Pia Klemp é capitã e já resgatou e salvou centenas de migrantes que atravessavam o Mediterrâneo em embarcações perigosas e inseguras. E se esta germânica é vista como salvadora por muitos, ela está a ser, ao mesmo tempo, acusada de favorecer a migração ilegal. Esta bióloga e ativista enfrenta agora uma acusação de uma pena de 20 anos de prisão em Itália e por favorecer aquela prática, a partir da Sicília.
As autoridades italianas acusam-na de ter abrigado e salvo pelo menos mil pessoas que tentavam entrar ilegalmente no território quando estava ao comando do navio Sea Watch III. Uma embarcação que, explica a Renascença, terá dado a mão a migrantes que chegaram a Portugal em março último. A acusação acrescenta ainda auxilio prestado por Pia Klemp como comandante de um segundo navio, o luventa.
Há já uma petição (redigida em alemão, inglês e francês) a correr na Internet em nome desta bióloga e ativista, de 35 anos, para pressionar o governo italiano a não prosseguir com esta ação. Um documento dirigido, entre outros, a Matteo Salvini, vicepresidente do Conselho de Ministros de Itália, Ministro do Interior e Secretário da Liga Nord,.
Até à hora de almoço desta sexta-feira, 14 de junho, a petição intitulada #FreePia somava 112 mil susbcritores, ao mesmo tempo que alerta para os perigos de um tempo que fazem lembrar o nazismo.
A luta no Tribunal Europeu
Em declarações ao jornal alemão Basler Zeitung, Kelmp explicou que admite prosseguir com o caso para o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, em Estrasburgo. As investigações à capitã começaram no verão de 2017, quando as autoridades intercetaram o navio luventa, tendo sido depois banido das águas costeiras pela Itália. Para a ativista, “o pior já aconteceu” até porque “as missões de salvamento no mar já foram criminalizadas”.
Pia Klemp não esconde a preocupação com este caso e lamenta que tenha de recorrer a poupanças e a donativos para fazer frente a “um espetáculo judicial de um ano”, estima a ativista ao jornal, gastando mais do que o que precisou para salvar migrantes. E se aponta baterias ao governo italiano, a bióloga fala em “demagogia” e olha para toda esta questão como um falhanço da União Europeia “nos seus valores: nos direitos humanos, no direito à vida, a aplicar asilo e no dever dos capitães em salvar todos os que estão em perigo no mar”.
Para lá da petição, o Bar Bla, em Bona, terra natal de Klemp, está a promover uma campanha de angariação de fundos que passa por doar 50 cêntimos por cada Pia Beer, cerveja que ganhou o nome da capitã do navio e antiga empregada deste bar.
Imagem de destaque: Paul Lovis Wagner/Sea Watch/Facebook
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