Mulheres catalãs oferecem cravos à polícia espanhola

A tensão na Catalunha aumenta e algumas imagens já mostram feridos apesar da resistência civil estar a ser, na sua maioria, pacífica. As imagens captadas pela agência Reuters e pelos jornais espanhóis revelam pessoas deitadas no chão em protesto e muitas flores, curiosamente cravos (símbolo da liberdade portuguesa), que enfeitam mãos e lapelas e em alguns casos são oferecidos à Polícia.

Os catalães apoiantes da independência da região estão hoje a tentar votar num referendo suspenso no início do mês pelo Tribunal Constitucional espanhol e as autoridades de Madrid a tentarem impedir a realização da consulta popular com milhares de agentes da Polícia Nacional e Guardia Civil na rua.

As escolas destinadas às votações foram ocupadas por independentistas que permaneceram nas instalações até puderem votar, apesar das ordens madrilenas para que os locais fossem evacuados até às 6h de hoje. No entanto, as regras não foram cumpridas em todos os lugares, já que os Mossos d’Esquadra em alguns locais se limitaram a registar a concentração popular, saindo sob aplausos da população. Atitude que lhes valeu críticas do Governo Central que acusou a Polícia Catalã de parcialidade, ainda que tenham sido encerrados vários colégios.

“Estamos na rua a trabalhar para dar cumprimento à ordem do Tribunal Superior de Justiça Catalã, com proporcionalidade e adequando-nos a cada situação para garantir a segurança”, escreveu a polícia catalã na sua conta da rede de mensagens Twitter.

A mensagem foi publicada cerca das 10:00 locais (09:00 em Lisboa) depois de o delegado do Governo central, Enric Millo, ter acusado os ‘Mossos d’Esquadra’ de terem deixado “sobrepor questões políticas” na atuação daquela força policial, obrigando Madrid a ordenar a atuação das autoridades nacionais: Polícia Nacional e Guardia Civil.

“Vimo-nos obrigados a fazer o que não queríamos fazer”, disse Enric Millo.

A Polícia Nacional e a Guardia Civil protagonizaram momentos de tensão ao tentar impedir o referendo, tendo mesmo ocupado o pavilhão desportivo da escola em Girona onde deveria votar o líder da ‘Generalitat’, Carles Puigdemont, e detido vários manifestantes.

Os opositores à independência, que os estudos de opinião indicam serem maioritários, não participaram na campanha eleitoral nem irão votar, para não darem credibilidade a uma consulta que o Estado espanhol considera ser ilegal.

O Tribunal Constitucional espanhol suspendeu no início de setembro, como medida cautelar, todas as leis regionais aprovadas pelo parlamento e pelo Governo da Catalunha que davam cobertura legal ao referendo de autodeterminação convocado para hoje.

Os partidos separatistas têm uma maioria de deputados no parlamento regional da Catalunha desde setembro de 2015, o que lhes deu a força necessária, em 2016, para declararem que iriam organizar este ano um referendo sobre a independência, mesmo sem o acordo de Madrid.
Margarida Brito Paes com Lusa