Primeira reitora de Moçambique quer creches nas universidades

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A primeira reitora de uma universidade pública em Moçambique sugere que as instituições de ensino superior tenham creches para incentivar as mães a seguir estudos superiores.

“É uma coisa que eu gostaria de ver, um dia: que as universidades tivessem creche”, disse Emília Nhalevilo, nomeada em março reitora na Universidade do Pungué, no Chimoio.

A elevada taxa de natalidade em Moçambique (mais de cinco filhos por mulher) faz com que muitas se dediquem exclusivamente à maternidade. Apenas 1% das moçambicanas termina o ensino superior, segundo dados oficiais.

Emília Nhalevilo acredita que uma creche nas instituições ajudaria a conciliar as tarefas de mãe com os estudos.

“Seria uma das formas de ajudar as estudantes a ter mais desempenho e se calhar a ficarem mais tempo na universidade. Parece que é um detalhe, mas é importante ter este apoio específico para mulheres”, explicou.

A medida devia fazer parte de uma “política de género” para atrair mais mulheres para o ensino superior em Moçambique, defendeu.

A nova reitora considera ser um responsabilidade de todos fazer da universidade “um espaço que seja um dos melhores para a mulher”, pois todos saem a ganhar.
Emilia Nhalevilo concluiu a licenciatura grávida de quatro meses, em 1994, numa fase de adaptação ao processo de gestação.

Seguiram-se mestrado e doutoramento em Ciências Naturais, na Austrália, no que retrata hoje como “um desafio”, ter de levar consigo os dois filhos, o mais novo com quatro anos.
“O tempo que os meus colegas homens tinham para estudar, eu tinha que dividir com os meus filhos”, contou.

Recebeu a notícia da sua nomeação para o novo cargo, em Chimoio, capital provincial de Manica, no dia 27 de março.

Na sua carreira profissional, conta que esteve num grupo de pesquisadores da região, onde um colega a questionou, “mas como é que tu te sentes aqui no meio de homens e longe da tua família, só a trabalhar? Não te sentes uma mulher que não dá atenção à família?”

Até em grupos académicos “há aquela perceção de que, se ficas muito envolvida como académica ou professora, é porque não dás atenção [à família]. E a pessoa tem que fazer um pouco mais de força, de se impor. Mostrar que dá importância à família e se envolve no trabalho”.

Um outro desafio no meio académico passa pela aceitação: Emília sente que os interlocutores acatam mais facilmente aquilo que diz um homem, do que aquilo que é dito por uma mulher.

Há sempre uma dúvida: “será que ela sabe, podemos acreditar”, refere, notando que, por vezes, é algo involuntário, mas que ela própria sente.

“Quando se é mulher, tens muitas paredes que derrubar, construídas por pessoas que não sabem que as estão a construir”.

Emilia Nhalevilo fez a escola primária no final da era colonial de Moçambique e diz que teve um ambiente em casa que a impulsionou nos estudos encorajada pelos pais.

“A questão dos casamentos prematuros” são um dos maiores obstáculos à continuação dos estudos por parte das mulheres moçambicanas, realçou.

Agora, como reitora, espera poder encorajá-las a sonhar e chegar mais longe.E aponta um sinal positivo: pela primeira vez, no último ano, a Universidade Pedagógica (da qual nasceu a instituição que hoje dirige) graduou mais mulheres que homens.

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