Pré-publicação: Empoderamento, desculpas e mamoplastia por Rachel Hollis

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[Fotografia: Facebook]

Campeão de vendas do jornal New York Times, o livro de empoderamento feminino Miúda, Pára de Arranjar Desculpas, da autoria de Rachel Hollis, com 37 anos, chega a Portugal a 28 de janeiro e pela mão da Lua de Papel, da editora Leya.

Numa obra em que esta celebridade da televisão norte-americana procura capacitar todas as mulheres, levando-as a vencer os seus receios, a autora conta episódios da sua vida pessoal e profissional em que falhou, mas também acertou, em que tentou e conseguiu, em que foi além das suas próprias convenções.

Rachel Hollis livro muita pára de arranjar desculpas
[Fotografia: Divulgação]
É num tom direto e intimista que Hollis – tem quatro filhos – revela episódios da maternidade, mas também como superou estes efeitos da mesma, falando do momento em que decidiu submeter-se a uma mamoplastia.

O livro que agora chega a Portugal (14.90€) apresenta-se em três partes. A primeira na qual são enumeradas as desculpas que mais recorrentemente são usadas pelas mulheres; Uma segunda em que a autora deixa recomendações sobre quais os comportamentos a adotar; E uma terceira em que Rachel deixa claras as competências a adquirir.

Nesta pré-publicação da obra, que pode começar por ler abaixo, irá encontrar um pequeno trecho de cada um daqueles capítulos, um exemplo dos múltiplos que a autora deixa a raparigas e mulheres.

“DESCULPA 7: Já foi feito

É uma daquelas coisas que todas fazemos, certo? Olhamos para a vida dela, ou o trabalho dela ou o Instagram dela e deixamos que o seu sucesso nos dissuada de fazer alguma coisa para nós mesmas. Deixamos de escrever aquele livro, abrir aquele negócio, fazer aquela aplicação, criar aquela organização sem fins lucrativos porque outra pessoa já o fez. Já foi feito.

Bem, é claro que sim. Mas, minha amiga, já não há nada para inventar. Beijar, namorar, casar, eyeliner com uma rabisca ao canto dos olhos, calças de ganga brancas, franja… francamente, tudo o que soa interessante, ou que queiras experimentar, já foi feito! Em qualquer outra situação não deixaríamos que isso nos desviasse do caminho, porque é que o faríamos agora que se trata de um objetivo importante.

Porque precisamos de uma desculpa.

Por favor, repara que não chamei a esta parte do livro “Obstáculos Legítimos a Contornar”. Chamei‐lhe “Pára com as Desculpas”. O facto de alguém já ter feito a coisa com que tu estás a sonhar não devia desanimar‐te: devia ser um sinal de que estás no caminho certo.

Olha para a Suzy com os seus naperons no Etsy – só prova que é gratificante e divertido fazer trabalhos artesanais e vendê‐los na Internet.

Como? A tua prima Emily já está a arrasar com a sua empresa de venda direta de joias? Oh, acho que isso significa que é realmente uma maneira incrível de construir uma comunidade e obter um rendimento suplementar!

Contudo, em vez de encarares o sucesso ou a criatividade de outras pessoas como uma coisa boa, como um sinal de que tentar obter algo mais para a tua vida tem valor, decides que é uma competição e que preferes não tentar, para o caso de não seres tão boa como ela. Claro, em parte tem a ver com o facto de sentires que não és suficientemente boa, mas tem também a ver com o jogo pouco saudável da comparação.

Uma das mensagens que ando sempre a receber das mulheres é: “Adorei o teu livro e adorava ser autora, mas nunca seria capaz de escrever como tu.” Ou: “Sempre quis falar em público, mas não sou tão boa como tu.”

Meninas, deixem de comparar o vosso princípio com o meu meio! Ou o de qualquer outra pessoa, já agora. O que estão a ler neste momento é o meu oitavo livro, e não digo que seja candidato a um prémio Pulitzer, mas está a anos‐luz do meu primeiro em termos de competência. Já alguma vez olharam para a minha página do Instagram e pensaram que era bonita? Recuem um par de anos – só para se divertirem – e vejam o aspeto que tinha quando eu ainda estava a tentar decidir qual seria o meu estilo pessoal ou como não parecer um robô nas fotos. Vão também dar uma vista de olhos ao meu blogue; algumas daquelas publicações iniciais são uma desgraça. Pensam que sei falar bem em público? Por favor, vão dar uma espreitadela aos meus vídeos mais antigos no YouTube, em que estou a dirigir‐me a grupos de mães e a falar no lar de terceira idade da minha zona (não estou a brincar!). Mantenho de propósito os conteúdos mais antigos nos meus feeds e no meu site, porque, se alguma noite caírem num buraco na Internet e encontrarem algum do meu trabalho inicial, quero que possam ver os progressos que fiz. Eu não acordei assim. E essa pessoa com quem te estás a comparar? Também não. Nem sequer tentas porque pensas que já existe, já não é nada de novo. Bem, é claro que sim. Mas não foste tu que o fizeste.

Há um belo provérbio chinês que diz: “A melhor altura para plantar uma árvore foi há 20 anos. A segunda melhor altura é agora.” Podes continuar a demover‐te da coisa que tinhas a esperança de fazer ou podes decidir que o teu sonho é mais forte do que a tua desculpa.

Não se trata de seres ou não capaz de fazer alguma coisa bem feita, porque quase tudo se pode aprender; trata‐se de seres ou não suficientemente humilde para seres medíocre durante o tempo que leva até te tornares melhor. A capacidade de escrever bem, de falar bem, de fazer fotografias, dançar ou o que seja – aprende‐se e aperfeiçoa‐se com o tempo. Mas nunca chegarás ao ponto de seres boa ou melhor, ou mesmo a melhor, se nem sequer pousares o pé na linha de partida. Não sabemos se és capaz de falar como eu ou de escrever como Brené Brown ou de tirar fotografias como Jenna Kutcher. Minha amiga, não podemos determinar o dia em que pisarás a meta, porque nem sequer te aventuras a participar na corrida!

Estás a dissuadir‐te de algo que nem sequer chegaste a tentar, porque pensas que nem sequer serás capaz de chegar aos calcanhares de outra pessoa qualquer que já fez o que tu querias fazer. No entanto, esta desculpa específica não tem a ver com a tua competência. Esta desculpa tem a ver com o teu medo. Como há uma variedade de maneiras de este medo se manifestar, está à vontade para te identificares com a que melhor te descreve e permite‐me que lance aqui umas bombas da verdade.

Tens medo de ser uma nódoa porque… nunca o fizeste. Permite‐me que te tire este receio imediatamente. Vais ser péssima. Todos os principiantes são. Porque, se fosses secretamente um prodígio na perseguição dos sonhos do teu coração, algum professor martirizado, mas dedicado, já o teria reconhecido há muito tempo. Todas nós vimos Mentes Perigosas. Se a Michelle Pfeiffer não viu o potencial em ti até agora, não vais ser perfeita quando saíres pelos portões da escola. Hurra! Isso significa que não há pressão nenhuma para seres perfeita agora e, portanto, podes divertir‐te e melhorar. O teu potencial para melhorares é exponencial.

