Mais de metade dos jovens dentistas inquiridos num estudo mostram-se descontentes com a profissão, sendo que 32% se pudessem voltar atrás escolheriam outra carreira e perto de um quarto quer completar os estudos noutra área.
O inquérito sobre a Empregabilidade em Medicina Dentária foi promovido pelos Conselho de Jovens Dentistas, da Ordem dos Médicos Dentistas (OMS), junto dos 4.745 dentistas inscritos na Ordem com menos de 35 anos, tendo recebido mais de 2.400 respostas.
Os resultados do estudo revelam um cenário de “grandes dificuldades” para singrar no mercado de trabalho e a baixa remuneração destes profissionais, com 51% dos inquiridos a afirmar que recebem menos de mil euros líquidos por mês.
A maioria exerce a profissão em uma (38%) ou duas clínicas (26%), sendo que, em média, 43% atendem entre seis e dez doentes por dia e aproximadamente 40% mais de 11.
Apenas 17% dos inquiridos dizem ter contrato de trabalho. Perto de 70% trabalham por conta própria, a recibos verdes, sem funcionários a cargo, uma situação que se agrava para quem trabalha para o Estado.
Quase 90% dos que estão colocados em centros de saúde ou hospitais públicos são contratados a recibos verdes, 48,9% estão contratados através de empresas, refere o estudo, acrescentando que “os poucos” que têm contrato estão integrados como técnicos superiores administrativos,
Na prática, realça, “nos serviços públicos, a totalidade dos médicos dentistas está contratada de forma irregular”.
O inquérito aponta ainda que 92,5% exercem em clínicas e consultórios privados, 4,1% em hospitais privados e 2,4% em centros de saúde.
No privado, a grande maioria (78%) recebe em regime de percentagem, e destes, quase 55% ganham entre 31% e 40% do valor do ato médico.
O estudo, a que a agência Lusa teve acesso, aponta que 45% demoraram um ano, ou mais, até conseguirem auferir um valor semelhante ao salário mínimo nacional.
Segundo o inquérito, 53% têm um rendimento mensal bruto abaixo dos 1.500 euros, o que conduz a que metade dos jovens médicos dentistas aufira menos de mil euros líquidos mensais. “Os baixos rendimentos podem justificar-se pela instabilidade dos vínculos contratuais (recibos verdes), refere o estudo, sublinhando que os que têm contrato de trabalho têm uma maior probabilidade de ganhar entre 1.000 e 1.500 euros mensais.
A grande maioria (72%) trabalha entre quatro e seis dias por semana, sendo que 20% trabalham até quatro dias e 5% mais de seis dias por semana. Quase 70% trabalham mais de oito horas e 22% ultrapassam as 10 horas diárias.
Os resultados deste inquérito vão ao encontro das preocupações que o bastonário da OMD, Miguel Pavão, tem manifestado publicamente sobre o excesso de médicos dentistas e as condições de subemprego dos profissionais mais jovens, refere a Ordem em comunicado.
O presidente do Conselho de Jovens Médicos Dentistas, Tiago do Nascimento Borges, citado no comunicado, afirma que o estudo mostra que “a medicina dentária é uma profissão marcada pelo subemprego e precariedade nos primeiros anos de exercício profissional, com condições pouco dignas a nível de condições de trabalho e remuneratórias”.
Alertou que muitos jovens dentistas começam a receber 200 ou 300 euros em situações que, por vezes, se prolongam no tempo. “Esta realidade é preocupante e tem tendência a piorar, uma vez que mesmo após dez anos de carreira e com uma carteira de pacientes mais fidelizada, quase 80% dos médicos dentistas ganham menos de 1.500 euros por mês e a recibos verdes, ou seja, ganham a 11 ordenados por ano sem direito a subsídios de férias, de Natal ou de alimentação, e com mais dificuldade em obter baixa em caso de problemas de saúde”, lamenta Tiago do Nascimento Borges.