Católica vive, abalada por escândalos de abuso sexual de menores.

Nos últimos meses foram avançadas propostas como o fim do celibato obrigatório ou também que as mulheres tenham acesso ao sacerdócio, bem como questões sobre a homossexualidade, o que está a causar um mal-estar no Vaticano e temores de uma rutura na Igreja alemã.

O Vaticano considerou no passado que “não seria lícito iniciar o fim do celibato nas dioceses antes de um acordo a nível da Igreja universal, de novas estruturas ou doutrinas oficiais, para evitar que representassem uma ferida para a comunhão eclesial e uma ameaça à unidade da Igreja”.

O Papa Francisco, de 86 anos, completará na próxima segunda-feira uma década à frente da Igreja Católica, período durante o qual concentrou os seus esforços na reforma da Santa Sé, tentando torná-la mais transparente e eficaz, apesar da oposição dos mais conservadores do Vaticano, escreve o Infobae.

com Lusa