‘Ponto do marido’: prazer ou prisão?

O parto normal provoca profundas alterações nos órgãos genitais femininos e não são raras as vezes que existe um pequeno corte na zona da vulva para facilitar a saída do bebé. Uma solução controlada que evita, frequentemente, a margem para rasgões: mais imprevisíveis, mais arriscados e de recuperação mais difícil.

Quer num caso, quer noutro, a necessidade de haver pontos é inultrapassável, dando lugar a um final, que ganhou a expressão popular de ‘ponto do marido’. “Falamos do ponto extra dado nas episiotomias (incisão cirúrgica feita nos tecidos que circundam a vulva), que era uma forma de a vagina da mulher ficar mais apertada, dando assim mais prazer ao companheiro”, explica Soraia Coelho. Para a especialista em reabilitação pélvica e urinoginecologica há dez anos, esta prática “infelizmente ainda existe e é muito comum”.

Sexóloga Vânia Beliz [Fotografia: Artur Machado/Global Imagens]
Sexóloga Vânia Beliz [Fotografia: Artur Machado/Global Imagens]
Sem descurar a importância do prazer sexual, sobretudo depois de um processo tão dramático como um parto, a sexóloga Vânia Beliz considera que “este recurso não deve ser incentivado” porque, muitas vezes, “não traz gratificação para a mulher”. Sublinha até que “há muitos grupos feministas que consideram a prática uma violência contra as mulheres”.

Posicionando-se completamente contra esta solução, “o ponto vai fechar a entrada da vagina, o que na maior parte das vezes provoca dor e desconforto”. “Com a entrada da vagina mais apertada, isso não vai provocar mais prazer na mulher”, refere.

Beliz prefere antes falar alternativas esta escolha. “Há bolas vaginais, há fisioterapia para as disfunções sexuais femininas e para toda a zona do pavimento pélvico que podem e devem ser trabalhadas”.

Soraia Coelho alinha por esta opção. A terapeuta refere que “é preciso ver o porquê da lassidão vaginal, se se deve a uma fraqueza da musculatura do pavimento pélvico. Se se deve a um parto traumático para os órgãos, é preciso ver o que está a acontecer”. E lembra mesmo que a “cirurgia não é a primeira opção nestes casos”. A reabilitação do pavimento pélvico deve surgir numa primeira fase, e “só se esta falhar, é que se deve recorrer a cirurgia”.

Cirurgião plástico Luiz Toledo [Fotografia: Filipe Amorim/Global Imagens]
Cirurgião plástico Luiz Toledo [Fotografia: Filipe Amorim/Global Imagens]

E que procedimentos cirúrgicos existem? Luiz Toledo, médico cirurgião plástico, fala em “apertamento da vagina”, que “deve ser feita a nível de toda a parede vaginal, consertando todos os músculos dessa estrutura”.

Quanto às mulheres que tiveram filhos por cesariana, “os únicos problemas podem decorrer do envelhecimento”. “Não havendo um bebé por parto normal, a vagina vai estar mais preservada, há apenas a questão do envelhecimento, sobretudo, da região dos grandes lábios, perdendo um pouco da gordura vaginal”, refere o especialista.

Na galeria acima veja os hábitos que deve evitar e que prejudicam a sua saúde vaginal.

Imagem de destaque: Shutterstock

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