Tens medo de ser uma nódoa porque… como falhas em tudo, porque é que agora seria diferente? Valha‐me não sei o quê! É mesmo assim que falas contigo? Mesmo? Em primeiro lugar, deixa‐te disso! Tu és linda e mereces coisas boas, e, se não acreditas nisso, ninguém acreditará. Em segundo lugar, vai buscar o meu livro anterior e lê a parte sobre as mentiras que te estão a prejudicar. Pensamentos desse tipo são arrasadores e falsos. Tens de começar pela maneira como falas contigo e pelas coisas que acreditas que mereces, antes de tentares alcançar um novo objetivo. Primeiro aprende a gostar de ti mesma e a dar valor a quem és; a seguir, procura mais.

Tens medo de ser uma nódoa porque… se nunca tentares, pelo menos ninguém – especialmente tu – pode confirmar que és mesmo uma nódoa. Para te estragar a surpresa: este tipo de pensamento não vem de uma pessoa falhada que não é boa em nada. Este tipo de pensamento vem de uma perfecionista. E, na verdade, é uma fraca desculpa. Há um enorme potencial dentro de ti, mas vais desbaratá‐lo, porque o facto de tentares poderá mostrar que não és tão boa como julgavas. Deixa de ser tão implacável contigo mesma! É como aquela cena na série Já Tocou, em que a Jessie se foi abaixo, tal era a pressão – dos trabalhos de casa, dos ensaios com a banda Hot Sundae. A Jessie Spano era uma perfecionista, mas, em vez de admitir que não conseguia fazer tudo viciou‐se em drogas e teve aquele célebre colapso nervoso quando cantava uma canção das Pointer Sisters. Não sejas a Jessie Spano. Se tentares alcançar o teu objetivo, provavelmente serás péssima por um minuto (relê o parágrafo sobre ser uma nódoa como principiante), mas depressa ultrapassarás essa fase. Trabalharás para melhorar, e nem sequer precisarás de cafeína para o fazer.

Olha, a ironia desta desculpa é que, mesmo que te forces a confrontá‐la, vais continuar a encontrá‐la para o resto da tua vida. Quando estamos no início da via do crescimento pessoal ou a caminho de atingir um objetivo, temos muitas vezes expectativas irrealistas sobre o que acontecerá quando “lá chegarmos”. Se simplesmente tiveres a coragem de fazer o que queres fazer, vais ficar imune à insegurança e à indecisão para o resto da vida. A realidade é que é provável que cada nova montanha que tentes escalar já tenha sido escalada por alguém antes de ti.

Cada. Nova. Montanha.

Isso significa que depois de ultrapassares este grande objetivo à tua frente – depois de chegares ao cume da montanha (estou mesmo a levar esta analogia ao extremo) – verás outra cordilheira à distância. De facto, compreenderás que a tua montanha era de facto apenas o sopé de algo maior e melhor. Os objetivos pessoais são infinitos… e viciantes. Assim que alcanças um objetivo, começas logo a pensar nos Próximos. Que outras coisas poderias fazer?

A resposta? Tudo o que te tenhas vontade de fazer e estejas decidida a fazer. Primeiro, no entanto, tens de conseguir ultrapassar esta batalha com a comparação. Porque, minha amiga, se não conseguires ultrapassar o receio de não o fazer tão bem como os outros, nunca terás a oportunidade de ser pioneira para outra pessoa.

Enquanto escrevo e reescrevo este livro, encontro‐me num processo de criar algo que muitas, muitas pessoas fizeram antes de mim. As minhas habilitações para assumir uma tarefa desta magnitude são zero. Daqui a um mês, um documentário que fizemos sobre a minha conferência de mulheres vai estrear em cinemas por toda a América do Norte. Quer dizer, afinal quem é que eu julgo que sou? Bem, vou‐te dizer quem não sou. Não sou realizadora de cinema nem pertenço à indústria cinematográfica, e quando iniciámos este projeto não fazia ideia de como conseguiríamos levá‐lo até ao fim. É a coisa mais substancial que já tentámos fazer, e viverá num espaço – nos cinemas e mais tarde na Internet – que está loucamente sobrelotado. Não só isso, mas até mesmo pessoas que são especialistas neste campo por vezes fracassam, portanto o que me levou a pensar que temos alguma hipótese? Bem, francamente, a hipótese de o projeto ter êxito não foi o que me levou a fazê‐lo. De facto, acredito que se me tivesse concentrado no facto de poder ser lucrativo, teria começado a ficar obcecada com a minha falta de qualificações para o empreender. Na verdade, o que me motivou para tentar trabalhar em algo tão fora das minhas competências foi, bem, foram vocês.

Quando estávamos a planear a nossa conferência no ano passado, recebi milhares de e‐mails e mensagens diretas de mulheres a dizerem que gostavam imenso de assistir à conferência Rise e o quanto significaria para elas ter uma oportunidade de estar na assistência. O problema não era o seu desejo de assistirem; o problema era a questão financeira. É dispendioso assistir a uma conferência, por causa das viagens e dos hotéis e do preço dos bilhetes, necessário para cobrir os custos do aluguer de um espaço assim tão grande. Muitas mulheres não tinham orçamento para isso, e eu levei o problema delas a peito. Ao longo de quase uma década, tenho andado a criar conteúdos e a disponibilizá‐los gratuitamente, e a ideia de que pudessem não ter acesso a algo em que acredito tão apaixonadamente causava‐me uma mágoa profunda. Passei meses a tentar descobrir uma maneira de levar a conferência e o poder de encetar o processo de crescimento pessoal às mulheres a um preço ao seu alcance. Um dia, numa qualquer videoconferência, ouvi falar de eventos no cinema, uma expressão rebuscada para dizer que um evento ao vivo (como um bailado ou um concerto do Justin Bieber) é passado nos cinemas durante um período limitado. Ora bolas, pensei. Se o Bieber pode fazer isto, tenho a certeza de que eu também posso! Fiz a mim mesma uma pergunta do tipo e se. E se fizéssemos um filme sobre o fim de semana Rise?

E se conseguíssemos arranjar um parceiro para nos ajudar a passá‐lo nos cinemas?

E se eu conseguisse dar à tribo a oportunidade de organizar uma saída de amigas na sua comunidade?

Espero que consigam compreender como esta ideia era louca. Não sabíamos fazer um filme nem como o levar para os cinemas, nem fazíamos ideia das centenas de passos, literalmente, entre uma coisa e a outra. Éramos o pior tipo de ignorantes – não tínhamos noção do que não sabíamos. Mas eu não perdi tempo a preocupar‐me com a nossa falta de conhecimentos, e, francamente, nem me passou pela cabeça tentar saber se já alguém o teria feito melhor ou como poderia ser recebido. Não estava a prestar atenção a nada fora de mim; estava focada no meu porquê. O meu porquê era poderoso; fazia‐me sentir suficientemente empenhada para tentar descobrir o meu como.

