Pedro Pedro fez o “contraponto” às regras e levou “a cor ao extremo”

“Normalmente, trabalho sempre nos contrapontos de duas coisas e a história começou com o filme ‘1984’ [baseado no livro homónimo de George Orwell], a norma, e a reflexão sobre o que é que nos está a acontecer, que são regras muito particulares aplicadas indiscriminadamente em tudo: no que é devemos comer, fazer, nos produtos, na maneira de vestir.” É assim que Pedro Pedro explica ao Delas.pt como se começou a desenhar a ideia para a coleção primavera/verão 2018, que apresentou, esta sexta-feira, 22 de setembro, na Milano Moda Donna, no âmbito da Semana da Moda de Milão, com o apoio do Portugal Fashion.

A partir daquele ponto de partida fez o contraponto e foi buscar a influência da música da década do título do livro de Orwell, a década de 1980, e “o início das raves, do desfazer tudo, de querer ser exuberante e de ser único”. Foi essa singularidade e um cunho próprio que procurou quando decidiu dar forma a estas reflexões na sua nova coleção primavera/verão. O resultado foi uma explosão de cores e um trabalho mais arrojado, e significativamente diferente do que fez no passado.

“Tento sempre fazer coisas que não sejam confortáveis para mim. O que tem graça fazer na coleção a seguir é tentar fazer com que o meu universo expanda para sítios para onde não é comum [ir]. Provavelmente, há cinco anos olharia para estas coisas e pensaria se seria capaz de fazer isto”. Por “isto” entende-se uma coleção assente em cores como o rosa choque, os amarelos, o verde lima ou os laranjas, juntando-os, por vezes, numa só peça, como se pôde ver nos coordenados de malha com padrões de riscas largas multicolores. “As cores são todas flúor, muito, muito fortes”, sublinha. A isso, acrescenta o designer, junta-se uma tendência já experimentada na coleção anterior, a de trabalhar os “materiais técnicos”, neste caso “os nilons, as poliamidas, os materiais que fazem barulho”. Pedro Pedro admite que quis apresentar propostas que surpreendessem quem assistisse ao desfile – e foram vários os elogios vindos do público e da imprensa presente.

Apesar disso, apostou em algumas peças mais suaves, introduzindo aqui novamente um contraponto, nesta caso aos materiais mais duros, patentes nas parcas de capuz ou nos coordenados de material impermeável. “[A coleção] também tem uma parte mais soft, de algodões de musselinas estampadas, mas a parte mais engraçada são os tricots.” No seu conjunto, a coleção acaba por revelar uma linha coerente, onde é, sem dúvida, a escolha das cores o grande elo de ligação entre materiais, cortes e texturas. “Eu queria mesmo que a cor fosse levada ao extremo”, sublinha. As peças seguem uma linha mais sportswear, em diferentes proporções, com os vestidos e camisolas de tricot a marcarem as silhuetas femininas, por contraponto (mais uma vez) aos blusões e casacos largos.
A passagem de Pedro Pedro por Milão teve também uma vertente mais comercial, com a apresentação da nova coleção num showroom na White Milano, dedicado a vários designers portugueses – Katty Xiomara, Luis Buchinho, Pé de Chumbo e Carla Pontes foram os outros portugueses com coleções expostas em Milão. A marca Pedro Pedro tem, para já, em Espanha o seu principal mercado. Aos poucos começa a chegar a outras paragens. Itália e China são as mais recentes.

Ana Tomás, em Milão