Esta bebé vai viver até aos 90 anos

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Ser mulher e fazer 87 anos em Portugal pode ser uma realidade mais comum do que o que se pensa, afastando a surpresa e a raridade de quem vê alguém cruzar quase as nove décadas de existência. E esta pode vir a ser uma situação nada estranha para quem nascer a partir de 2030, segundo as conclusões do estudo apresentado esta terça-feira, 21 de fevereiro, pela revista de ciência médica The Lancet.

De acordo com a investigação, Portugal está entre os três países que deverá assistir a um maior aumento da esperança média de vida para o sexo feminino, uma contagem liderada pela Coreia do Sul e pela Eslovénia.

Refere o estudo que, em pouco menos de 15 anos, as mulheres à nascença “somem” 4,4 anos às médias atuais, que indicam hoje em dia uma longevidade a rondar os 83,23 anos, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) revelados em final do ano passado. Assim sendo, teremos mulheres nascidas a partir de 2030 a cruzar, com frequência, o século XXII e a completar os 87,6 anos de vida.

Voltando à análise, de referir que entre 2010 e as perspetivas traçadas para 2030, a longevidade das portuguesas é incrementada, colocando Portugal cinco posições à frente na lista dos países em que elas vivem mais (de 12º lugar em 2010 para 7º em 2030).


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Também os homens portugueses, de acordo com o mesmo estudo, deverão ter uma vida mais longa. Se em 2010 ocupavam o 22º lugar, em 2030 perspetiva-se uma subida na tabela para a 18ª posição. No primeiro lugar do “ranking” masculino da The Lancet está nas mãos da Coreia do Sul (84,1 anos). Australianos e suíços (com 84 anos) são os senhores que se seguem nesta tabela de longevidade e que analisou 35 países desenvolvidos.

Portuguesas vivem mais, mas com menos saúde

Se a esperança média de vida está a aumentar, a verdade é que aquele indicador não acompanha a qualidade de vida saudável. De acordo com os dados da Eurostat e da tabela Healthy Life Years, e atualizados em maio de 2016, as mulheres portuguesas perderam anos de vida saudável após a reforma, aos 65 anos, entre 2010 e 2014.

Evolução dos anos de vida saudável nos países europeus [Fonte: Eurostat/maio 2016]
Evolução dos anos de vida saudável nos países europeus [Fonte: Eurostat/maio 2016]

A Direção Geral da Saúde (DGS) atualizou, em 2015, o Plano Nacional de Saúde (PNS) para 2020, definindo metas que passavam pela redução da taxa de mortalidade prematura, abaixo dos 70 anos, para 20%. O mesmo documento pretende incrementar em 30% a esperança média de vida saudável aos 65 anos, fazendo baixar o risco de doenças não transmissíveis. O plano pretende também reforçar estratégias “promovam a saúde, através da minimização de fatores de risco”, entre eles, “o tabagismo, a obesidade, a ausência de atividade física e o álcool”.


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De acordo com o mesmo documento (que pode ser consultado aqui), “a esperança de vida saudável aos 65 anos é em Portugal, em 2012, de 9,9 anos para homens e de 9,0 anos para as mulheres (Eurostat), valor este inferior ao melhor valor dos países da União Europeia em 2011 de 13,9 anos para homens e de 15,2 anos para mulheres na Suécia”, lê-se no PNS.

O mesmo documento quer baixar o número de anos de vida maus, aumentar a idade de vida saudável em “12,9 anos para os homens e de 11,7 anos para mulheres” e definir “programas que foquem o grupo etário dos 50 – 60 anos”, “nomeadamente para a carga de doença relacionada com a incapacidade”.

Melhor qualidade de vida, piores condições materiais

Viver mais é bom? A resposta não é direta ou simples. Pode ser “sim”, numa primeira análise. Mas também pode ser: “Depende”, se olharmos para a qualidade de vida que essa longevidade possibilita.