Se deres contigo preocupada com a ideia de que alguém já o fez, precisas de virar esse raciocínio ao contrário e pensar se esse facto é negativo. Se mais alguém já o fez, podes pesquisar e seguir‐lhe o exemplo e testar as tuas próprias teorias usando o mapa dessa pessoa como uma espécie de guia. Podes combinar o como dela com o teu porquê para criar algo de proporções épicas.

COMPORTAMENTO 1: Deixa de pedir permissão

OK, minhas amigas, sei que nem toda a gente se sente à vontade com a palavra feminista. Como já mencionei, feminista significa simplesmente que se acredita que os homens e as mulheres têm direitos iguais, mas compreendo que, para muitas mulheres, há todo um mundo de outros significados envolvidos na palavra, e não estou a tentar convencer‐vos de que não é assim. Só abordo a questão agora porque este capítulo vai dar a sensação de ser o discurso mais feminista que alguma vez ouviram de mim, e, se não é a vossa praia, vão ter o impulso de saltar este capítulo.

Não saltem este capítulo.

De maneira nenhuma tens de queimar o soutien nas ruas, mas és uma mulher crescida e deves a ti mesma o favor de considerar esta ideia. Este capítulo não é sobre homens versus mulheres e como deveríamos resolver a disparidade. Este capítulo é sobre o facto de a maior parte das culturas terem sido estabelecidas – desde os primórdios da civilização – como patriarcais. Tal significa que na maior parte das sociedades os homens têm mais poder (ou todo o poder) e, por consequência, mais controlo.

Não importa se acreditas que é isso bom ou mau, natural ou equivocado – miúda, tu é que sabes! – mas, para a tese deste livro e para perseguires os teus objetivos, é importante que pelo menos reflitas um pouco sobre como este tipo de estrutura pode afetar a tua crença em ti mesma. Afinal, se foste criada a acreditar que os homens é que sabem, que os homens são a voz da autoridade, quanta fé é que isso te ensina a teres em ti mesma e nas tuas opiniões como mulher?

Recentemente, numa viagem de negócios, parei numa livraria no aeroporto para comprar qualquer coisa para ler no avião. Acabei por escolher um livro incrível chamado Women & Power: A Manifesto [Mulheres e Poder: Um Manifesto]. É um estudo realmente interessante da história das mulheres a falarem publicamente. Não das mulheres a falarem, mas das mulheres a serem autorizadas (ou antes, não autorizadas) a falar em fóruns públicos. Devias lê‐lo. É um livro de história recheado de informações, bem escrito e que se pode ler em duas horas. Pessoalmente, nunca estudei o assunto e, por consequência, nunca me chamou a atenção o pouco acesso que em tempos era dado às mulheres para usarem as suas vozes ou fazerem ouvir as suas opiniões. Oh, é claro que já tinha lido tudo sobre as sufragistas e sobre como as mulheres lutaram arduamente pelo direito ao voto, mas nunca parara para refletir sobre a longa história de dor, tortura e até morte ao longo de centenas de anos até esse período.

Há uma parte incrível do livro que achei extremamente forte. Era a ideia de que, para a maioria de nós, a voz da autoridade nas nossas vidas ao crescermos foi masculina. E se ao chegarmos à idade adulta começámos a trabalhar ou casámos, é possível que a voz da autoridade continuasse a ser masculina. A pessoa na posição de comando, a pessoa que te dizia o que fazer, que te dizia o que estava certo e o que estava errado, era frequentemente um homem.

Se esse homem era bom e sábio e queria o melhor para ti, isso pode ter instilado em ti a crença de que ele é que sabia. Por si só, isso é bastante poderoso, mas, e se esse homem na tua vida não fosse bom? E se fosse sádico ou cruel? E se quisesse o melhor para ele, não para ti? Continuaria a estar numa posição de comando, continuaria a ser ele a tomar as decisões e a afetar a tua vida.

Há uma frase que se ouve há muito tempo: “Se não o vês, como sabes que podes sê‐lo?” Se o teu exemplo do que é “certo” foi sempre masculino, pensas que te ocorreria naturalmente que tu, como mulher, tens a autoridade para ser quem quiseres, o que quiseres? Pensas que facilmente acreditarias que tens o direito, o poder e a força para perseguir os teus sonhos só para ti mesma? Ou pensas que é possível que pedisses a permissão ou até mesmo a aprovação de outras pessoas, porque essa é a norma que conheces?

Fui criada com uma voz da autoridade que era masculina. O meu pai tem uma personalidade forte e muito assertiva, e exigia total obediência. Aprendi a viver na esperança da sua aprovação e no terror do seu desprazer. Depois, aos 19 anos, conheci o que viria a ser meu marido, e, embora ele fosse um tipo de homem muito diferente, olhando para trás reconheço que transferi os meus sentimentos em relação ao meu pai para o meu marido. Era totalmente codependente. Vivia cada dia para lhe agradar e o fazer feliz, e se ele estivesse infeliz – mesmo que não fosse por minha causa – sentia‐me paralisada. Invadia‐me uma enorme ansiedade até poder fazer ou dizer alguma coisa que alterasse o estado de espírito dele.

Lembro‐me que há cerca de sete anos ele tinha tido um dia mau no trabalho e parecia realmente frustrado quando chegou a casa. Entrei imediatamente em modo de “reparação”. Tipo, “Posso‐te arranjar uma bebida? Estás com fome? Queres ver um filme? Queres fazer sexo?” E ele olhou para mim de um modo muito firme, mas muito simpático e disse: “Rachel, estou maldisposto, mas vai passar. Não faz mal que eu esteja incomodado. Tu não tens de me fazer sentir melhor. Não é teu dever assegurares‐te de que eu me sinto feliz.”

C’um caraças! Minhas amigas… Foi uma autêntica revelação! Nunca me tinha passado pela cabeça que devia simplesmente deixá‐lo processar os seus sentimentos e que não era meu dever repará‐los. Fora criada numa casa onde fazíamos todos os possíveis por manter o papá contente, e não sabia que havia outras maneiras de ser.

A partir daí, quando comecei a compreender que o meu único objetivo na vida não era agradar a outras pessoas, comecei a refletir sobre coisas em que não tinha pensado até esse momento. Por exemplo, e se eu pudesse tomar decisões sozinha? E se deixasse de tomar todas as opções na minha vida com base no que agradaria mais aos outros? E se, por vezes, fizesse simplesmente o que queria fazer? E se deixasse de pedir permissão?

Nem sequer me apercebera de que o fazia mas, provavelmente, nos primeiros dez anos do meu casamento, eu pedira permissão ao Dave para fazer tudo. Não porque ele me dissesse para o fazer, mas porque era o que eu pensava que era normal, e trouxera‐o comigo para o meu casamento.

“Importas‐te que vá ao supermercado?”

“Importas‐te que vá jantar com a Mandy na quinta‐feira à noite?”

“Ei, tudo bem se eu comer a última bolacha que comprámos às escuteiras?”

Fiz isto anos antes de termos filhos, por isso não se tratava de um “Ei, quero fazer esta atividade, e vou precisar que tu olhes pelas crianças”. Isto era eu a precisar mesmo de autorização para fazer o que quer que fosse na minha vida, porque não queria que os meus desejos causassem o mínimo inconveniente ao meu marido. Olho para trás, para aqueles anos, e agradeço a Deus por ter casado com um homem bom. Teria sido tão fácil para ele aproveitar‐se de mim ou abusar do poder que tinha sobre mim, se estivesse para aí virado.

