
Muitas foram as pessoas que, tendo estado em casa durante dois meses devido à pandemia provocada pelo novo Coronavírus, adquiriram novos hobbies, desde cozinhar, pintar ou aprender a dançar. Mas uma das atividades mais praticadas foi mesmo a construção de puzzles. E se antes se construíam mais durante o confinamento, agora passou a ser uma atividade bastante popular.
Segundo a National Public Radio, uma organização de comunicação social, sem fins lucrativos, as fábricas de puzzle relataram números de venda crescentes e até escassez dos jogos. Mas que razão espoletou este aumento crescente? Na verdade, a resposta tem a ver com o nosso foro psicológico.
Citada pelo site norte-americano The Huffington Post, a psicoterapeuta Jenny Maenpaa começa por explicar que “durante o confinamento, a nível celular existiu uma ameaça à nossa sobrevivência, como seres humanos individuais e como espécie. Por essa razão, o nosso cérebro ficou preso num ciclo de luta, fuga e congelamento”.
“Os quebra-cabeças são um antídoto surpreendente para esta situação”, revela a especialista. Mas a dúvida permanece: de que forma isso funciona?
Os puzzles oferecem uma sensação de controlo
A youtuber Karen Kavett – cujo canal na plataforma do Youtube é exclusivamente dedicado a quebra-cabeças – disse ao órgão de comunicação social que concorda que os puzzles são uma boa atividade para se distrair quando sente que não tem controlo de uma situação, uma vez que a tarefa de o construir está inteiramente ao seu alcance.
Existe um objetivo claro
Os puzzles podem fornecer uma meta clara e um senso de propósito num momento em que as pessoas se sentem desamparadas e incapazes de fazer planos futuros.
Jenny Maenpaa conta que, durante a quarentena, “muitas pessoas realizaram tarefas ‘sem sentido’ como tomar banho várias vezes, apenas para sentir que fizeram algo“. A especialista explica que esse tipo de comportamento não é algo produtivo, mas afirma que “fazer um quebra-cabeça é como trabalhar em direção a algo maior”.
Patrick K. Porter, criador da empresa do campo da neurociência BrainTap Technologies, observou que há um componente de neurociência no que diz respeito à construção de puzzles e a razão pela qual muitas pessoas os acham tão satisfatórios, em tempos de incerteza.
“À medida que se encontra uma peça do puzzle, é libertada a dopamina, que é a substância responsável por acalmar o cérebro. Quanto mais peças a pessoa encontra, mais dopamina se liberta e quando se terminam um puzzle, o resultado é bastante satisfatório”, contou ao The Huffington Post.
Pode sentir-se realizada
“Os seres humanos têm melhor desempenho quando há tarefas em que são competentes e podem ter sucesso, mas que os desafiam o suficiente para se sentirem realizados quando os completam”, diz Jenny Maenpaa.
A psicoterapeuta revela que “os quebra-cabeças são únicos na maneira como envolvem a parte lógica do cérebro (encaixando as peças) e o lado criativo (visualizando o quadro geral do trabalho concluído)”.
Patrick K. Porter observou que o cérebro humano adora rotinas, mas que com a pandemia, teve de arranjar forma de ocupar o espaço vazio.
“Numa situação normal, a parte do cérebro que resolve problemas fica ativa o dia todo, seja a conduzir, trabalhar ou cozinhar. É assim que o cérebro constrói e mantém a capacidade de permanecer flexível e ativo. Portanto, os puzzles são uma excelente opção para pessoas de todas as idades durante uma quarentena ou a qualquer momento“, detalha o especialista.
“As pessoas que encontram satisfação em fazer quebra-cabeças tendem a ser as que preferem uma vida planeada e prática“, continuou. “Essas mesmas pessoas precisam da recompensa de concluir uma tarefa, o que lhes dá uma sensação de realização.”
É uma experiência meditativa
Para muitos fazer um puzzle pode parecer meditativo. É assim que AJ Jacobs, um autor que está a escrever um livro sobre diferentes tipos de quebra-cabeças, descreve a experiência ao site The Huffington Post.
“É interessante sentir que estou a trabalhar num puzzle há cinco minutos, mas, na verdade, já passaram três horas”, confessa AJ Jacobs.
O foco nas peças individuais do puzzle e numa imagem geral, força as pessoas a estarem presentes e a relaxarem. Nesse estado meditativo, o cérebro pode bloquear pensamentos maus e até processar outras ideias e sentimentos que a estavam a incomodar.
“Quando mergulha num puzzle, o ritmo cardíaco vai baixar e vai ter uma sensação de paz, redução da pressão arterial e da ansiedade”, disse Donna Brown, fundador do site de puzzles The Missing Piece.