Polanski desiste de presidir aos prémios César após contestação em França

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[Fotogafia: Kacper Pempel/Reuters]

Afinal, Roman Polanski já não vai ser o presidente da 42ª edição dos prémios César, que decorre a 24 de fevereiro, na capital francesa. Os advogados do realizador anunciaram esta manhã, à agência noticiosa francesa AFP, que o cineasta já não vai participar na cerimónia devido à polémica – “injustificada”, consideram – que se instalou em torno da escolha para o papel. O realizador de O Pianista diz-se “profundamente triste” com os contornos que o caso, desencadeado por associações feministas, ganhou, e quer, com esta decisão, proteger a família.

As feministas francesas condenaram escolha de Roman Polanski, 83 anos, para a presidência da cerimónia dos óscares gauleses. Em causa está, de acordo com a organização Osez le Feminisme!, o facto de o realizador ter sido acusado de crime de abuso sexual e de a organização dos prémios ignorar esse histórico.

As ativistas francesas consideraram “vergonhosa” a decisão tomada pela Academia de Cinema, Artes e Tecnologia e convocaram as pessoas para a um protesto, a decorrer na quinta-feira, 26 de janeiro. E pediram mais: a organização apelou, nas redes sociais, para que fosse feito um boicote à transmissão do evento. Decorre já na plataforma Change.org uma petição com o intuito de destituir o presidente nomeado, e conta com mais de 61 mil e 700 subscritores.

“Estamos nauseadas”, afirmou Claire Serre-Combe à agência noticiosa francesa AFP. “Não podemos permitir que esta iniciativa prossiga”, afirma a porta-voz do grupo ativista.

“Tornar Polanski presidente revela um desprezo pelas vítimas de violação e agressão sexual. Dizem que ele é um grande realizador e que tudo isto é relativo, mas a qualidade do seu trabalho pouco ou nada vale quando confrontado com o crime que cometeu, com a fuga à justiça e com a sua recusa em assumir as responsabilidades”, considera Serre-Combe.

O ministro francês da Cultura, Aurelie Filippetti, veio a terreiro defender o cineasta e a escolha feita pela organização dos prémios. “Ele é um grande realizador e deveria ser permitido que presidisse à cerimónia”. E prossegue:

“Trata-se de um caso que teve lugar há 40 anos. Não podemos passar a vida a trazer este caso à discussão cada vez que falamos sobre ele. É apenas uma cerimónia de entrega de prémios e não devemos dar mais importância do que o que ela tem”, respondeu o socialista à rádio pública francesa.

Um dos filmes que se deverá destacar nesta edição dos Prémios César gira, precisamente, em torno de um caso de violação sexual, em que a protagonista se vinga subjugando o agressor ao prazer da vítima”. Elle, assim se intitula a película de Paul Verhoeven, ganhou o prémio de melhor filme estrangeiro na edição deste ano dos Globos de Ouro, que teve lugar a 8 de janeiro, em Los Angeles. A protagonista, Isabelle Huppert também viu reconhecido o seu desempenho com o galardão de melhor atriz.

Recorde-se que os Estados Unidos da América tem pedido a extradição do realizador de “Chinatown” e de Rosemary’s Baby” há mais de quatro décadas e para o julgamento de uma violação de uma adolescente de 13 anos, que terá sido drogada. Estávamos, então, em Los Angeles, em 1977. Em dezembro último, o cineasta franco-polaco venceu mais uma batalha em tribunal, na Polónia, ao ver anulado mais um pedido de extradição: “Finalmente sinto que estou a salvo no meu próprio país”, declarou à imprensa.

Em 2009, Polanski esteve dez meses em prisão domiciliária, na Suíça, na sequência de um pedido de extradição pedido pelos EUA. Uma medida de coação que terminou após as autoridades terem rejeitado o pedido. Roman Polanski tinha 43 anos à data do crime. Um ano depois, na barra do tribunal, o cineasta declarava-se culpado, mas em vésperas de cumprir a sentença, fugia para França.

Imagem de destaque: Kacper Pempel/Reuters