Confiança e cumplicidade são aliadas das mulheres no prazer, diz estudo português

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[Fotografia: Pexels/Karolina Gabrowska]

Estudo que procura analisar o prazer sexual dos portugueses anunciou os primeiros dados preliminares sobre práticas sexuais. A saúde mental, a aceitação do corpo, a segurança e confiança são agentes de prazer. Mas a angústia a e ansiedade deixam marcas do contrário.

Apesar de as mulheres reportarem “alguma culpabilidade em relação à masturbação – os homens referem-na como associada mais ao consumo de pornografia -, algumas falam em ter mais orgasmos a sós do que no contexto da relação, sem a pressão do olhar do outro, um momento de maior liberdade e sem constrangimentos”. Este é um dos destaques evidenciados por Patrícia Pascoal, investigadora principal do estudo sobre o Prazer Sexual e que é revelado esta quarta-feira, 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Dados, sublinhe-se, preliminares que vão agora ser estudados com mais detalhe.

Segundo a investigação, “a maioria das pessoas masturba-se (65%) e fá-lo semanalmente (47,3%)”. Cerca de metade dos inquiridos, 47,3%, tem atividade sexual numa base semanal. “Os motivos apontados para as pessoas terem deixado de se masturbar incluem a priorização do prazer sexual com outra pessoa, a integração da masturbação na sexualidade com outras pessoas, a diminuição do interesse sexual, a falta de vontade em casa, ser maçador e vergonha”, lê-se no documento que analisa respostas online de 1.624 pessoas entre 18 e 83 anos, das quais quase 2/3 são mulheres.

Numa análise em que os respondentes fala das práticas sexuais e do prazer que extrai delas conclui-se que, com regularidade, nove em cada dez indivíduos tenta novas posições sexuais, oito em cada dez pessoas assiste a pornografia a sós, 65% usa brinquedos sexuais e, em igual proporção, admite fazer sexting com consentimento. Um quarto dos inquiridos (25%) revelou fazer sexo sado-maso ou fetichista e 12% pratica sexo em grupo com regularidade.

Ansiedade e o culto e as marcas do corpo como inibidores

A atitude com a qual se está na atividade sexual é decisiva no prazer que se obtém. “Há um grande foco no corpo durante a atividade sexual, é um inimigo”, afirma Patrícia Pascoal, que é também diretora do mestrado Transdisciplinar de Sexologia da Universidade Lusófona. E acrescenta: “As estrias, a gravidez, o corpo que não voltou ao que era e a culpabilidade são elementos geradores de ansiedade e reportados por mulheres que participaram no estudo”, refere a investigadora deste estudo que foi desenvolvido com a colaboração da sexóloga Marta Crawford e fundadora do Musex, e de Tiago Sigorelho, presidente do Gerador.

Há uma ansiedade diante da atividade sexual, as mulheres estão preocupadas, tensas e não estão focadas nas sensações eróticas, mas se estão ou não a agradar. Nota-se um predomínio da satisfação para com a imagem corporal, que é ainda mais importante para as mais novas. As mulheres falam muito do corpo atlético e tonificado, há um foco obsessivo, quase”, explica Patrícia Pascoal.

O conhecimento do corpo com o avançar da idade, a desinibição, a confiança e segurança no contexto de uma relação são fatores revelados por mulheres neste estudo, o que indica, como refere a investigadora, que o “prazer sexual está ligado ao património emocional, relacional, de cumplicidade”.

E se as mulheres parecem estar mais à vontade para comunicar o que querem e, ainda mais, o que não querem, o processo de partilha com o parceiro arrisca deteriorar-se quando há um problema. “Releva-se a importância de comunicar o que se gosta num encontro, mas, o que é relativamente novo aqui é dizer-se o que não se gosta”, vinca Patrícia Pascoal. O estudo diz mesmo que 78% fala sobre o que gosta e não gosta.

Quase duas em cada dez tem problemas sexuais

Porém, aquela conquista está longe de ser absoluta. “Quando há um problema, a comunicação deixa de ser boa, piora. Há uma dificuldade em falar dele”, alerta a investigadora.

“São 17% as pessoas que participaram no estudo e referem sentir que têm um problema sexual” e estes são de enorme diversidade, como se lê no relatório. Entre eles, destaque para a “discrepância de desejo entre as pessoas, “ausência de líbido”, dificuldades eréteis, dor sexual, problemas devido à existência de problemas de saúde e terapêuticas, ausência de prazer sexual, dificuldades em atingir o orgasmo, inibição sexual, ansiedade de desempenho durante a atividade sexual, pouca frequência, dificuldades no envolvimento com outra pessoa, medo, inibição, falta de aventura, ejaculação rápida, endometriose, falta de sensibilidade peniana e timidez durante a atividade sexual”.

Dos que participaram no inquérito, a larga maioria (63%) está em relações monogâmicas. Mediante a pergunta aberta sobre as relações em os inquiridos se encontram, o estudo dá nota de larga amplitude de respostas. Entre elas, lê-se, “a ”separação em curso”, “relação aberta”, “amigo com benefícios”, “monogamia com relação extra não consentida”, “casado com amantes secretos”, “casada com relação extra-conjugal”, “não monogamia não consentida”, “relação a três”, “relação com pessoa casada”, “casal de swingers”.