Porcelanas e ‘xicolates’. Como comia e bebia a corte portuguesa

Domina todos os preceitos da mesa? Imagina o que uma condessa levava no cesto de piquenique e para quantas pessoas dava o repasto? Faz ideia de como o chocolate fazia sucesso? Pois bem, prepare os sentidos para isto e muito mais.

O património gastronómico das cortes europeias é o grande destaque do programa de eventos que marca até outubro o Ano Europeu do Património Cultural, uma iniciativa do Parlamento Europeu e da Comissão Europeias, assinalada pela Associação das Residências Reais, e que se festeja em toda a Europa. Portugal também é convidado para esta refeição, com a romântica Sintra a concentrar atenções. Se ainda não apanhou nenhuma das mostras que se seguem, tem até ao começo de outubro para fazê-lo.

Sob o lema “Um Lugar à Mesa Real” são recuperadas tradições culinárias que podem ser vistas em diferentes espaços da vila. No Palácio Nacional da Pena, por exemplo, está patente até 8 de outubro, na Sala de Jantar, o projeto “Design, uma inovação à Mesa Real”, que recria toda uma atmosfera de época, transportando o visitante até ao século XIX. Faça o favor de demorar os olhos no mobiliário e objetos de mesa, duas das inovações que marcam esta fase, combinando funcionalidade e estética.

Já no Chalet da Condessa d’Edla, aproveite para ver “Um Lugar Longe da Mesa Real – O Cesto de Piquenique da Condessa D’ Edla”. A temporada convida a refeições no exterior dentro do espírito da cultura romântica? Pois bem, inspire-se nos hábitos da segunda mulher de D. Fernando II, nos passeios campestres e na cidade. Por esta altura, surgiram peças de transporte como os práticos cestos, que neste caso davam para servir seis pessoas, cabendo aqui um conjunto completo de refeição.

Se está entre os leitores mais gulosos, não deixe de visitar o Palácio Nacional de Queluz, mas nada de atacar a deliciosa mesa. “Beber chocolate, um hábito real” é o tema a explorar na Sala das Merendas dos Aposentos Privados, com a apresentação de diferentes objetos da coleção relacionados com o chocolate. Foi no final do século XVII que se popularizou um hábito que persiste até hoje, o de beber chocolate nas cortes europeias, notando-se o aparecimento de vários utensílios associados a esta rotina, como as chocolateiras em prata e porcelana. São por isso de observar, durante o reinado de D. Maria I, as referências à compra de “xicolate” para jantares, ceias e refrescos no Palácio de Queluz, destinados às mesas das “pessoas reais”, recorda a Parques de Sintra.

Porcelana chinesa de encomenda europeia? Serviços ingleses e franceses? Prata mexicana? Vidros portugueses e espanhóis. Sim, isto e muito mais. Na Sala de Jantar do mesmo monumento, faça ainda uma pausa em “O Ecletismo da mesa real”, a exposição que ilustra a variedade das proveniências e materiais dos objetos que tinham lugar na mesa real quando o palácio era habitado pela Rainha D. Carlota Joaquina.

Uma certa fruta pode estar na moda, mas olhe que tem história. No Jardim Botânico, ainda em Queluz, o “Ananás, a fruta real” guia-nos pela importância e exotismo do ananás nas coleções reais botânicas no século XVIII. Note-se que a família real não só costumava cultivar este fruto por aqui como as estufas do local produziam-no em quantidade suficiente para os banquetes da corte, por volta de 1774.

Já no Palácio Nacional de Sintra, estará patente até 7 de outubro, em parceria com o Palácio Nacional da Ajuda, a exposição “A Royal Lunch. A visita a Sintra da Rainha Alexandra do Reino Unido. 24 de março de 1905“. Foi nesse começo de século que a convidada da rainha D. Maria Pia, consorte de Eduardo VII, teve direito a usufruir dos requintados objetos de serviços de mesa, em prata, porcelana e cristal. Assista à reconstituição do ambiente decorativo da Sala das Pegas e confirme a sumptuosidade da mesa para receber a soberana britânica.

Enquanto exposições, percursos temáticos, ateliês e seminários, decorrem em todo o continente europeu, um dos momentos altos acontece a 8 de outubro no cenário do Palácio de Versalhes, que recebe uma refeição inspirada em menus históricos, num tributo à “haute cuisine”.

Por fim, em novembro, de novo em Portugal, o auditório do Palácio Nacional de Queluz receberá o colóquio “Um lugar à Mesa Real”, para ficar a saber tudo sobre os hábitos alimentares da Família Real, passando por tópicos como a migração e popularização de determinados alimentos, sem esquecer o protocolo à mesa.

Lisboa na Rua: 10 programas ao ar livre que não vai querer perder