Portanto, é preciso viver mais, mas também melhor. Porém, não é bem isso que se verifica em Portugal, em que a vida se faz cada vez com menos dinheiro, com maior vulnerabilidade económica e com pior trabalho e remuneração. Este é o traço feito pela Pordata e pelo Instituto Nacional de Estatística em 2015 e que, desde 2004, analisa não só as condições materiais de vida dos portugueses, como também o índice de qualidade de vida.

Mas vamos por partes. De acordo com aquele centro de estatística, os portugueses perderam quase 1/5 das suas condições materiais de vida em pouco mais de uma década. Se em 2004, ano do início da análise, o índice estava nos 100,0 (valor de referência para base do estudo), em 2015 esse valor tinha descido aos 87,6.

Neste capítulo, os portugueses perderam mais em trabalho e a remuneração do que em qualquer outro aspeto analisado, verificando-se uma queda de mais de ¼ nos seus rendimentos, ou seja, se em 2004 estava nos 100,0, em 2015 o valor tinha descido aos 73. Também a vulnerabilidade económica decresceu no mesmo período. Só o bem-estar económico incrementou cerca de oito pontos.

Já os índices de qualidade de vida em Portugal têm melhorado desde 2004, ano do início desta medição. No global, os valores estão hoje em 131,5, mais 31,5 do que no ano em que se iniciou a medição (e se tomou, também, por ponto de referência o valor de 100). Neste capítulo, inscrevem-se as análises de fatores como a saúde, o balanço vida-trabalho, a educação, conhecimento e competências e participação cívica e governação.

Todos eles têm crescido ao longo de mais de uma década. Porém, há um quinto fator apreciado neste capítulo que tem verificado uma tendência inversa, ou seja, o decréscimo. Se em 2004 se considerava que as relações sociais e bem-estar subjetivo estava a 100,0, em 2015, a Pordata vinca uma diminuição neste aspeto da vida, cifrando-o em 95,8. Recorde-se que em 2012, Portugal tinha assistido a uma inflexão em matéria de bem-estar geral, o que coincidiu com o auge da crise financeira que se verificou em Portugal.

Esperança média de vida quebra barreira dos 90 anos

De acordo com o estudo da revista The Lancet (cujo documento original pode ser consultado aqui), as mulheres sul-coreanas são quem deverá bater e ultrapassar o recorde de viver nove décadas (90,8), de acordo com a análise da esperança média de vida à nascença em 2030. As francesas seguem-se-lhe, estimando-se que comemorem 88,6 anos. Em terceiro lugar chegam as japonesas, que também deverão apagar as 88 velas no aniversário.

De acordo com os investigadores, este acréscimo na esperança média de vida acarreta grandes desafios em matéria de saúde, assistência social e acompanhamento em fim de vida. Para tal, será necessário traçar novas políticas que promovam o envelhecimento de qualidade e saudável, obrigando a rever também a idade da reforma.

“Até recentemente, na mudança do século, muitos investigadores acreditavam que a expectativa de vida nunca ultrapassaria os 90 anos”, disse o autor principal do estudo, o professor Majid Ezzati, do Imperial College de Londres.

O especialista citado pela Lusa realça a importância de novas políticas para apoiar a crescente população mais idosa e de modelos alternativos de cuidados, como cuidados domiciliário apoiados na tecnologia.

O estudo da The Lancet usou técnicas estatísticas emprestadas das previsões meteorológicas e desenvolveu 21 modelos para prever a esperança de vida (outras projeções usam apenas um modelo), combinando-os. Embora suba em todos os países, o aumento da esperança média de vida será menor na Macedónia, Bulgária, Japão e Estados Unidos para as mulheres, e na Macedónia, Grécia, Suécia e Estados Unidos para os homens.

Os Estados Unidos serão o país com menor crescimento da esperança média de vida à nascença, sendo que a esperança média de vida atual também já é das mais baixas dos países desenvolvidos.

O estudo também calculou quantos anos viveria uma pessoa com 65 anos em 2030 e considerou que as mulheres viveram mais 24 anos em 11 dos 35 países e os homens mais 20 anos em 22 países.

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