Minhas amigas, se estão a ler isto, vou partir do princípio de que são mulheres adultas. As mulheres adultas não pedem permissão. Há uma maneira de uma mulher ser el a si mesma e, ao mesmo tempo, estar num relacionamento ótimo com outra pessoa. É totalmente possível gerires as tuas prioridades, as tuas responsabilidades e os teus desejos pessoais de uma maneira que te permita manteres‐te el a ti mesma e às pessoas que amas.

Acontece quando deixas de pedir permissão para seres tu mesma.

Acontece quando deixas de te preocupar mais com o que os outros pensam do teu sonho do que com o que tu pensas do teu sonho.

Acontece quando dás mais valor a cuidar de ti do que ao facto de isso poder ser um inconveniente para os outros.

É‐te permitido quereres ser o teu melhor eu, perseguir o teu sonho, mesmo que os outros não o compreendam. É‐te permitido esforçares‐te por algo mais, mesmo que não agrade aos outros. É‐te permitido ter tempo sem os teus lhos, mesmo que seja um inconveniente para a pessoa que tem de car a tomar conta deles. É‐te permitido fazer alguma coisa, mesmo que ela faça o teu companheiro sentir‐se desconfortável. É‐te permitido dizer às pessoas quem és e do que necessitas em vez de primeiro perguntar se elas concordam. É‐te permitido simplesmente existir sem permissões ou opiniões ou condições.

Estou a tentar lembrar‐me da primeira vez que ouvi a expressão girl boss [patroa rapariga].

O que é certo é que atingiu o cume da popularidade quando Sophia Amoruso publicou o seu livro. Na altura, pus‐me na la para o comprar, como qualquer outra empresária que se prezasse e tivesse aprendido por si. Ler a história dela foi inspirador e motivador, e, honestamente, não pensei muito no título, porque estava ansiosa por ler o que vinha dentro do livro.

Mas depois comecei a ver a expressão (e seus derivados subsequentes) por toda a parte… #GirlBoss #BossBabe #EntrepenHER.* Mulheres de todas as idades e meios adotaram o nome e fizeram‐no seu. Tornou‐se uma tendência popular nas redes sociais, que, anos depois, ainda não desapareceu. Faz agora parte da linguagem corrente. É mencionado em conferências e tornou‐se um título a que aspiram as jovens que frequentam programas de estudos empresariais.

E faz‐me ferver o sangue.

Embora me dê vontade de me pôr a arengar sobre este tópico específico e sobre como faz o jogo da voz masculina da autoridade, em vez disso farei uma pergunta. Sabem o que significa qualificar, restringir uma coisa? Pergunto, porque, quando era mais nova, julgo que não teria parado para tomar em consideração a alcunha de “patroa rapariga” para mulheres como eu. Nunca teria questionado o

*Bossbabe significa «miúda gira patroa» e entrepenHER é uma alteração da terminação da palavra entrepreneur, «empresário», (que em inglês tem uma só forma para os dois géneros), para her, uma forma do pronome «ela». (N. da T.)

Antes de o meu marido vir dirigir a minha empresa, era um executivo de topo numas das maiores empresas de comunicação do planeta. Liderava uma equipa a nível mundial com mais pessoas do que consigo lembrar‐me. Subiu a pulso, com ímpeto e determinação. Nunca – nem uma só vez – alguém o rotulou pelo trabalho que fazia com base no género a que pertence.

Qualificar o termo patrão/patroa acrescentando‐lhe rapariga, jeitosa, doçura, cor‐de‐rosa, ou qualquer outra definição de papéis de género ridícula e antiquada que os meios de comunicação acham fofinha este mês é no mínimo desrespeitoso e, no pior dos casos, prejudicial para a maneira como as jovens se veem e para a nossa luta pela igualdade no mundo dos negócios. E a pior parte é que são as mulheres a perpetrar isto! São as mulheres que estampam este rótulo em papel de carta e t‐shirts e pins, tudo a pretexto de ser útil e inspirador para uma geração mais nova.

A certo nível, têm razão: ser proprietária ou gestora de uma empresa ou chefiar uma equipa é inspirador para uma geração mais nova. Contudo, se as nossas lhas tiverem a coragem e a determinação de aceitar esse desafio, não menosprezem os seus esforços dizendo que é bastante bom para uma rapariga. Não lhes chamamos médicas‐raparigas ou advogadas‐raparigas ou “nomeada para presidente‐rapariga dos Estados Unidos”. Esses postos foram obtidos à custa de muito esforço, e exigem respeito. Assim como isto.

Ser patroa foi e continua a ser um dos maiores privilégios e desafios da minha vida. Ser patroa requer coragem e tenacidade. Ser patroa requer ambição e força. Chegar a esse nível requer trabalho árduo – muitas vezes mais árduo do que para os nossos pares do sexo masculino, porque, em muitas indústrias, estamos a lutar por entrar num clube de homens. Poder‐se‐ia chamar a essa pessoa rebelde, singular, líder, mas não há nenhuma especificidade de género nisso.

Abordo este assunto agora porque quero recordar‐te que não necessitas da permissão de ninguém para seres tu própria, e também não necessitas de te adaptar e de te fazer num oito e de disfarçar o teu objetivo para o tornar mais aceitável para os outros. Não necessitas de te apresentar a uma determinada luz para seres amada e aceitada. As pessoas que merecem figurar na tua vida gostarão de quem tu – o teu verdadeiro tu – és de facto, mesmo que seja preciso algum tempo para se acostumarem. Mesmo que sejas diferente de todas as outras mulheres que conhecem. Mesmo que sejas diferente da mulher por quem se apaixonaram.

Sê o tipo de mulher que queres ser.
Sê o tipo de mulher que tem orgulho em si mesma.

Sê o tipo de mulher que tem tanto amor dentro de si que não cederá à tentação de mudar para obter o amor dos outros.

Sê o tipo de mulher que se concentra mais em estar interessada do que em que outras pessoas pensem que é interessante.

Sê o tipo de mulher que se ri alto e com frequência.

Sê o tipo de mulher que é generosa – independentemente do dinheiro que tenhas no banco, tens uma riqueza de recursos a oferecer aos outros.

Sê o tipo de mulher que passa a vida inteira a aprender, porque o saber é poder e as pessoas que pensam que sabem tudo são muitas vezes as mais burras entre nós.

Sê o tipo de mulher de que tanto o teu eu aos 11 anos como o teu eu aos 90 se orgulharia.

Sê o tipo de mulher que comparece à sua vida.

Sê o tipo de mulher que compreende que foi feita para mais.

Sê o tipo de mulher que acredita que é capaz de fazer coisas espantosas neste mundo.

Sê o tipo de mulher cujos sonhos a põem nervosa – e depois avança e tenta concretizá‐los, de qualquer maneira. Sê o tipo de mulher que nunca pede permissão para ser ela própria.

COMPETÊNCIA 2: Autoconfiança

A autoconfiança é importante.

