Pode alguém ser quase?

Catarina Pires
Catarina Pires

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou-se quase feminista. E eu, que às vezes sou picuinhas, fiquei na dúvida. Quase? Como pode ser-se quase feminista?

Comecemos pelo quase. Quase é uma palavra que transmite, como diria Assunção Esteves, “inconseguimento”. A pessoa quer, mas não consegue, morre na praia, falha o objetivo, não alcança a meta… Podia continuar, mas acho que já deu para perceber a ideia.

Passemos então ao feminista. É simples. A pessoa, mulher ou homem, defende a igualdade entre mulheres e homens.

É importante esclarecer que por igualdade não se entende mulheres iguais aos homens – nem tão pouco umas iguais às outras – mas apenas com os mesmos direitos, exatamente os mesmos, sem tirar nem pôr, sem discriminação em razão do género.

Claro que eu preferia não ter que ser feminista. Mas isso só seria possível num mundo onde não existisse discriminação de género, onde as mulheres não ganhassem menos que os homens só porque são mulheres, onde não fossem agredidas e violadas e mortas, só porque são mulheres, onde delas não se esperasse que chamassem a si a tarefa de cuidar da casa e dos filhos só porque são mulheres, onde não fossem impedidas de progredir na carreira e chegar aos lugares de topo só porque são mulheres… Podia continuar, mas acho que já deu para perceber a ideia.

A maior parte dos “ismos” e dos “istas” existem onde e quando existe injustiça, desigualdade, lutas a travar. Há muitas, não só em função do género, e por isso é que não sou só feminista, sou outras palavras acabadas em ista. Mas isso não vem agora ao caso.

Ao caso vem que ou se é feminista ou não se é feminista. Não se pode ser quase. E a minha pergunta é: como pode alguém, e neste alguém inclui-se o Presidente da República, não ser feminista num mundo e num país onde a igualdade de género não foi ainda conseguida de facto?