Plum Village: O sítio para aprender a parar o tempo

Vais pagar para estar calada e lavar pratos? Esta foi a pergunta da minha mãe antes de embarcar para Plum Village. Sim, aparentemente, eu e as 100 pessoas que estavam lá incluindo crianças abaixo dos 7 anos fizeram o mesmo.

Se há um sítio onde se pára o tempo e aprende a fazer tudo no momento presente, como manda a tradição budista, incluindo comer em silêncio, esse sítio chama-se Plum Village e está situado no sul de França.

Foi lá que comecei o ano a acordar às 5h30 ao som do gongo gigante. Fui meditar de pijama às 6h30 num salão com mais 100 pessoas. Depois de tomar o pequeno-almoço, caminhei durante uma hora em marcha lenta pelo meio da floresta.

Após almoçar em silêncio, com essas 100 pessoas, tinha meditação enquanto contribuía para a comunidade e grupos de partilha que tinham sido formados previamente. As luzes desligavam-se às 22h, a última meditação era por volta das 20h e o jantar já tinha sido servido há duas horas atrás.

Este é o resumo de uma semana de retiro espiritual no maior centro budista da Europa, fundado por Thich-nhat-hanh. Além de ser autor de mais de uma centena de livros na área do mindfulness – que pode ser traduzido por atenção plena -, Thai, como é chamado carinhosamente pelos monges e freiras, é artista e foi professor em várias universidades de renome.

Tudo é uma cerimónia, especialmente as refeições, dado que têm um formato muito especial. Depois da comida feita e colocada em buffet, o gongo toca. Toda a gente se coloca em fila e espera o toque do sino. É feita uma saudação e as pessoas retiram a sua comida calmamente. Depois de sentadas, esperam que todos os lugares estejam ocupados na sua mesa, voltam a fazer uma saudação e só depois começam a comer.

Para mim foi esgotante. Estava irritada porque tinha que esperar pelas pessoas, estavam todas a andar devagar e depois ainda tinha de ir lavar o meu prato.

Exato. Esta foi a aprendizagem. Quem nunca comeu à pressa em frente à televisão? Quem nunca deixou de comer porque não tinha tempo? Quem é que pensa de onde vem a comida? Geralmente do nosso frigorífico, certo?

Mais do que a aprendizagem por si só, é o treino e a prática diária constante de parar, agradecer e acima de tudo contribuir de alguma forma para o sítio onde estamos que torna esta experiência budista diferente.

Na Plum Village o sentido de comunidade é grande. Os miúdos têm liberdade total para brincarem. Não existem chaves nem trancas nas portas, a não ser da casa-de-banho. Tudo é uma partilha.

A Plum Village estende-se por três pequenas comunidades designadas de hamlets e que estão a cerca de 2km de distâncias uns dos outros.

A vida é simples para as freiras. Não têm telemóveis, nem televisões, têm cerca de 40 euros mensais para gastarem nas suas coisas e o domingo é dia de descanso.

A minha maior surpresa foi a quantidade de miúdos, na casa dos 4-7 anos, que comiam em silêncio, lavaram os seus próprios pratos e contavam que estavam a adorar.

Plum Village é o sítio onde temos tempo para ter tempo. O caos da vida diária obriga-nos a estar sempre a olhar para o que poderia ter sido ou para o que ainda não foi. Mas nunca, para o que é neste preciso momento.

Para quem se quiser aventurar aqui ficam algumas informações adicionais. Como chegar e custos:

Website: Plum Village (tem toda a informação mas resumidamente)

  • Como chegar: No Aeroporto de Bordéus apanhe o autocarro para Gare St. Jean (cerca de 1 hora – custo 1.80)
  • Da Gare st. Jean apanhe o comboio directo para St. Le Foy (cerca de 45 minutos e 17 euros)
  • Daí terá um táxi que fará o transporte até ao seu Hamlet (cerca de 10 euros)
  • Alojamento – os dormitórios rondam os 350€ por semana (com todas as refeições incluídas) e os quartos duplos cerca de 550€.

Jaqueline Silva