A autoconfiança é a crença de que podes contar contigo mesma – de que acreditas no teu instinto no lugar em que te encontras. É muito importante para quem está no mundo dos negócios, particularmente se o teu emprego ou a tua empresa requer que te promovas para chegares ao nível seguinte. Contudo, é também muitíssimo importante na tua vida pessoal e na forma como pensas em ti e nos teus sonhos. Na minha opinião, não falamos o suficiente sobre este assunto.

Se sentes que és uma fraca mãe, se não te sentes minimamente preparada para desempenhar o papel de mãe a cada dia, qual é a probabilidade de estares a desfrutar da tua vida e a acompanhar bem os teus lhos?

Se sempre sonhaste fazer um triatlo, mas acreditas que és péssima em todas as atividades físicas e tens a certeza de que nunca vais conseguir, qual é a probabilidade de completares a próxima corrida?

A autoconfiança é importante, e o que é mais mágico é que se trata de uma competência. Não é algo com que se nasça. Indubitavelmente, se foste educada de uma determinada maneira, talvez te tenha sido instilada autoconfiança desde a infância, mas, se não tiveste essa sorte, por favor capacita‐te de que é algo que podes desenvolver e que devias absolutamente esforçar‐te por adquirir. Eis três coisas cruciais que descobri que fazem toda a diferença para consolidar a autoconfiança.

O teu aspeto

Este capítulo chega‐te em direto de um dos salões de beleza mais chiques do Hemisfério Ocidental. Do Nine Zero One Salon em Melrose Place, em Los Angeles, para ser mais específica. Enquanto estou aqui sentada, a escrever febrilmente no meu portátil, uma equipa de beldades dos seus 20 e poucos anos está a trabalhar para me cobrir as raízes e acrescentar umas madeixas à volta do rosto. Um grande número de pequenas taças cheias com poções de cores diferentes está espalhado em todas as direções. Elas estão a aplicar cor no meu cabelo com a precisão de um cirurgião de cardiologia pediátrica, ao mesmo tempo que tagarelam umas com as outras sobre que casa vão alugar para o festival Coachella e se o novo livro de dieta de Kristin Cavallari presta ou não. O trabalho delas é arte e bruxaria em partes iguais, e, quando terminarem, vou ficar com o melhor aspeto de sempre desde a última vez que saí desta cadeira. Esta sessão custa tanto como um Sebring descapotável usado… e só estou a falar da pintura do cabelo.

Tenho extensões e pestanas postiças, e z uma operação às mamas há cinco anos, porque estava farta de que os meus peitos pós‐amamentação parecessem umas meias cheias com gelatina. Sei que nem todas as pessoas aprovam que se gaste todo este tempo e dinheiro a tratar da aparência. Sei, porque me enviam mensagens. “Como podes dizer‐nos para gostarmos de nós mesmas como somos e depois gastar dinheiro em cosméticos e horas

a pintar o cabelo?” Compreendo que isto possa parecer‐te uma hipocrisia, mas talvez não tenhas compreendido uma distinção importante. Acredito de facto que devemos gostar de nós mesmas da maneira como somos… acontece que a maneira como eu sou envolve pestanas postiças.

Falando muito a sério, adoro maquilhagem. Já alguma vez viste aqueles vídeos no YouTube em que umas miúdas criam aspetos diferentes e usam cem cosméticos diferentes e 14 pincéis diferentes só para sombrear uma pálpebra? Isso é arte! É uma competência adquirida ao longo de anos de esforço, e eu faço‐lhes a devida vénia. Quando me maquilho, acho que é divertido, e gosto do aspeto com que fico. Não o faço por pensar que devia ter um determinado aspeto – ou porque a sociedade gosta de umas maçãs do rosto bem definidas – faço‐o porque gosto.

Invisto muito dinheiro e muito tempo no meu aspeto, porque me faz sentir – bem, que diabo, acho que me faz sentir o máximo, e quando me sinto o máximo sinto‐me confiante.

Antes de aprofundar este assunto, devo acrescentar uns esclarecimentos. Tenho a certeza de que nem todas as pessoas que conheço relacionam alguma (ou muita) da sua autoconfiança ao seu aspeto físico. Algumas de nós fomos criadas como deve ser. Algumas de nós fomos criadas com a mensagem de que são o coração, a mente e o espírito que importam – e é assim que devia ser. Mas só porque devia ser de uma certa maneira não quer dizer que seja. Se vou falar do que realmente resulta e não do que devia resultar, então temos de ser francas. Todas as mulheres que conheço – não consigo lembrar‐me de uma única exceção – se sentem mais confiantes quando lhes agrada o seu aspeto.

Todas sem exceção.

Esclarecimento número dois? A autoconfiança vem de tu gostares do teu aspeto, não de teres um determinado aspeto.

Eu adoro cabelo cheio de volume e pestanas compridas e sapatos com saltos altos. As minhas amigas Sami e Beans? Adoram ténis e bonés, e tenho quase a certeza de que elas pensam que cam com pior aspeto se estiverem muito maquilhadas. Não é o estilo que preferem. Se a maior artista de maquilhagem do mundo lhes fizesse uma maquilhagem completa, elas apreciariam a sua arte, mas detestariam os resultados. Fá‐las‐ia de facto sentirem‐se menos con antes, porque não se reconheceriam quando se vissem ao espelho. Obter autoconfiança do aspeto físico não tem a ver com ter um estilo específico; obter autoconfiança do aspeto físico tem a ver com um estilo pessoal.

Adoras ténis e camisas de anela? Gostas de cabelo liso como uma tábua e maquilhagem discreta? O teu roupeiro é tão colorido e eclético como a tua personalidade? Sim a tudo isso! Sim a qualquer uma dessas coisas. Sim a saberes quem e o que és e a permitir que isso seja manifestado no teu aspeto físico.

Sei que haverá pessoas que discordam de mim. Sei que haverá pessoas que leem isto e pensam que estou a ser superficial. Compreendo que pareça fútil começar um capítulo sobre a autoconfiança baseando‐a na aparência física – no aspeto que tens em vez de como te sentes – mas não penso que a alternativa fosse útil. Pelo menos, não teria sido útil para mim nos velhos tempos. Li uma série de livros que me diziam para olhar para dentro de mim, rezar, dizer mantras ou fazer afirmações para me tornar mais autoconfiante. Fi‐lo durante anos para tentar aumentar a minha autoconfiança. Contudo, honestamente, só me senti na pele de uma mulher confiante depois de aprender a ter o aspeto de uma mulher confiante. E o mais louco é que, provavelmente, a minha versão de autoconfiança não se parece nada com a tua. O objetivo não é que escolhas uma réplica do ideal de outra pessoa. O objetivo é que descubras o teu ideal.

Gostava que este livro fosse ilustrado para te poder mostrar fotos minhas de 2003 a 2016. Para ser justa para com a Rachel do passado, sinto que melhorei ao longo do tempo. No entanto, foi também um processo lento e vagamente trágico, basicamente porque eu não sabia como me vestir em função do tipo de corpo que tenho nem me pentear ou maquilhar. Embora o facto de não saber me fizesse sentir insegura, não o admitia. Em vez disso, proclamava alto e bom som que não era “esse tipo de rapariga”. Fazia um risco de eyeliner, punha batom do cieiro e usava o meu cabelo crespo e seco ao ar num puxo, enquanto dizia a mim mesma, toda militante, que as mulheres que se preocupavam muito com a aparência eram umas fúteis que se focavam nas coisas erradas.

