Portugueses revoltados com reality show “SuperNanny”

A SIC estreou este domingo, 14 de janeiro, “SuperNanny”, um novo reality show que leva uma psicóloga a casa de vários pais com crianças problemáticas, com o objetivo de impor disciplina. A ideia nasceu em 2004, no Reino Unido, mas depressa se estendeu a outros 20 países. Cá é conduzido pela psicóloga Teresa Paula Marques e o primeiro episódio, segundo dados provisórios, foi visto por um milhão e 50 mil pessoas.

link_meghanAssim que o programa terminou foram milhares os comentários reprovadores que se espalharam pelos redes sociais (pode ver alguns na galeria de imagens acima). A própria Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens (CNPDPCJ) emitiu, esta segunda-feira, um comunicado em que afirma que o programa viola vários direitos das crianças.

“Numa primeira análise efetuada ao conteúdo do programa, [a CNPDCJ] considera existir elevado risco de o programa violar os direitos das crianças, designadamente o direito à sua imagem, à reserva da sua vida privada e à sua intimidade. Trata-se de um conteúdo manifestamente contrário ao superior interesse da criança, podendo produzir efeitos nefastos na sua personalidade, imediatos ou a prazo”, pode ler-se no comunicado emitido pela instituição.

A CNPDPCJ refere também que, antes de o “SuperNanny” ser exibido já tinham recebido várias queixas relacionadas com as imagens promocionais que levaram a instituição a manifestar “junto da estação de televisão SIC a sua preocupação face a este tipo de formato e conteúdos, solicitando uma intervenção com vista à salvaguarda do superior interesse da criança.”

A polémica do “SuperNanny” noutros países

O formato deste reality show foi adaptado a vários países, mas os casos do Reino Unido, onde teve origem, e dos EUA são os mais polémicos. Alfie Kohn, um norte-americano autor de vários livros sobre educação – entre eles O Mito da Criança Mimada, O Mito dos Trabalhos de Casa e Parentalidade Incondicional – publicou no seu site, em 2005, um artigo onde analisa o “SuperNanny” nestes dois países.

“Esse tipo de programa eleva a arte de manipular os espetadores para um nível nunca antes imaginado. Para começar, a escolha de crianças incrivelmente ‘mal comportadas’ dá-nos um certo sentimento de sucesso: ‘Pelo menos os meus filhos – e a minha capacidade enquanto pai ou mãe – não são tão más!’. Indo direto ao ponto, essas famílias problemáticas fazem-nos torcer por soluções totalitárias. Qualquer coisa para acabar com o tumulto”, escreveu, na altura, Alfie Kohn.

Numa entrevista à revista Sábado antes de o programa estrear, Teresa Paula Marques referiu que esperava que o programa gerasse polémica. “Haverá pessoas que gostam e outras que não, por exemplo os mais permissivos vão discordar“, disse a psicóloga.

No texto que é recuperado sempre que uma versão deste reality show dá que falar, Alfie Kohn também critica a atitude das psicólogas que o conduzem.

“O programa usa uma fórmula: Jo Frost, a ama oficial e agora escritora que tem os seus livros nas listas dos mais vendidos, chega, observa, faz caretas, diz o óbvio, determina uma rotina com uma série de regras e punições. Os pais tropeçam no início, mas eventualmente começam a aplicar o sistema proposto. Tudo isso resulta em contentamento e paz. As limitações do formato do programa não têm tanta importância quanto as da estrela principal. A abordagem da senhora Frost para as crises familiares é incrivelmente simplista. (…) Em nenhum momento ela para e reflete sobre o grande dilema colocado por grande parte dos pais, entre a necessidade de trabalhar e cuidar de crianças ao mesmo tempo”, pode ler-se no site do autor especialista norte-americano.

O meu filho tem muita personalidade!