“Prozis não precisa de Portugal”, afirma o “incancelável” Miguel Milhão

Miguel Milhão
[Fotografia: captura de ecr/Youtube]

Miguel Milhão compareceu num podcast interno da empresa Prozis para esclarecer – e reiterar – a sua posição sobre o fim do direito ao aborto, uma lei federal que foi revertida nos Estados Unidos da América.

Em Conversas do Karalho explicou que a defesa que fez do aborto é “ética” e “não religiosa”, criticou quem boicota ou apelou ao boicote, dirigiu-se a “esta canzoada” que critica e comentou rescisões de parceria que celebridades tornaram públicas.

Uma justificação de mais de meia hora sobre vida pessoal e percurso profissional e que acabou com o anúncio da decisão de apagar o comentário inicialmente publicado no LinkedIn (que pode ver abaixo) e que gerou toda a polémica. Lembrou que enquanto o “pessoal vai estar aí entretido a cancelar” ele vai “de férias de barco para a Grécia o tempo que apetecer”.

Disse-se atacado, mas Milhão – que invocou ter estudado Filosofia e ter defendido o aborto em Ética – vincou também que é “incancelável”. “Impossível”, afirmou. “Nós não vamos sair manipulados por esta mob. As minhas ideais são as minhas, não são as das Prozis: vive, produz bens e serviços, empresa privada, tem acionistas, trabalhadores, parceiros, vários topos de stakeholders”, explicou.

Mais à frente, Milhão chutou as contas da empresa para justificar a importância relativa do território português. “A Prozis não precisa de Portugal, é uma empresa internacional, será provavelmente a marca portuguesa mais conhecida fora do território. Vive do comércio exterior, 85% é exportação. Vendemos para Portugal e para outros países. Mas isto aqui nunca arranca. Adoramos os portugueses, respeitamos, vendemos mais barato aos clientes portugueses, estamos aqui para construir em conjunto”, insiste, sublinhando que ninguém pode imaginar que vai destruir a marca.

Violação? “Não consigo sacrificar um inocente pelos crimes de um criminoso”

Sobre o aborto, Milhão afirma que a “posição nem sequer é religiosa, é ética”, vincando que essa não é a questão mais perturbadora. O que importuna o fundador da Prozis é “ter uma opinião e ter depois um país a atacá-lo”.

Confrontado com a hipótese de uma violação, Milhão “tentava conversar com a mulher” para que ela prosseguisse com a gravidez. “Não consigo sacrificar um inocente pelos crimes de um criminoso, não consigo fazer essa cena, cuidava dessa criança. A maior parte das pessoas repugna essa ideia, não sei como a minha mulher reagiria, mas eu não consigo”, afirmou.

“Quando digo que os bebés estão a ganhar direitos, não estou a falar das mulheres, mas dos bebés. A natureza é um sistema, e é antagónico o sistema não ter vidas”, explicou. Mostrou tabelas e gráficos para explicar onde considera que começa a vida com experiência e os racios dos Estados Unidos da América. “O desenvolvimento da vida e a sua permanência é o conceito de vida humana. Na minha forma de pensar, matar um embrião ou matar um feto, um recém-nascido ou a criança é a mesma coisa, não há diferença”, explica. “Estou a roubar as experiências potenciais”.

O fundador usou, em resposta a uma mensagem que comentava a sua imagem, a sua experiência pessoal. “Nasci cego do olho esquerdo, a minha mãe era nova tinha 19 anos, solteira, e eu era um candidato fixe para o aborto. Mas ela pensou diferente, na altura mandaram-na fazer e ela não fez, e aqui estou. Sei que estou a fazer um bom trabalho e não é por estar a salvar o mundo, é porque sei que ao meu redor as pessoas estão mais felizes. Isso é que é uma vida útil de serviço”, reiterou.

Acusações de assédio laboral na empresa

Durante a emissão foram lidas mensagens críticas e, entre elas, uma alegada denúncia de assédio laboral de trabalhadoras grávidas. Milhão respondeu: “Não sei. Tenho tanta gente, tanto pessoal interessado trabalhar aqui, talvez seja por tudo o que a pessoa dá”.

“Não vou dizer que é um sítio perfeito, não é, é um local de trabalho com um perfil específico de pessoas, tens de produzir e servir, não é a casa da mãe Joana”. O interlocutor desta conversa, que permaneceu na penumbra, acrescentou que a empresa “até dá um ano de seguro às mães para os filhos durante um ano gratuito”, algo que Miguel Milhão diz desconhecer.