Então, porque é que, de cada vez que tinha de arranjar o cabelo e ser maquilhada para a imprensa ou a televisão, me sentia fabulosa? A que propósito é que planeava saídas à noite com o meu marido sempre que sabia que me iam maquilhar para uma sessão fotográfica? A que propósito é que me sentia sempre melhor, tinha mais energia e uma atitude mais positiva de cada vez que achava que estava com um ótimo aspeto? Porque, quando gostamos da nossa aparência, adoramos a maneira como nos sentimos.

Isto foi uma grande curva de aprendizagem para mim em adulta, e começou tudo com uma mamoplastia.

É verdade, fiz uma mamoplastia. É um bocado louco de admitir, mas é o que estou a fazer. Tenho a certeza que algumas das leitoras estão a dizer: “Fizeste bem, miúda.” É o sonho de todas as mulheres depois de darem à luz, mas algumas das leitoras devem estar a dizer: “És uma vergonha para as feministas de todo o mundo!” Mas fi‐la, e, como tento sempre ser franca em relação às coisas por que passo na minha vida, estou‐te a contar agora.

Suponho que é melhor começarmos pela razão.

Hum… como explico isto delicadamente? Quando engravidei pela primeira vez, tinha umas mamas lindas, copa B. Adorava‐as, e elas retribuíam‐me o afeto. Depois de o bebé nascer, fiquei com leite, e aquelas adoráveis copas B passaram a E. Não, não é um erro tipográfico. É um tamanho de copa. E… de Elefante… de Enorme… de Ena!

Então, as gémeas passaram de pequenas a grandes e de novo a pequenas. Depois daquela etapa, dei à luz mais dois bebés, o que significa que aquela passagem de B a E – aconteceu mais duas vezes! Depois de o meu último filho, o Ford, nascer, comecei a fazer mais exercício físico e a alimentar‐me melhor, e mantinha um peso mais saudável, o que era fantástico. Mas esse peso significou que as minhas mamas, que já se encontravam num estado algo lastimável, se tornaram… nada. Não quero dizer que estavam gastas. Não quero dizer que pareciam fatigadas. Quero dizer que não havia nada lá, nada a enchê‐las, a almofadá‐las. A copa, neste caso, estava decididamente qual copo meio vazio. Portanto, ao passo que antes nunca pensara muito nos meus seios, agora andava sempre a reparar neles.

Detestava usar fato de banho. Detestava andar sem soutien, ou, o que era ainda pior, ficar em tronco nu em frente ao meu marido. Acima de tudo, no entanto, detestava o facto de estar tão focada em algo tão trivial. O Dave nunca disse nada. Abordava‐as como sempre, com reverência e a alegria delirante de um heterossexual ao ver mamas, mas os meus complexos só se agravavam. Francamente, não sou de ficar a matutar nas coisas. Gosto de as resolver. E, embora não seja capaz de resolver tudo, isto era algo em relação ao qual, decididamente, poderia fazer alguma coisa. Resolvi que ia levantá‐las outra vez.

Encontrei uma médica fabulosa, que, como também tinha filhos, compreendeu totalmente o que eu queria. Obriguei o Dave a ir comigo à consulta, e fez um milhão de perguntas, a maior parte das quais tinha a ver com se eu morreria na sala de operações como a mãe de As Meninas de Beverly Hills e se perderia sensibilidade (porque isso talvez fosse quase tão mau como a morte). Tiraram‐me umas fotografias para o meu dossiê, o que, deixa que te diga, é horrivelmente abismal! Ninguém precisa de ver as suas tristes mamocas através da lente de uma máquina de alta de definição sob uma luz intensa.

Acabei por escolher o implante mais pequeno que existe, porque, de cada vez que experimentava tamanhos maiores, sentia‐me desconfortável. Não queria ser uma pessoa diferente; só queria sentir‐me como era dantes. E, como o Dave disse quando lhe perguntei o que pensava: “És linda faças o que fizeres. Escolhe só uma coisa que te faça sentir bem.” Que homem esperto.

Marcámos a data da operação. Eu andava muito empolgada, mas, à medida que o dia se ia aproximando, comecei a entrar em pânico. Não a duvidar se devia fazer a operação, mas com receio de não lhe sobreviver. Tinha três lindos lhos nessa altura, e fazer uma operação era assustador. E se me acontecesse alguma coisa por causa da minha vaidade? Consegues imaginar que terrível legado eu deixaria?

“Oh, a minha mãe era supersaudável, mas queria ficar bem de top decotado e agora está morta!”

Obriguei as minhas amigas a prometerem‐me que, no caso de eu morrer antes do tempo, ajudariam a perpetuar o mito junto dos meus filhos de que eu perdera a vida numa missão dos Médicos Sem Fronteiras. Não importava que não fosse médica; neste passado inventado, eu era muito mais valente do que sou de facto.

Na manhã da operação, estava um caco. Mal entrei na sala, comecei a passar‐me com todas as coisas pré‐operatórias, e o Dave teve de vir sentar‐se comigo. Não ajudou nada que o meu anestesista fosse um homem louro e bronzeado, basicamente um boneco Ken muito, muito novo. Tipo, a idade que tem de se ter para ter acabado de sair do curso de Medicina, era disso que se tratava. Chamava‐se Dr. Aiden, disse ele. Tinha passado a manhã a fazer surf, disse ele. A fazer surf.

Enquanto a minha maca era empurrada para dentro da sala, eu só consegui pensar: Oh, meu precioso Salvador, este garoto‐médico surfista vai ver as minhas mamas.

Como por vezes, quando fico nervosa, controlo os nervos falando sem parar, estava a tagarelar nervosamente quando o médico modelo enfiou a agulha do cateter no meu braço. Aquele cateter, embora eu não soubesse na altura, estava cheio com umas drogas bastante potentes. Lembro‐me de dizer ao pessoal médico ali reunido que nenhum anestesista devia ter o aspeto daquele tipo. Devia ser careca e ter mais de 60 anos… devia parecer‐se com o Danny DeVito. Lembro‐me de todas as enfermeiras e todos os médicos se rirem de mim, e lembro‐me de pensar: Cala‐te, Rach, cala‐te, mas já estava mais para lá do que para cá.Não conseguia calar‐me.

A última coisa que me lembro de ter dito antes de adormecer foi: “Por favor, Dr. Aiden, faça o que fizer, não olhe para as minhas mamas destruídas!”Nem. Sequer. A brincar.

