A idade real não tem de ser a idade oficial

shutterstock_218870788

“Dependendo do estilo de vida, pode-se rejuvenescer até 15 anos”, afirma o mediático médico norte-americano Mehmet C. Oz, coautor com Michael F. Roizen do best-seller ‘You –Sempre Jovem’. Segundo estes especialistas, é possível controlar 70% do processo de envelhecimento, uma excelente notícia para quem gosta de assumir as rédeas da vida.

O cirurgião não se fica pelas palavras e dá o exemplo. Pratica ioga diariamente, corre duas vezes por semana, faz uma alimentação cuidada, gere bem o stress e descansa sete horas todas as noites. Resultado: aos 56 anos, tem biologicamente menos uma década do que a idade que figura na carta de condução, afirma.

“Detemos mais poder sobre o nosso corpo do que aquilo que pensamos”, garante. E, adianta (boas notícias senhoras!) : “O organismo de uma mulher com um estilo de vida adequado pode ser até 29 anos mais jovem, e o de um homem 27”.

Foi ele quem criou o conceito “idade cronológica versus idade biológica”. A primeira refere-se ao número de anos contados a partir do nascimento, a segunda diz respeito ao estado real de saúde do organismo. Prende-se com o estado do aparelho respiratório, do sistema circulatório e da estrutura osteo-articular – os primeiros a acusar os efeitos do tempo.

Pretende calcular a sua idade biológica e ir avançando na vida com saúde e beleza? Então recorra à medicina antienvelhecimento, já disponível em várias clínicas do país. Através de de testes bioquímicos, biofísicos, avaliação psíquica e do estilo de vida deteta eventuais patologias e despista predisposições, genéticas ou não, para determinadas doenças, de forma a que possam ser combatidas antes que surjam, asseguram os especialistas. Consoante os resultados das análises, é proposto um programa médico personalizado, nutricional e de exercício físico.


Leia também: O que tem de saber fazer antes dos 30 anos


As consultas devem ser feitas desde os 35 anos, quando o organismo começa a perder vigor, até aos 65. “A partir daí entramos no foro da geriatria”, esclarecem. Alertam, porém, que qualquer altura é boa para controlar o ritmo do envelhecimento. Afinal, o ser humano está programado para viver até aos 120 anos e pode fazê-lo com saúde até aos 90. Se tal não acontece, muitas vezes o erro é nosso. E qual é o mais frequente? Não é um, são três: o ócio, a alimentação desregrada e o stresse.

Exercício é fundamental

De acordo com Eduardo Martelo, fisiologista, treinar diariamente, nem que seja fazendo uma pequena caminhada, uma hora de yoga ou pilates, conjugados com duas aulas semanais que impliquem treinos funcionais (com uso do peso corporal ou outros) é o ideal não só para estabilização do peso mas também para a manutenção da massa muscular, que começa a diminuir a partir dos 30 anos, e melhoria do sistema cardiovascular e osteo-articular”.

Além de proporcionar qualidade de vida, o desporto também pode prolongá-la. Um grupo de pesquisadores da Universidade de Saarland, na Alemanha, constatou num estudo com ratos que aqueles que se exercitavam na rodinha de correr três vezes por semana apresentavam maior produção de proteínas que estabilizam os telómeros, ou seja, as pontas dos cromossomas onde residem as cadeias celulares de ADN. Com o seu encurtamento ao longo dos anos as células vão ficando impossibilitadas de se dividirem e acabam por morrer.


Leia a reportagem Mulheres em desportos de combate


Em estudos com humanos os mesmos cientistas verificaram que atletas profissionais de meia-idade apresentavam telómeros mais longos do que pessoas da mesma idade que não se exercitavam regularmente. Aliás, segundo um artigo do Instituto Nacional de Investigação de Saúde de Taiwan, publicado na revista The Lancet, 15 minutos de exercício por dia reduzem o risco de morte em 14% e aumentam a esperança de vida em três anos. A pesquisa seguiu 400 mil participantes durante cerca de oito anos.

