Estudo: partilha de experiências ajuda mulheres a superar cancro

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A intervenção terapêutica em grupo pode trazer mudanças positivas na vida das mulheres que tiveram cancro da mama, revela um estudo divulgado esta quarta-feira, 16 de maio, e que defende a aplicação nos hospitais desta proposta baseada na partilha de experiências.

Segundo o estudo, o cancro da mama, compreendido como um acontecimento traumático, pode potenciar sintomas de Perturbação Pós-Stress Traumático. A investigação envolveu dois grupos, um dos quais foi alvo de intervenção terapêutica em grupo durante oito semanas com periodicidade semanal e teve como principal objetivo a promoção do crescimento pós-traumático.

Esta intervenção promove “um ambiente seguro, confortável, e estimulante para a expressão emocional e para a partilha de experiências relativas ao processo individual de doença de cada membro do grupo”, refere o estudo realizado em Portugal. Recorde-se que, por cá, 1500 mulheres morrem anualmente da doença e são detetados, em igual período, cerca de seis mil novos casos de cancro da mama.

“Há uma transformação psicológica e social”

Após a análise dos resultados, a investigadora concluiu que há mudanças positivas nas mulheres depois de terem tido cancro da mama e após esta intervenção. “Mais do que uma superação do cancro, ocorre uma transformação psicológica e social na vida de uma sobrevivente, que pode ser potenciada por intervenções como esta”, inclusive nos hospitais, disse Catarina Ramos.

A investigadora explicou que “as mulheres que participaram na intervenção tiveram mais crescimento”, o que significa que perceberam “o lado positivo do cancro, que existe”, passando a valorizar mais cada dia.

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“Ninguém está a valorizar o cancro, mas valorizam a forma de olhar a vida depois da doença. Conseguem até ver outras oportunidades, desenvolver outros projetos, dar mais valor a si próprias. Colocarem-se em primeiro lugar”, salientou.

Intervenção é positiva mas não chega

No entanto, os resultados mostram que “a intervenção não chega e que há outros fatores que podem potenciar esse crescimento, como por exemplo o suporte social”. Os utentes, os profissionais e os hospitais também perceberam a importância da intervenção e do crescimento pós-traumático, disse, defendendo que esta terapêutica pode ser desenvolvida nos hospitais, que ainda mantêm o foco “nos sintomas e nos aspetos negativos” da doença.

“Estas mulheres também precisam (…) de falar nesses aspetos positivos no local onde são tratadas, porque não descurando os aspetos negativos, se for encorajada esta vivência saudável da doença” os tratamentos podem tornar-se mais fáceis no dia-a-dia, sustentou Catarina Ramos.

O estudo envolveu 205 mulheres com cancro da mama não metastático do Centro de Mama do Hospital de São João, do Hospital de Santo António, ambos no Porto, do Hospital da Luz, Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, e do Movimento Vencer e Viver da Liga Portuguesa Contra o Cancro.

A investigação visou “promover o melhor ajustamento psicossocial à doença, o suporte social e maior expressão emocional”, disse à agência Lusa a investigadora Catarina Ramos, que vai receber hoje o Prémio ISPA 2018 por esta investigação, financiada pela Fundação para a Ciência e tecnologia (FCT).

CB com Lusa

Imagem de destaque: Shutterstock

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