E depois acordei e… estava viva! Sentia‐me tão empolgada por estar viva que nem me importei que o meu peito desse a sensação de ter estado envolvido num combate com um campeão de pugilismo. Entre a ansiedade, o pré‐operatório e a presença inesperada de um anestesista ridiculamente giro para me pôr mais nervosa, já para não mencionar o tempo de recuperação, aquilo tudo foi uma verdadeira provação. Por fim, no entanto, pensei que valera indubitavelmente a pena, e ainda penso o mesmo. Pensarás tu como eu? Talvez sim, talvez não. Compreendo que nem todas as pessoas concordarão com as minhas opções, mas não faz mal. A questão é que se tratava de uma coisa que eu queria fazer por mim, algo que sabia que iria tornar‐me mais confiante. Eu é que decido que aparência quero ter, e, quando tomei a decisão de alterar algo de uma maneira assim tão drástica e permanente, isso fez‐me começar a considerar outras coisas em que não pensara antes.

Lembrem‐se, durante anos eu andara a dizer a mim mesma que as mulheres que se importavam com a sua aparência eram artificiais e fúteis. Mas agora fizera a coisa possivelmente mais artificial que existe: mandara alguém meter‐me o equivalente médico de um balão dentro do corpo numa tentativa de me sentir mais confiante. E sabem que mais? Resultou.

Adorei as minhas novas mamas! Cinco anos depois, ainda as adoro.

Mas agora precisava de conciliar a história que sempre contara a mim mesma com a nova realidade com que me deparava. Fizera algo puramente por vaidade, mas não me sentia uma pessoa vaidosa. Não ficava sentada o dia todo obcecada com a minha aparência, e de maneira nenhuma julgava as pessoas pela aparência delas. Portanto, se era possível continuar a ser a mesma mulher que estava tão focada no crescimento pessoal – em aperfeiçoar o que estava no interior – seria possível que as minhas crenças anteriores sobre o valor ou a falta de valor da nossa aparência física estivessem assentes mais em inseguranças do que em provas efetivas?

Bem, obviamente.

As nossas próprias inseguranças em qualquer assunto podem desencadear a nossa curiosidade ou alimentar a nossa atitude crítica. Ou vemos a oportunidade de crescer e permitimo‐nos pensar no assunto, fazer perguntas e pesquisar, ou nos tornamos receosas e rejeitamos a ideia imediatamente. Só uma idiota consideraria essa hipótese. Só pessoas frívolas tentam algo novo quando já se encontram numa determinada via. A tua insegurança faz com que sintas que quem está a fazer as coisas de modo diferente de ti constitui uma acusação de todas as formas como não estás à altura.

Fazer juízos generalizados sobre outras pessoas ou – o que é mais perturbante ainda – sobre ti mesma não te ajuda em nada. Talvez tentes um penteado diferente, skinny jeans ou botins abertos à frente e com cunha, e detestes. Mas nunca vais saber se não estiveres aberta a considerar essas opções. Se a tua autoconfiança estiver ao rubro, continua a fazer o que estás a fazer agora, mas se não te sentes bem em relação à tua aparência, do que estás à espera?

Decidiste que é assim mesmo que é a vida? Deixa de ir nessa! A vida é o que tu acreditares que é. Que importa se nunca te soubeste vestir na secundária ou como pentear o cabelo? Isso foi há muito tempo, e tu já não és essa rapariga. Sei que soo como um disco riscado, mas podes encontrar tudo o que queres aprender a fazer num vídeo do YouTube neste preciso momento, e de graça. Fazer caracóis, aplicar maquilhagem, escolher as roupas mais adequadas a raparigas baixas, como usar calças de ganga brancas – literalmente todas as coisas que aprendi nos últimos cinco anos. Não acreditas em mim? Vai ver o meu Instagram e volta atrás. Não vai demorar muito tempo até começares a dizer algo do género: Mas que raio é que que ela trazia vestido? O que é que se passava com aquele cabelo e aquelas sobrancelhas?

Vá lá. Dou‐te total permissão para vasculhares as minhas antigas fotos. Só porque costumavas ser de uma certa maneira, não significa que tenhas de te manter dessa maneira. Só porque te sentes insegura, não significa que não possas fazer uma mudança. Se a tua aparência não te agrada, se não adoras o teu estilo pessoal, põe‐te em ação! Faz um investimento! E não permitas que ninguém te faça sentir culpada em relação a isso.

O teu comportamento

Há cerca de dez anos, eu organizava eventos em Los Angeles e z nome na área dos casamentos de luxo. Embora adorasse o meu trabalho, ao m de anos a aturar noivas exigentes e a trabalhar todos os fins de semana do ano, ansiava por me expandir para o mundo empresarial, que não acarretava a bagagem emocional que planear casamentos implicava.

Como já mencionei, sempre tive o hábito de tomar decisões, descobrir onde se encontram as minhas metas e a seguir criar um mapa das estradas para lá chegar. Neste caso, o meu cliente/evento de sonho era o festival de cinema de Sundance. Era supersofisticado e estava cheio de celebridades, e também se realizava num espaço realmente difícil. Produzir o luxo de um evento em Los Angeles numa cidadezinha de montanha no Utah, cujo único acesso é um desfiladeiro provavelmente coberto de neve nesta altura do ano? Eu sabia que, se conseguisse fazê‐lo, isso lançaria a minha empresa para uma nova estratosfera.

Sundance tornou‐se o meu objetivo.

E então recuei a partir daí. Se queria obter alguma atenção por produzir um grande evento em Sundance, precisava de ser um evento que gerasse interesse. Depois de algumas pesquisas, fiquei a saber que a Entertainment Weekly era uma importante interveniente no festival. Davam as maiores festas com a presença do maior número de celebridades e, por conseguinte, obtinham a maior cobertura por parte dos meios de comunicação. Eram os melhores, e eu queria trabalhar com os melhores.

Não tinha de maneira nenhuma qualificações para o fazer. Nem todos os eventos são organizados da mesma forma, e um festival de cinema no Utah é uma coisa muito diferente. Mesmo assim, não haveria maneira de alguma vez eu chegar a aprender a organizar o tipo de evento que queria criar se não me atirasse para a frente. Foi o que fiz. Pedi a um amigo de um amigo de um amigo que fizesse um contacto, e finalmente obtive a oportunidade de falar ao telefone com a equipa de eventos.

Fiz a minha proposta com a máxima convicção.

Eles não se mostraram interessados. Foram muito simpáticos, mas sabiam que era demasiada areia para o meu camião. Como um cão que subitamente decide andar nas patas traseiras, lá porque talvez consigas fazer alguma coisa isso não significa que seja a escolha certa. Nem sequer se mostraram interessados em que eu apresentasse uma proposta.

Senti‐me desencorajada, mas esse estado de espírito nunca leva a lado nenhum. De duas em duas semanas – ao longo dos 18 meses seguintes – abordei o meu contacto na Entertainment Weekly. Enviava‐lhe inspirações para festas e informações sobre novas bebidas. Indicava‐lhe os melhores DJs para contratarem e vestimentas giras que o pessoal poderia usar. Acrescentei valor de forma intencional em tudo o que podia, e nunca, nem uma vez, perguntei se me considerariam para um trabalho.

Um dia, a pessoa responsável pelos eventos da EW telefonou‐me sem eu estar à espera. “Precisamos de catering para o Sundance. Você faz isso, certo?”

Eu não era proprietária de uma empresa de catering, mas tinha‐me esforçado tanto por conseguir esta oportunidade de uma parceria com eles que agarrei a possibilidade com ambas as mãos. “É claro que sim! Do que precisam?”