Atenção ao prato

A comunidade médica internacional classifica a dieta mediterrânica como uma das mais saudáveis pois é composta por alimentos antioxidantes que impedem a inflamação das células causada pelos radicais livres, uma das principais causas do envelhecimento e até de doenças como o cancro e a arteriosclerose.

Os radicais livres são inevitáveis e decorrem do processo respiratório. Quando produzidos em quantidades moderadas combatem as bactérias e vírus presentes no corpo; em excesso danificam (como que enferrujam) as células saudáveis. Poluição, tabaco, exposição aos raios solares, stresse e alimentação incorreta dão origem à maioria dos desequilíbrios e a prática de exercícios intensos também é prejudicial.

Explica Teresa Branco, fisiologista : “Quando há um grande aumento no consumo de oxigénio dá-se maior libertação de radicais livres, pelo que a alimentação dos desportistas deve ser rica em alimentos com vitaminas A, C e E, os antioxidantes mais poderosos”. Tomate, uva preta, legumes de folhas verde-escuro, grãos e frutos vermelhos são alguns dos alimentos que devem estar à mesa diariamente.


Conheça Os Gadgets de beleza perfeitos para este Natal


“Cacau, chá verde, vinho tinto, azeite e peixes gordos também são excelentes, até para prevenir o envelhecimento cerebral”, reforça a fisiologista. Fora do cardápio devem ficar todos os produtos que contiverem gorduras saturadas ou transformadas, açúcar simples e invertido e farinha de trigo enriquecida, pois podem desencadear processos inflamatórios no fígado e estimulam o depósito de gordura corporal. O sal também tem de ser usado com parcimónia pois contribui para a subida da tensão arterial.

Manter a mente em equilíbrio

Mas atenção: cuidar do corpo não é, no entanto, mais importante do que cuidar da mente. E o primeiro passo consiste em saber como gerir o stress. Em excesso pode baixar a imunidade, contribuir para o desenvolvimento de doenças cardíacas e tensão arterial alta, provocar alterações cutâneas como eczemas e urticária, dores de cabeça, de costas e de estômago, diarreia, insónia e perda do desejo sexual.

Uma pesquisa da Universidade da Califórnia, em São Francisco, comprovou que o dia a dia vivido em tensão constante acelera o envelhecimento. O estudo, liderado pela psicóloga Elissa Epel, examinou 58 mães de 20 a 50 anos, 39 das quais cuidavam de filhos com autismo, paralisia cerebral ou outras deficiências. Os cientistas analisaram, através do já referido telómero, o grau de envelhecimento celular e constataram que este era mais acelerado nas mulheres que cuidavam de filhos deficientes (cerca de 10 anos).

“Há que saber parar de quando em quando. O stresse é corrosivo”, afirma Mariana Mexia, psicóloga e facilitadora de técnicas de relaxamento. Para auxiliar os pacientes mais ansiosos, ensina exercícios respiratórios e orienta breves momentos de meditação. “É como se estivéssemos a dizer ao corpo para acalmar”, observa. Nas sessões de psicoterapia ajuda a fazer alterações no estilo de vida. “Alguns são incompatíveis com as características de certo tipo pessoas mas elas insistem e não param para pensar”.

Por outro lado, nunca podemos esquecer a pele. É o nosso cartão de visita e espelha não só o que nos vai na alma mas também o estado de saúde. “Deve ser bem limpa duas vezes ao dia e hidratada com cremes adequados ao seu tipo e eventuais patologias”, diz a dermatologista Manuela Cochito. “Mas o essencial é protegermo-nos do sol. O envelhecimento é 80% fotoinduzido”. O protetor solar é, por isso, indispensável e deve ser constantemente renovado. Tratamentos pouco intrusivos, como peelings, enchimentos com ácido hialurónico ou bioestimulação podem ajudar a manter um aspeto mais jovem a partir dos 30/40 anos, mas o essencial são os cuidados básicos desde cedo pois, como afirma a dermatologista, “a vida é uma maratona e não uma corrida de 100 metros”.