Rios de lágrimas derramados, horas de caminhada e espera no asfalto londrino para um último adeus e milhões de flores que se acumularam nos dias em que o Reino Unido – mas também o mundo – se despediu de Diana Spencer.
Ex-mulher do príncipe Carlos, Lady Di ou a Princesa do Povo morreria a 31 de agosto de 1997, num acidente de automóvel em Paris, no Pont de l’Alma e em circunstâncias que ainda hoje são escrutinadas, sobretudo porque o acidente envolveu os paparazzi.
Volvidas mais de duas décadas, a importância de Diana de Gales continua tão viva como quando via imagens suas a encher milhares de páginas de jornais e revistas no mundo inteiro. As polémicas em torno da figura mantêm, ainda hoje, todo o vigor, afinal são múltiplos os documentários que, só neste último mês de agosto, reclamam revelar pormenores, conversas, desabafos, detalhes nunca antes ouvidos ou lidos.
Recorde os escândalos que os novos documentários britânicos têm trazido a lume
“Ela foi fantástica, foi única, um meteoro para a casa real britânica e mudou definitivamente a imagem da realeza”. A análise é de Richard Fitzwilliams. Reconhecido comentador britânico da monarquia e consultor em relações públicas conta, em entrevista ao Delas.pt, que Lady Di deixou pouca coisa igual ao que encontrou quando chegou a Buckingham.
Maternidade passou a ser uma imagem de proximidade
As imagens oficiais das famílias reais sempre se destacaram pela frieza entre pais e mães e respetivos filhos. Mas, Diana de Spencer inverteu essa realidade. “Ela tornou a monarquia mais aberta e tal verificou-se, por exemplo, no tipo de espetáculos que a realeza passou a receber, mas também na maior proximidade com o povo e como transparecia as suas emoções com os filhos”, explica Fitzwilliams.
“Mais do que mostrar a proximidade que ela tinha com os filhos, ela veio mostrar que o normal era fazer as coisas que as crianças faziam e fazê-las com elas”, explica o comentador.
E para provar o legado que deixou, Richard fala da forma íntima e emocionada como atualmente os príncipes William e Harry recordam a mãe. “Eles estão a falar de forma muito aberta, do que viveram de mais íntimo com ela. William tem abordado as questões emocionais e mesmo as matérias do foro psicológico e Harry não tem escondido como foi crescer e passar toda a adolescência sem a mãe, nestas circunstâncias”, explica o comentador da monarquia.
Curiosamente, vale a pena vincar que os príncipes, numa atitude rara, abriram o álbum da família e mostraram recentemente, no Twitter, fotografias nunca reveladas deles próprios e da mãe. Reveja aqui esses momentos.
A importância de casar por amor
Diana amava Carlos, que amava Camilla [Parker- Bowles]. É com estes amores e desamores que se fazem, desde sempre, romances e novelas. Mas é também com estes ingredientes que se compõem e se vivem verdadeiras tragédias, e esta história – que não foi de contos de fadas – não foi diferente.
Se há exemplo que Diana deixou bem claro é que “é preciso casar por amor”. Ela não ensinou isso às “restantes monarquias europeias porque nos anos 60 e 70 [do século passado] já a Noruega e Suécia viviam essas histórias – muito impulsionadas pelo casamento do Príncipe do Mónaco [Rainier] com Grace Kelly”, em 1956, contextualiza Richard Fitzwilliams.
Porém, foi com Diana e Carlos que a monarquia britânica percebeu que não podia voltar a defender o casamento de um príncipe herdeiro com “uma mulher sem passado, ou seja, virgem e imaculada aos olhos da nobreza”, refere o comentador. Ora, a verdade é que William casou com uma colega da universidade e sem sangue azul, Kate Middleton, e, como acrescenta este consultor ouvido pelo Delas.pt, “ainda vamos ver o que vai acontecer com Harry”.
A nobreza e o povo podiam andar de mãos dadas? Para Lady Di, sim!
Sem precisar de parar para pensar, aquele comentador sustenta ao Delas.pt que a herança maior deixada por Diana foi a de aproximar a nobreza aos desfavorecidos, algo que hoje é muito comum – e até desejável – observar nas causas que as várias monarquias abraçam e até mesmo as celebridades. E fê-lo de várias formas e ao serviço de várias causas. Mas já lá vamos.
“Ela chegou a levar os filhos a visitas que fez a sem-abrigo, o que deixou uma imagem muito importante”, vinca o comentador britânico. “Ela ajudou tanta gente… “, suspira.
