Perla Batalla recorda os donuts e o vinho francês de Cohen antes do concerto em Portugal

abrir perla cohen
[Fotografia: Divulgação]

Em apenas uma década de trabalho em conjunto, em palco e em ensaios, Perla Batalla conquistou a amizade de Leonard Cohen, a eterna voz melancólica que se calou para sempre em 2016, transformou-o em seu mentor e recorda-o agora em concertos.

Agora, cantora de origem mexicana e argentina traz o repertório do poeta, do compositor e do homem de imaculado aprumo que nasceu de “fato completo” – como revelou recentemente a biografia da autoria de Silvye Simons – de novo à memória e aos palcos.

Em House of Cohen – As músicas de Leonard Cohen, a cantora faz um tributo pessoal e reinterpreta os clássicos do ‘poeta da melancolia’ e vai fazê-lo em Portugal, no Casino Estoril, a 4 de dezembro.

Ao Delas.pt, Batalla recorda os tempos em que conviveu de muito perto com o compositor, que a apoiou no lançamento do seu primeiro disco, Bird on The Wire, de 2007. Uma conversa por escrito e antes de subir ao palco com temas mais humorísticos e menos conhecidos dos mais jovens.

Três anos após o desaparecimento de Leonard Cohen, que tipo das emoções nota que estão a mudar cada vez que interpreta o cantor e compositor?

Aprendi que o luto não é algo que se supere. E não é preto e branco. O luto é complicado e vale a pena conhecer. Torna-se parte da vida, torna-se um tipo de amizade entre si própria e a profunda tristeza. Como na música Good Morning Heartache, Bille Holiday disse que basta sentar-se com ela e agradecer a conversa. E se o fizer, pode ser muito bonito. Eu acredito que minha arte é especialmente enformada por todos os sentimentos difíceis.

Perla batalla Leonard Cohen House of cohen

 

 

Que tipo de reações tem vindo a receber do público? Ele também está mudado ao fim destes três anos. Em quê?

A reação tem sido incrível! Estar vulnerável é assustador, mas o público tem sido, até agora, muito carinhoso comigo nesta jornada. Muito frequentemente, com House of Cohen há emoção palpável nas salas. Os fãs de Leonard têm uma ligação profunda com o trabalho e eu alimento-me disso. Eu não faço um “show”. Levanto-me e tento ser sincera, para dizer a verdade. A verdade pode ser doce ou dolorosa, ou ambas. Como artista, a honestidade é sempre o meu objetivo.

Como descreve a década de trabalho com Leonard Cohen?

Quando chegávamos a uma nova cidade, Leonard e eu gostávamos de caminhar juntos, rapidamente, às vezes sem falar. Lembro-me que uma vez comprámos donuts e sentamo-nos a meio do percurso para os comer. Claro que, à medida que as pessoas passavam, ele oferecia donuts a estranhos famintos.

O que Leonard Cohen não fez, mas gostaria de ter feito?

Ele fez tudo o que sempre quis. Mas, é claro, como budista praticante, não queria nada.

Quais eram rituais dele em palco, que tipo de exigências costumava fazer aos músicos?

Nas primeiras tournées, ele pediu ao meu marido, Claud, que fosse procurar uma certa casta de Bordeaux para ser disponibilizada nos bastidores. (Chateau Latour 1970). Ele era o anfitrião mais gentil: Se alguém aparecesse na sala verde, convidado ou não, Leonard levantava-se, servia um copo e recebia as pessoas como velhos amigos.

No futuro, vai continuar a trabalhar o legado de Cohen?

A minha missão é manter viva a música de Leonard Cohen. Uma vez, ele perguntou-me se eu poderia continuar a cantar as suas músicas dele, é isso que pretendo fazer. Continuarei a cantar Cohen enquanto respirar. As músicas dele agora fazem parte de mim.