Por que é que o maior clube do mundo continua a não querer nada com mulheres?

Real Madrid Barcelona 2018

“Mais tarde ou mais cedo será inevitável um Real Madrid feminino”. Palavra do antigo jogador Michel, desafiado a manifestar-se sobre a criação de uma equipa de futebol feminino no ex-clube de Cristiano Ronaldo, e citado pelo diário desportivo As, que dá conta da sua participação nas jornadas sobre Lei e Desporto no Senado espanhol, uma das seis realizadas sob o mote “Propostas para um novo marco jurídico no desporto”.

É tão justo apontar que o Real é o maior clube do mundo como lembrar que se mantém isolado quando falamos de paridade dentro das quatro linhas. E como tal o seu cedo será sempre um pouco tarde de mais em relação aos pares. O clube presidido por Florentino Perez é um dos quatro emblemas espanhóis que continuam sem ter uma equipa feminina, realidade sublinhada ontem, 5 de novembro, pela moderadora María Escario, nessa sessão na Câmara Alta, interrogando-se se os que vestem de branco vão por fim alinhar no campeonato da igualdade de género.

Um alheamento que convoca no mínimo alguma perplexidade quando se apreciam os números à lupa. O mesmo As aplicou-se no trabalho de casa para mostrar como o desfecho deste desafio é claro como água e dispensa vídeo árbitro: o crescimento de 561% no número de licenças confirma o “boom definitivo do futebol feminino em Espanha”, segundo dados federativos referentes a 2002-2017, com um desenvolvimento amparado por sucessos recentes como os triunfos das seleções de sub-17, sub-19 ou sub-20.

Em junho de 2018, o El Confidencial fazia mesmo um balanço da realidade na Europa, para lá dessa cumplicidade com os também omissos Celta, Valladolid e Getafe, os únicos da LaLiga Santander sem plantel composto por mulheres. A publicação enumerava então alguns clubes de primeira linha dispostos a introduzir mudanças a partir da temporada seguinte: Milan, Roma e Manchester United, que tenta recuperar terreno face a precursores como Arsenal, Chelsea, City ou Liverpool, que levam anos de vantagem . Enquanto isso, rivais dos merengues como o Atlético de Madrid ou o Barcelona vão dominando no país vizinho e nas competições europeias com os seus plantéis femininos.

Os números são ainda mais gritantes quando se analisa o ranking masculino da UEFA relativo aos dez primeiros. Neste lote dos melhores entre os melhores, apenas dois resistem a este cenário. Ao Real Madrid juntam-se os alemães do Borussia Dortmund.

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