É mais difícil perder peso aos 40 do que aos 20 anos?

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Sérgio Veloso é o médico que ajudou a jornalista Rita Machado a ficar mais em forma do que nunca aos 44 anos. A jornalista não perdeu todo o peso que pretendia mas alcançou perímetros muito mais estreitos do que os que tinha. Nesta entrevista feita depois de atingir os resultados que são descritos no artigo da semana passada, pedimos-lhe que falasse com o especialista, licenciado em Biologia Celular e mestre em Biologia Humana pela Faculdade de Ciências de Lisboa, e pós graduado em Nutrição Clínica pelo ISCSEM, para explicar com se constrói um plano alimentar com um objetivo específico. A personalização parece ser a forma mais indicada para conseguir resultados.

Qual foi a estratégia utilizada para que aos 44 anos pudesse voltar à forma? Eu já fazia exercício e comia de forma considerada por muitos como saudável, mas havia ainda muito a fazer para atingir os objetivos. O que é que foi feito?

Existem obviamente estratégias individualizadas que apenas respeitam a situação em particular, mas tivemos um ajustamento do aporte calórico aos objetivos, um aumento da ingestão proteica comparavelmente ao anterior, insuficiente para o que se pretendia atingir, uma periodização nutricional de acordo com as exigências da atividade física. Mais do que uma mudança a nível de alimentos ingeridos, foi a forma e momentos em que foram distribuídos no dia.

É mais difícil perder peso aos 40 que aos 20?

É natural que existam diferenças mas não são determinantes. O metabolismo é diferente, sim, devido a alterações hormonais que ocorrem e o impacto que o stress acumulado tem no nosso organismo.

Pode comentar as medições do dia 1, 4 semanas e 8 semanas?

A progressão foi bastante positiva e constante, dentro do esperado tendo em consideração uma ou outra escapadela ao regime espectável a quem não faz do fitness vida.

Como fisiologista também deu contributos no treino e falou com o meu personal trainer, recomendando mais exercícios (de peso). É recomendável este trabalho em conjunto?

Não faz sentido de outra forma. Os resultados são uma sinergia indissociável entre o treino e a nutrição. Não só houve contributos da minha parte relativamente às necessidades de treino de acordo com os objetivos e perfil, como o próprio programa tem em consideração as exigências específicas e individuais da atividade física.

Afinal, os hidratos comem-se antes do treino ou depois? E a proteína? Há regras para todos os indivíduos ou só mesmo caso a caso, em função do objetivo e do ratio ingestão/gasto calórico?

Não existem regras que se apliquem a todos. A proteína deverá ser fracionada ao longo do dia até atingir a quantidade desejada. Os hidratos de carbono têm essencialmente uma função energética e de glicoregulação, e devem ser distribuídos de acordo. Mas que fique claro que, para perda de peso, o fator de maior impacto é o déficit calórico.

Qual o papel dos líquidos? Nos seus planos recomendou vários chás…

A hidratação é importante para um metabolismo saudável e a sede é um stress fisiológico que queremos evitar. Alguns chás/infusões contêm fitoquímicos com ações específicas e que poderão ser recomendados em certos contextos. No entanto também é importante conhecer as suas interações para evitar efeitos menos positivos.

Suplementação: foram dados vários suplementos (Ómega 3, Magnésio Citrato,) e um anti-inflamatório (Ananase), com que objetivos?

A recomendação a nível de suplementos é muito individualizada e não deve ser tomada como geral. A escolha teve em consideração o diagnóstico inicial que foi feito.

A sensação que tive ao longo destas 8 semanas foi que comia várias vezes proteína, nas refeições (sobretudo ovos, peixe e carne) e fora dela (as bebíveis, no meu caso as vegan). É mesmo um passo essencial para quem quer perder gordura e ganhar músculo? É uma estratégia pontual ou a longo prazo?

Uma estratégia a longo prazo, até numa perspectiva de manutenção. A proteína desempenha um papel importante quer a nível da construção e manutenção muscular, como da própria saciedade ao longo do dia.

Por falar nisso, imagino que muitas pessoas, nomeadamente mulheres, entrem no seu consultório a dizer que não querem ficar musculadas. Mas a verdade é que a partir de uma certa idade é importante aumentar a massa muscular. Pode explicar porquê?

É um medo infundado e sem sentido. Não é fácil ganhar massa muscular a esse ponto, nem para um homem quanto mais para uma mulher cujo ambiente hormonal não é tão favorável. No entanto o músculo é uma garantia de saúde metabólica que todas deveriam ambicionar ter e tratar.

A altura do ciclo menstrual afeta mesmo o apetite? Porque as duas semanas mais difíceis que tive foram antes do período…

Bastante. As flutuações hormonais desse período alteram a neuroquímica do cérebro, aumentando o apetite e em particular a vontade de açúcar. Uma desensibilização dos receptores de dopamina e redução da serotonina que tornam mais complicado resistir aos cravings por certos alimentos mais ‘gratificantes’.

Da sua experiência, quanto é que a parte psicológica influencia no sucesso do plano?

É o aspeto central. O plano pode ser o melhor mas se não houver foco e disciplina, de nada serve. As tentações, e por vezes auto-sabotagem, são imensas e põe-nos constantemente à prova. Há que estabelecer prioridades e estar preparado para abdicar de certas coisas.

Em pacientes que precisam de mudar totalmente o estilo de vida a estratégia será outra, por onde se começa nestes casos?

Não sou conhecido pela minha benevolência e flexibilidade, nem por assumir grandes compromissos com o que considero fundamental para atingir certos objetivos. Se eles forem ambiciosos, como normalmente são, a estratégia estará de acordo. Não se fazem milagres e que ninguém espere que seja um caminho fácil. As mudanças podem ser feitas gradualmente mas terão de ser implementadas.

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Clínica Metabolic Edge (http://metabolicedge.pt)

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Texto de Rita Machado | Instagram: @ritamachado33

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