#PowerWoman Maria Conceição desafia-se para ajudar crianças pobres

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A portuguesa Maria Conceição inicia na, quarta-feira, 3 de janeiro, mais um desafio para angariação de fundos para uma causa solidária que a pode tornar na primeira mulher portuguesa a chegar ao polo sul. A filantropa, que em 2013 se tornou na primeira mulher portuguesa a alcançar o cume do monte Evereste, recebeu recentemente a confirmação oficial que somou o seu sétimo recorde mundial após ter completado seis triatlos Ironman em seis continentes diferentes em apenas 56 dias.

[Fotografia: JN]
O esforço para completar o desafio deixou lesionada durante vários meses a antiga assistente de bordo, mentora da Fundação Maria Cristina, que financia a educação de crianças pobres do Bangladesh.
Mas em setembro começou a planear uma nova campanha para o que apelida de “angariação de fundos radical” porque precisa do dinheiro para falta para pagar as propinas e refeições de 40 das 124 crianças que tem a cargo para começarem as aulas em janeiro numa escola em Dhaka. “Há pessoas que fazem desafios semelhantes e dizem que é para caridade, mas não é sempre verdade, geralmente fazem isso para realizar um sonho ou um desejo. Sinceramente, eu faço estas coisas para manter a Fundação, eu preciso de publicidade”, garantiu, em entrevista à agência Lusa por email.

Treinos diários de oito a 12 horas

Residente no Dubai há 12 anos, Maria Conceição confessa que “odeia” o frio e ainda recorda o sofrimento que passou durante a caminhada que fez em 2011 para atingir o polo norte. Desta vez, apesar de ainda vigorar o verão antártico, terá de enfrentar temperaturas extraordinariamente frias, agravadas pelos ventos fortes. A exposição por mais de 30 segundos a temperaturas destas podem resultar em queimaduras graves na pele e, em certas situações, à perda de dedos das mãos ou dos pés.

“As tempestades podem acontecer a qualquer momento e é nesta altura que se torna mesmo perigoso, os ventos intensos podem derrubar tendas e não há onde nos refugiarmos. Felizmente, como é verão, as tempestades são menos frequentes, mas durante o inverno até os cientistas têm de sair das bases porque o clima é mesmo muito mau”, conta.
Para se preparar para a viagem, que implica estiradas diárias de oito a 12 horas, nas últimas semanas Maria Conceição treinou arrastando pneus na praia ou subindo escadarias superiores a 100 degraus com mochilas carregadas com dezenas de quilos.

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“O polo sul é principalmente um desafio de resistência, um longo caminho percorrido em esquis, puxando um trenó que pesa entre 30 e 50 quilos, que é quase o meu próprio peso. Durante a maior parte da expedição, a altitude será superior a 3.000 metros, o que tornará o esforço ainda mais difícil e o risco de contrair a doença da altitude”, descreveu.
Na quarta-feira, vai voar do Chile para o acampamento de base da Union Glacier, onde terá de aguardar as condições meteorológicas favoráveis para esquiar os 111 quilómetros até o Polo Sul, que espera atingir antes de 13 de janeiro.
Vai fazer o percurso integrada numa pequena expedição liderada por um explorador experiente da Antártica, que tratou das licenças necessárias, e a logística está a cargo de uma empresa, mas o resto depende de cada participante.

“Fui adoptada quando eu tinha dois anos”

Maria Conceição resolveu dificultar a tarefa e compromete-se também a subir os 4.892 metros do monte Vinson, o mais alto da região, o que espera fazer entre 16 e 19 de janeiro, juntamente com apenas alguns dos companheiros de expedição.
“Eu fui adoptada quando eu tinha dois anos e a minha mãe adotiva morreu quando eu tinha apenas nove anos, por isso eu quero garantir a educação dessas crianças assim que puder. Nunca sabe se me acontece alguma coisa e eu não posso continuar a ajudá-los”, desabafa.
Maria Conceição criou a Fundação Maria Cristina em 2005, inspirada na mulher que a acolheu em casa devido às dificuldades da mãe biológica, para ajudar crianças do Bangladesh a escapar ao trabalho ou casamento infantil.
Além de ajudar no ensino básico, a fundação financia os estudos secundários de forma a fortalecer as bases de futuras carreiras que possam providenciar o sustento das famílias e resgatá-las da pobreza.
É este objetivo que move esta portuguesa crescida em Vila Franca de Xira e que, mais do que o esforço físico ou o risco de morte, está nervosa com as condições gélidas da Antártica.
“Mentalmente sou forte e tenho treinado muito, mas o frio realmente tira-me fora da minha zona de conforto. Ter que enfrentar um frio extremo todas as manhãs e todos os dias durante três semanas será o verdadeiro desafio”, admite.

Imagem de destaque: Shutterstock