Metade das vítimas de violência doméstica nunca contou nada a ninguém

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Cerca de metade das mulheres europeias que foram vítimas de violência doméstica nunca contou a ninguém. Este é um dos dados revelados esta terça-feira, 21 de novembro, pelo Instituto Europeu para a Igualdade de Género (EIGE, tendo em conta os casos relatados, estamos perante”apenas uma fração da realidade“, denunciou terça-feira, 21 de novembro, o Instituto Europeu para a Igualdade de Género (EIGE).

A violência contra as mulheres é um problema muito maior do que as estatísticas mostram“, afirma em comunicado o EIGE, que alertou para este problema numa conferência sobre o Índice de Igualdade de Género 2017, que decorreu esta terça-feira, 21 de novembro, no Parlamento Europeu, em Bruxelas.

Segundo o instituto, quase uma em cada duas mulheres (47%) que sofreu violência nunca disse a ninguém, “seja à polícia, serviços de saúde, um amigo, vizinho ou colega”.“A violência contra as mulheres é tanto uma causa como uma consequência da desigualdade de género“, afirma a diretora do EIGE, Virginija Langbakk.

Virginija Langbakk sublinha que “nas sociedades que toleram a violência”, os agressores não são punidos, as vítimas são culpadas e as “mulheres têm menos probabilidades de falar sobre isso”. Para acabar com essa “cultura de silêncio e de culpa das vítimas”, são necessárias respostas “mais fortes dos governos, da polícia e da justiça”.

O relatório do EIGE vem mostrar uma realidade mais grave do que aquela que era apresentada em 2014, pela Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia. Nesse estudo, cujas principais conclusões pode reler abaixo, ficava bem evidente este muro de silêncio. A mesma investigação indicava que o número de mulheres [vítimas de violência doméstica] que apresentava queixa às autoridades ou às instituições que as poderiam apoiar continuava a ser diminuto. Apenas um terço que foi vítima do parceiro relatava o caso e apenas um quarto, 26%, das que foram vitimizadas por alguém que não do casal o fazia.

Assédio: uma em cada duas europeias já passou por isto!

 

“As mulheres devem saber que as suas queixas serão levadas a sério e a justiça será feita para que possam recuperar as suas vidas“, frisa Langbakk.

À luz das recentes denúncias divulgadas na comunicação social, o Parlamento Europeu apresentou uma resolução para o combate ao assédio e ao abuso sexual, na qual exige uma abordagem de tolerância zero em relação ao assédio sexual, encoraja as vítimas a falar e exorta os políticos a atuarem como modelos responsáveis na prevenção e combate do assédio sexual.

Portugal no fundo da tabela europeia da igualdade de género

O assédio sexual não é inofensivo e tem um custo elevado para as pessoas, as suas famílias e o resto da sociedade”, alertou a responsável.

Para acabar com a violência, “precisamos urgentemente de enfrentar a impunidade e o estigma social, que levam a uma subnotificação“. “Os homens e os rapazes também têm de ser envolvidos na prevenção da violência, porque a igualdade de género é responsabilidade de todos“, diz a também presidente do Comité do Parlamento da UE sobre os Direitos da Mulher e a Igualdade de Género.

Para ilustrar o espetro da violência, o EIGE desenvolveu uma nova ferramenta, como parte do Índice da Igualdade de Género, que avalia as várias formas de violência contra as mulheres, desde o assédio sexual até à morte.

Também ajuda a medir outras formas de violência, como o tráfico de seres humanos, a violência entre parceiros íntimos, agressões sexuais e violações.

Fenómeno “prevalente, grave e pouco relatado”

“Pela primeira vez, temos uma pontuação comparável para violência contra mulheres na UE e em cada Estado-membro”, explica.

A pontuação da UE é de 27,5 em cada 100 (quanto maior a pontuação, pior a situação), mostrando que “o fenómeno é prevalente, grave e pouco relatado“.

As pontuações variam entre 22,1 na Polónia a 44,2 na Bulgária. A alta pontuação na Bulgária deve-se principalmente à taxa de não-divulgação da violência, que é mais de três vezes a média da UE (48,6 e 14,3, respetivamente).

Segundo o Eurobarómetro de 2016, 15% dos europeus ainda consideram a violência doméstica como uma questão privada, mas as coisas começaram a mudar nos últimos tempos e as mulheres estão a denunciar mais. As recentes alegações de assédio sexual em Hollywood levaram à campanha mundial #MeToo que pretende quebrar o silêncio sobre o assédio sexual e a violência contra as mulheres.

CB com Lusa

Imagem de destaque: Shutterstock