PortugalFashion: o adeus aos desfiles marcado pela arte

Chegou ao fim mais uma edição do Portugal Fashion, depois de três dias de desfiles no Parque da Cidade, Porto. A despedida, no sábado, 24 de março, ficou marcada pelos desfiles de Nuno Baltazar e Diogo Miranda, o primeiro abriu o calendário do terceiro dia e o segundo encerrou o evento com chave de ouro.

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Na sua coleção #28 Studio, Baltazar – que desde março do ano passo numera as suas coleções, não lhes definindo nenhuma estação em específico e disponibilizando para venda peças logo após o desfile – apresentou propostas tendencialmente mais invernosas, com muitos casacos, mangas compridas, calças, cores escuras e malhas.

Com o universo de Paula Rego como ponto de partida para a criação, o desfile decorreu ao som de uma história narrada e do bater de uma máquina de escrever. Um ambiente obscuro e fantasioso que foi complementado de forma perfeita pelas perucas pretas onduladas e curtas, que faziam lembrar o cabelo de uma boneca.

As peças mais interessantes do desfile foram as de tule sobreposto a linho, escrito com as indicações de corte da peça e com as etiquetas cozidas no lado exterior. Também marcaram presença os fatos e blazers de inspiração masculina, as mangas volumosas, os metalizados e as cinturas marcadas. Uma coleção interessante, muito bem confecionada e que propõe uma elegância decadente sem perder a sofisticação.

O outro momento alto do dia foi protagonizado pelo desfile de Diogo Miranda, que encerrou esta edição do Portugal Fashion. O designer inspirou-se numa peça do candelabro que tem no seu estúdio e o resultado foi uma coleção repleta de volumes geométricos. “Inspirei-me num cristal que tenho no ateliê. Todos os cortes se inspiram nos facetados deste objeto. As saias são todas assimétricas para dar a ideia do cristal mas sem perder a feminilidade que é o ADN da marca”, explicou Diogo Miranda ao Delas.pt, nos bastidores do desfile.

Além das formas mais geométricas, pautadas por grandes assimetrias e volumes trabalhados nos ombros e ancas, Diogo apostou ainda na exploração de novos materiais como o veludo molhado com um fio de lurex “para dar a ideia do brilho destes cristais” e o tecido riscado, que o designer nunca tinha usado.

Diogo Miranda

O “D” de Diogo Miranda, que já se tornou numa assinatura do designer e que normalmente surge em peças mais de streetwear, aparece nesta coleção bordado à mão em lenços e num perfecto oversize metalizado. Por isso, foi a escolhida para encerrar o desfile. Uma coleção que é sobretudo pensada para momentos festivos, mas ainda assim com peças que se podem adaptar ao dia a dia. Mais uma vez, foram os casacos as peças que mais suspiros arrebataram.

Katty Xiomara levou para a passerelle os quadros de grandes dimensões de João Jass, o artista plástico que emprestou o seu estúdio para servir de cenário para as fotografias da campanha da coleção. A designer chegou a esta fonte de inspiração ao tentar encontrar uma palavra para interpretar o momento em que vivemos, o resultado deste exercício foi ‘abstrato‘, tendo por isso escolhido este momento particular da História de Arte.

“O abstrato é a palavra ideal para descrever aquilo que estamos a viver agora. Estamos a viver um momento de abstracionismo e de pensamento, não percebemos se as coisas que se dizem são verdade ou mentira, se o que vai acontecer a seguir no mundo pode ser grave, não se percebe se é algo iminente ou que vai demorar. Por isso, acho que vivemos um momento muito abstrato”, justificou.

Katty Xiomara

E prosseguiu: “A maneira como se vê a moda e a política está a mudar. Vivemos um momento de incerteza, antes a tradição das grandes casas era muito importante, neste momento tentamos encontrar um ponto de viragem, algo que seja diferente. Apesar de, na moda, o conceito de diferente está sempre rodeado de aspas, porque o nosso trabalhado é sempre construído em cima de acumular de histórias, não podemos fechar os olhos ao que está para trás.”

Na roupa proposta pela designer nascida em Caracas, Venezuela, este abstracionismo é encontrado em peças com “alguma desconstrução, assimetria, com recurso a coordenados que descaem”.

Quanto às silhuetas, Katty manteve a linha da coleção passada, com alguns elementos comuns às propostas feitas para primavera 2018. Falamos, claro, dos folhos verticais, dos decotes quadrados, das alças largas e da renda. A novidade é que “esta coleção tem um cheirinho aos anos 70”, que é dado pelos tons castanhos e laranja, pelos veludos, por sobreposições e pelas calças à boca-de-sino.

Luís Onofre

Luís Onofre celebra 18 anos de carreira e, para assinalar a data, foi buscar inspiração a vários temas que já tinha explorado noutras estações. As referências são tão díspares como o Rock e o Oeste, mas o resultado é uma coleção harmoniosa e coerente, apesar de ter propostas bastante distintas. Fivelas, pedrarias, pêlo e bordados são alguns dos detalhes de uma coleção em que as botas de cano muito alto e os botins foram os grandes protagonistas. Destaque ainda para as sombrinhas e para as mochilas de homem.

O terceiro e último dia de Portugal Fashion ficou ainda marcado pelos desfiles apresentados pelas marcas. Ana Sousa, Dielmar, Lion of Porches, Concreto, Ambitious, Fly London, J. Reinaldo, Nobrand, Rufel e Baron’s Cage completaram o calendário.

Imagem de destaque: PF/DR