Este momento em que me candidatei ao meu primeiro trabalho para o Sundance é sempre o melhor exemplo que tenho para dar quando alguém me pergunta a minha opinião sobre a ideia de “fazer de conta até ser real”. Detesto essa expressão, porque implica que não se tem mais nada a sustentar o fingimento. Há uma grande diferença entre fazer de conta que se sabe fazer alguma coisa que não se faz a mínima ideia de como se faz, e ter a confiança de aceitar um papel para o qual não se está ainda totalmente preparada.

Existe um estudo em que se demonstra que, quando um homem está a considerar a hipótese de um novo emprego, concorre a postos de trabalho que sente que está pelo menos 60 por cento qualificado para ocupar. A sua autoconfiança diz‐lhe que obterá os restantes 40 por cento aprendendo no exercício do cargo. Em contraste, esse mesmo estudo revela que a mulher média sente que tem de estar 100 por cento qualificada para concorrer ao que quer que seja. 10. OK, pensa nisto por um segundo. Como diabo é que alguém pode ter as qualificações necessárias para algo que nunca fez? É um círculo vicioso. Se não arriscares, se nunca tentares por receio de fracassar, nunca evoluirás para o nível seguinte.

No que diz respeito à oportunidade do Sundance, o facto é que eu não era da área do catering, mas trabalhava com empresas de catering há anos, e sabia o que implicava. Tinha contactos, recursos e competências suficientes na pesquisa e na planificação para percorrer o resto do caminho. Não estava a fazer de conta, porque nunca me passou pela cabeça que não seria capaz de dar conta do recado se tivesse de o fazer. Contava com anos de prática – indubitavelmente nada àquele nível, mas sentia‐me confiante de que nunca dececionara um cliente e não era agora que ia começar a fazê‐lo. Nunca, mas nunca aceitaria dinheiro de alguém por um serviço que não tivesse a capacidade de fornecer. Mas também nunca teria conseguido desenvolver as minhas competências se não me tivesse continuamente forçado até aos meus limites.

Aquele evento no Sundance projetou o meu negócio para um nível inteiramente novo, como eu acreditara que aconteceria. Transformei aquele primeiro ano como fornecedora de catering no ano seguinte como organizadora de eventos. Não tardámos a começar a organizar salões e eventos para todos os estúdios e marcas que queriam celebrar em Park City. Sundance tornou‐se o meu contrato mais lucrativo. De facto, foi o que financiou o início do The Chic Site e a contratação de pessoal quando finalmente decidi fazer a transição para este espaço.

Tantas coisas boas resultaram da decisão de me comportar de um modo confiante mesmo quando não me sentia sempre confiante. É como qualquer outra coisa. Podes levar‐te a sentir seja o que for que decidires, desde que o sustentes com os teus atos. Eu comportei‐me de modo confiante relativamente ao que era capaz de fazer como organizadora de eventos, e depois sustentei‐o com pesquisa e trabalho árduo para me munir das competências necessárias para ser bem‐sucedida.

Os teus relacionamentos

Sei que já abordei este tópico de passagem, com aquela coisa de “acabas por te tornar nas cinco pessoas com quem convives mais”, mas vale a pena repeti‐lo aqui. Há uns anos, a minha irmã tinha concluído o curso de esteticista e não sabia bem o que fazer a seguir. Agradava‐lhe a ideia de trabalhar no setor dos cuidados de beleza, mas não tinha a confiança suficiente para criar uma carteira de clientes nesta nova indústria – o que é essencial para qualquer cabeleireira. Experimentou vários trabalhos como assistente em salões de beleza, e, embora lhe agradasse conviver com as pessoas, continuava a ter dificuldade em encontrar o seu nicho.

Por coincidência, uma pessoa minha conhecida enviou um e‐mail com uma oferta de emprego. Essa minha conhecida era proprietária de um spa, e precisava de uma gerente. Já tinham tido várias pessoas à experiência, mas ninguém parecia corresponder ao pretendido. Li a descrição dos requisitos e a cada novo item fui ficando cada vez mais empolgada. Reencaminhei imediatamente o e‐mail à Mel.

“Devias concorrer a este emprego, sem dúvida!”, escrevi na mensagem.

Como ela continuava a não se sentir convencida pelo emprego que tinha na altura, candidatou‐se ao cargo de gerente do spa – que acabou por conseguir.

Naquela primeira semana, sentiu‐se muito nervosa em relação a como tudo iria decorrer. Mudara‐se há pouco tempo para Los Angeles e ainda estava a aprender a orientar‐se no trânsito e no ritmo acelerado da cidade, e, como a maior parte das pessoas recém‐chegadas a Los Angeles, sentia‐se um pouco intimidada e com receio de não se vestir de modo adequado ou falar corretamente neste spa de luxo perto de Beverly Hills.

Algumas semanas depois de ela começar a trabalhar no spa, recebi um e‐mail da minha conhecida a agradecer‐me vivamente por lhe ter enviado a Melody. Não conseguia parar de lhe tecer louvores como funcionária excecional. Isso não me surpreendeu minimamente. Sabia que a minha irmã era esperta e simpática, e sabia também que era uma trabalhadora incrivelmente aplicada. O que me surpreendeu foi o que aconteceu daí a seis meses.

A Melody tornou‐se uma mulher totalmente diferente.

Estava calma, equilibrada e totalmente confiante em si mesma e nas suas capacidades. Já não se sentia ansiosa em relação à sua nova cidade, ao seu novo papel ou ao que faria a seguir. Não receava dar a sua opinião e não se preocupava com que as pessoas pensavam.

Lembro‐me de ter dito ao Dave: “Reparaste como a Mel está a sair‐se tão bem? Pergunto‐me o que terá causado uma mudança tão grande?”

Daí a umas semanas fui ao spa em que ela trabalhava para fazer um tratamento facial, e foi então que compreendi. A Mel passara de uma escola cheia de jovens que não sabiam ao certo para onde iam ou como fariam carreira para uma empresa de sucesso cheia de – esperem só – mulheres autocofiantes. Ao longo de todo o dia, convivia com colegas que estavam no auge da sua profissão – tinham de estar, para trabalharem num lugar como aquele. Ao longo de todo o dia, ajudava clientes que eram bem‐sucedidas na vida e nos negócios – tinham de ser, para poderem frequentar um lugar como aquele. Sem sequer tentar ou ter consciência disso, a minha irmã absorvera a autoconfiança delas como que por osmose.

Queres ser mais autoconfiante? Convive com pessoas que o são.

Sei que a autoconfiança não é muitas vezes descrita como um comportamento aprendido, mas acredito verdadeiramente que é uma competência que podes aprender como qualquer outra. Tem em consideração as pessoas com quem convives, as palavras que usas e a maneira como te apresentas ao mundo à tua volta. Presta atenção às ocasiões ou circunstâncias que te fazem sentir mais segura de ti e depois esforça‐te por cultivar mais oportunidades como essas. Esta alteração de perceção, particularmente para quem esteja na área dos negócios, pode operar uma verdadeira mudança na tua vida.”