Quando a beleza esconde a inteligência

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Por incrível que pareça, a beleza pode não ser uma boa herança a nível da carreira profissional. Porquê? Porque (mesmo inconscientemente) tendemos a associar a beleza à falta de inteligência, colocando em causa as capacidades de alguém só por ser bonito. Afinal… como diz o ditado: Não há bela sem senão.

E Ana, 25 anos, que o diga. A trabalhar como apresentadora de televisão há quatro anos, a jovem revelou ao Delas.pt que desde o início sentiu necessidade de mostrar que era mais que uma ‘cara bonita’: “O facto de ser bonita obrigou-me a ter de provar que sou muito mais do que isso. Pois o nosso talento pode passar ao lado de quem considera, erradamente, que beleza é sinónimo de falta de conteúdo”.

Porque é que isto acontece? Devido ao efeito de compensação. “Temos tendência a avaliar mais positivamente tudo o que é bonito”, começa por explicar ao Delas.pt Teresa Garcia Marques, doutorada em psicologia e professora no Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA). No entanto, quando nos deparamos com uma comparação, o caso muda de figura, garante:

Sempre que avaliamos alguém bonito, não somos justos, somos enviesados a ver a pessoa melhor do que ela realmente é. Mas se tivermos a comparar duas pessoas: uma cara bonita e outra que achemos menos bonita, embora ambas possam ser competentes, o enviesamento vai ser ao contrário. Vamos achar que a pessoa que é bonita já tem características boas o suficiente e, então, vamos atribuir-lhe menos inteligência, enquanto à pessoa que não é tão bonita aumentamos-lhe a inteligência”.

Ana teve de provar as capacidades cognitivas que possui, mais do que “outras colegas com uma aparência menos cuidada”, conta.

Também o psicólogo José Carlos Garrucho corrobora esta ideia, afirmando ao Delas.pt que: “Seria lógico que a beleza fosse aceite em todas as circunstâncias, mas por vezes não é o melhor argumento. Porque a beleza, por si só não vale”. Por isso mesmo, o ser-se bonito, tanto pode ser benéfico, como não – vai depender de outros fatores.

Por isso, Ana viu, várias vezes, a beleza camuflar-lhe as capacidades cognitivas. E conta: “Era como se me resumisse a isso [à beleza]. As pessoas esquecem-se é que a beleza é passageira e se a nossa carreira se sustentar nessa característica, poderá ter um prazo de validade. Por isso sou a primeira a querer trabalhar para ser muito mais do que a ‘carinha bonita’”.

Ana conta ainda que teve de provar as capacidades cognitivas que possui, mais do que “outras colegas com uma aparência menos cuidada, à semelhança de colegas do sexo masculino”, refere.

Maria Garcia Marques diz existir, de facto, uma tendência para considerar o sexo feminino menos inteligente e explica: “Acontece mais com as mulheres porque, prototipicamente, a mulher é vista como mais bonita. O protótipo de beleza existe em características femininas e acontece mais com mulheres por causa disso”. Além disso, sublinha que, em contexto empresarial, ocorre “porque a maior parte dos avaliadores são homens”.

Como se mede a beleza cientificamente?

Determinar que algo ou alguém é bonito pode ser complicado, até porque aquilo que uma pessoa acha belo, outra pode não achar. Segundo Teresa Garcia Marques: “A beleza é avaliada em termos subjetivos, essencialmente. O critério baseia-se na existência de um grande consenso de avaliação de um grupo de pessoas. Pessoas com uma variabilidade de gostos e que acabam por avaliar a mesma fotografia, a mesma pessoa, como bonita”. Ou seja, a pessoa que reunir mais consenso acaba por ser considerada a mais bela.

Após vários estudos do género, a especialista em psicologia conta que foi possível identificar alguns traços comuns entre as pessoas que consideradas belas. Um desses traços é a simetria da face: “Quanto mais simétrica for uma face, mais pessoas a vão ver como bonita”, afirma Teresa Garcia Marques.

Além da simetria também o equilíbrio tem um papel importante na avaliação. Por isso, quando a face é harmoniosa, ou seja, com tudo proporcional (tamanho dos olhos, nariz, boca), mais facilmente é classificada como bonita. “Tudo o que cria um equilíbrio de imagem faz com que se goste e acabemos por ver ali beleza”, refere a especialista.

Por fim, também caras com características que nos sejam familiares tendem a ser mais apreciadas por nós. “Como as ‘vimos’ antes, tendemos a gostar delas. Os próprios anúncios habituam-nos a um tipo de beleza e nós acabamos por nos habituar a ter aquela imagem como protótipo de belo”, refere Teresa Garcia Marques.

[Imagem de destaque: Shutterstock]

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