Primeira-Dama do Canadá assume que não consegue fazer tudo sozinha

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“Tenho três filhos e um marido que é primeiro-ministro. Preciso de ajuda.” A declaração de Sophie Gregóire Trudeau, de 41 anos, apresentadora de televisão e mulher do primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, ao Le Soleil, um jornal do Quebec, incendiou o debate no país da América do Norte.

A primeira-dama, cargo inexistente oficialmente no Canadá, cuja soberana é a Rainha de Inglaterra e o Chefe de Estado é o Governador-Geral, queixava-se de não conseguir dar resposta a todas as solicitações que lhe chegam, uma vez que tem apenas uma pessoa a apoiá-la no cumprimento do seu “dever” para com o país e o povo canadiano e nem sequer um gabinete lhe está atribuído.

“O meu escritório é na mesa da sala de jantar, em nossa casa. Queremos desempoeirar os velhos métodos patriarcais e modernizar o aparelho que nos permite servir as pessoas, porque as pessoas querem que o modernizemos. Isso é claro para nós”, explicou ao jornal.

Mas parece não ser claro para todos. Da oposição choveram críticas e as redes sociais encheram-se de memes e hashtags sarcásticos – sendo #prayforsophie e #jesuissophie os mais populares -, acusando-a de não ter noção do que é a vida real das mulheres canadianas, de querer esbanjar o dinheiro dos contribuintes e de a sua antecessora (Laureen Harper, mulher de Stephen Harper) se ter governado muito bem só com uma pessoa.

Em sua defesa saíram aqueles que acreditam que o papel de primeira-dama é importante, tanto na política interna como externa, que o nível de popularidade e projeção que o casal Trudeau atingiu justificam este apelo, porque Sophie Trudeau quer aumentar o volume de trabalho e de intervenção (e não diminuir) e que as causas que defende – sobretudo nos campos da igualdade de género, dos direitos dos autóctones, das alterações climáticas e da promoção de estilos de vida saudáveis – o merecem. O Toronto Star, num editorial com o título ‘Sophie Grégoire Trudeau should have help she needs to fill her role‘ (‘Sophie Trudeau devia ter a ajuda de que precisa para desempenhar o seu papel’) é particularmente eloquente na sua defesa.

Não sendo primeira-dama um cargo oficial nem remunerado em nenhum país do mundo, é um papel que a mulher do chefe de Estado ou de governo é chamada a representar, se assim o entender. Michelle Obama interrompeu a carreira profissional e académica para o desempenhar. E de forma tão ativa que por vezes ofusca mesmo o pouco ofuscável marido. O seu staff é composto por 24 pessoas.
Em Portugal, atualmente não existe primeira-dama, mas, desde 1976, as mulheres dos presidentes da República exerceram com notoriedade esse cargo não oficial, para o qual foi criado, no mandato de Jorge Sampaio, dada a dinâmica que Maria José Ritta queria imprimir ao lugar, um ‘Gabinete do Cônjuge’, em 1996, que previa um staff de três pessoas: dois assessores e um secretário.


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Sophie e Justin Trudeau são feministas declarados. Metade do governo do Canadá é composto por mulheres, mas apesar deste sinal muito positivo, os oito meses no cargo não permitem ainda aferir como é que o seu feminismo se está a traduzir na administração do país e, sobretudo, na vida do povo canadiano. De que forma o facto de Sophie Gregóire-Trudeau assumir o papel de primeira-dama, mulher do primeiro-ministro, servirá a luta pela igualdade de género? E será consequente com o feminismo de que se diz partidária?

Talvez seja preciso esperar para ver.