Publicidade Continue a leitura a seguir

Quando a roupa que vestimos pode ser a chave ou a desgraça numa entrevista de empego

[Fotografia: iStock]

Publicidade Continue a leitura a seguir

A história de Anna Sorokin, a russo-germânica que se fez passar por uma herdeira rica e burlou em mais de 200 mil dólares (mais de 170 mil euros) membros da alta-sociedade nova iorquina, banca e hotéis vai chegar à televisão em 2022, com Julia Garner a incarnar esta protagonista para a Netflix.

Para lá das burlas, Sorokin deu que falar porque, em julgamento, a roupa que escolhia para se apresentar era também assunto. New York Times e várias revistas e websites de moda destacaram isso mesmo. Sorokin contratou Anastasia Walker, estilista de celebridades como Courtney Love, para modelar o seu aspeto diante do juiz.

Com os seu óculos de armação preta (de Celine), cabelo solto e roupa escura ou de cores neutras, por vezes formal, mas quase sempre com vestidos tipo “baby-doll” e marcas como Yves Saint Laurent, Victoria Beckham, Chloe, Miu Miu, Michel Kors, marcaram a sua imagem.

Anna tornou-se num ícone da moda com milhares de seguidores. A pergunta é: tal teve impacto no resultado? é que , recorde-se, a condenação foi de quatro a 12 anos de prisão e, antes de cumprir um quarto da pena, foi libertada por bom comportamento.

A roupa é, efetivamente, uma parte importante e passa uma mensagem sobre nós. Mas mesmo isso pode ser traiçoeiro e em situações chave é muito importante.

Assume-se que para um julgamento é preciso ir de forma formal, mas há quem vá muito mais além. Nos Estados Unidos da América existe todo um ramo na área da moda especializado em julgamentos que não se prende ao que é permitido ou não. Por exemplo, em Massachusetts, se uma pessoa vai com umas calças rasgadas ao julgamento, pode ser expulsa da sala. Parecem detalhes secundários mas podem fazer toda a diferença na hora de ditar a sentença.

A estilista Tia Stanko, por exemplo, recomenda o estilo unisexo “para evitar parecer demasiado feminina ou masculino”. “Se é uma mulher, mostrar demasiada pele ou usar roupa muito feminina e saltos podes ser entendido como uma forma de manipulação”, explica ao site Glamour. Outra estilista, Ginger Burr, vai mais além e propõe: “Tem de se estar que o que se veste nos identifica. Se possível, deve-se usar algo mais conservador que o normal mas continuar a ser nós mesmos. Isso transparece em vários pormenores como o corte da roupa, a cor, os acessórios. Qualquer que seja a razão pela qual se está em frente a um juiz, sentirmo-nos nós mesmos aumentará a autoconfiança e isso acaba por se traduzir em sinceridade”.

“A roupa influencia em muito o resultado de uma entrevista de trabalho na medida em que contribui para transparecer a imagem pessoal (juntamente com a higiene, os gestos, a educação). A roupa faz parte dessa comunicação não verbal que nos dá informações sobre como a pessoa se apresenta ao mundo e se relaciona”, explicou Nuria Avilla, diretora de Recursos Humanos da empresa IN2, ao mesmo site.

O importante, frisou Nuria, é que exista coerência entre o discurso e a imagem que se projeta. “A existência dessa coerência é o que influência a decisão final. Por exemplo, se me dizem que são perfecionistas e vejo que faltam vários botões na camisa faz-me duvidar. Se uma pessoa se define como atrevida e transgressora mas a roupa é muito tradicional, também me faz duvidar“, acrescentou.

Há aspetos a ter em conta relativamente à roupa nas entrevistas de emprego? “Para mim todos os que estejam relacionados com higiene pessoal”, referiu a especialista. No que toca ao preconceito de género, Avilla afirma que nunca o sentiu durante a sua carreira. “Simplesmente existe um sentido comum e coerência entre a roupa e o posto ou setor a que uma pessoa se candidata”.

Às vezes esse esforço pode ter resultados inesperados: “Na IN2 uma vez entrevistei um candidato para uma posição comercial. Tinha um currículo impressionante no mundo das tecnologias e a entrevista correu muito bem. No momento de nos despedirmos, esticou-me a mão e de repente a etiqueta do preço ficou pendurada no seu punho. O rapaz ficou vermelho de vergonha e disse: ‘Que fique registado que valho mais e não estou de brinde, mas, como disse no inicio da entrevista, estou nervoso’. A reação dele foi fantástica, soube aproveitar um descuido e mostrou resiliência e sentido de humor. Neste caso a sua personalidade e habilidades comunicativas superaram o contratempo”, contou Avilla