Uma proximidade que se refletiu na hora do luto. “Quando ela morreu foram longos os dias de despedida e de cerimónias fúnebres, as ruas encheram-se de flores. Diana mostrou um lado mais solidário e preocupado para com a sociedade e esta respondeu em consonância quando ela morreu”.
No entanto, para Richard Fitzwilliams, há duas causas que Diana de Gales colocou na agenda mediática mundial e que devem ser ressaltadas na hora de observar a herança ao detalhe. “A forma como ela olhou e apoiou as vítimas das minas de guerra. Quando ela o fez, em 1997, tal tornou-se uma matéria internacional”, recorda o comentador. Aliás, os angolanos têm estado, nos últimos dias, a evocar a importância que a princesa teve nesta questão, levando o Governo – à data – a olhar para os mutilados de guerra como nunca antes o tinha feito.
E se aquela é a primeira causa, a segunda é não menos importante: o HIV. “Ela foi a primeira pessoa a apertar a mão, sem luvas, a um doente portador de HIV”. Estávamos em abril de 1987 e o mundo estava entre a neurose e o pânico em torno da doença. “Ela tocou e abraçou pessoas nessas circunstâncias, uma atitude que mudou a maneira de o público olhar para aquelas pessoas”, contextualiza o analista.
E a moda? Diana, o caso amoroso com as câmaras e a semelhança com Marylin
Esta é mesmo a componente mais visível e notória do legado deixado por Diana Spencer, que morreu quando tinha ainda apenas 36 anos.
Mais do que uma tendência, a ex-mulher do príncipe Carlos revelou ter muitas e soube coaduná-las e adaptá-las como ninguém às várias fases da vida que atravessou: do vestido de casamento mais copiado daquela década, ao icónico vestido azul com que dançou com John Travolta, à roupa de ginásio com que foi muitas vezes flagrada e toda a nova atitude que demonstrou ter logo após o divórcio e, numa fase seguinte, quando se voltou a apaixonar.
“Tudo nela foi copiado até à exaustão. Ela definiu tudo em matéria de tendências”, refere Richard Fitzwilliams. Afinal, tudo nela era para ser imitado ou não tivesse Diana um “verdadeiro e sério caso amoroso com a câmara”, sintetiza o analista e consultor britânico ao Delas.pt.
Maria João Martins, de 49 anos, relatou isso e muito mais. No ensaio que escreveu para o Delas.pt, a professora de História Social da Moda foi mais além e lembrou que, num dos últimos momentos mediáticos de Diana, foi Marylin Monroe quem a Princesa do Povo nos fez lembrar. E tudo teve lugar na última produção fotográfica que Lady Di fez para a Vanity Fair, um ano depois do “divórcio redentor”, mas infelizmente um mês antes do malogrado acidente.
Pode encontrar o ensaio na íntegra aqui
O fotógrafo “Mário Testino” – recorda Maria João Martins – mostrou uma “nova Diana: uma mulher moderna, vivida, enérgica e fascinante, como a definiu Meredith Etherington-Smith, à época editora de moda da revista”.
E a professora de História Social da Moda prossegue: “Foi the last sitting de Diana. As semelhanças com a última sessão de fotografias de Marilyn (assim designada pelo fotógrafo Bert Stern), também morta aos 36 anos, pouco depois dessas fotografias, são, no mínimo, arrepiantes”.
Elton John também parece ter reparado nas coincidências. Quem não se recorda do tema Candle in the Wind? Inicialmente composto para evocar Marylin Monroe, em 1973, o compositor e cantor reescreveu-o para Lady Di, para eternizar a amiga que perdeu, para sempre, no acidente de viação.
O “remorso” dos paparazzi
Fitzwilliams crê que a imprensa nunca mais foi persecutória com ninguém como o foi com Diana. Richard diz mesmo que os meios de comunicação social britânicos ainda não ultrapassaram este “remorso” e defende que – mesmo confrontado como a forma como os media vulnerabilizaram a posição militar do príncipe Harry em combate ou todas estas novas polémicas que estão a surgir em documentários – “já não se usa a perseguição fotográfica como no tempo dela”. “Sem dúvida, esse foi um dos legados que ela deixou”.
A verdade é que “ela foi única” e os “jornais e as revistas nunca se cansavam, nem se cansaram dela”, explica o analista britânico.
Releia outras matérias sobre Lady Di e que foram também publicas no Delas.pt ao longo deste mês em que se assinala o 20º aniversário da sua morte. A forma como os filhos, Príncipe William e Harry, recordam Diana Spencer e a sua influência na moda (aqui e aqui).
Imagem de destaque: DR