Nobel da Paz: quatro laureados de acordo na necessidade de persistir na luta pela paz

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1997 Nobel Peace Prize winner Jody Williams attends a speech at the Estoril Conferences - Global challenges, local answers, in Estoril, Portugal May 29, 2017. REUTERS/Pedro Nunes - RTX384X9

Jody Williams, distinguida com o Nobel da Paz, em 1997, pela campanha internacional pela proibição das minas, considerou hoje, durante uma das Conferências do Estoril que reunia quatro laureados com aquele prémio, que a principal consequência do Nobel foi levar, anos mais tarde, ao Tratado de Otava para a eliminação das minas terrestres.

Mas, frisou, o principal efeito do Nobel deve ser o de demonstrar que “é responsabilidade de todos os cidadãos tornar o mundo melhor para todos, incluindo para aqueles de que não gostamos” e que “ninguém muda o mundo sozinho”, podendo apenas mostrar “aos outros que têm o poder de mudar o mundo”.

Quatro prémios Nobel da Paz coincidiram hoje em apontar a necessidade de persistir num esforço conjunto para alcançar a paz como principal benefício decorrente daquela distinção, num debate sobre “O poder dos Nobel”.

“Permito-me retirar estas conclusões: não podemos desresponsabilizar-nos, não podemos fazer nada sozinhos, não podemos negar a realidade e temos de ser persistentes”, resumiu Lawrence Gonzi, ex-primeiro-ministro de Malta, moderador do debate.

Bernard Kouchner, fundador dos Médicos Sem Fronteiras, José Ramos Horta, antigo Presidente de Timor-Leste, Rajendra K. Pachauri, fundador do Movimento Proteger o Nosso Planeta, e Jody Williams, fundadora da campanha contra as minas terrestres e presidente da Iniciativa das Mulheres Nobel, relataram experiências diferentes, mas concordaram que os esforços pela paz não terminam com o prémio.

A perspetiva mais pessimista partiu de Bernard Kouchner, que evocou os primórdios da assistência médica humanitária em conflitos armados, em clínicas isoladas em zonas remotas de África e a situação atual, em que se multiplicam as missões do género mas a situação é pior, com mais de 300 ataques em 2016 contra hospitais, ambulâncias e voluntários.

“Por isso penso que o efeito não foi bom. Hoje é mais ou menos normal voluntariar-se para ajudar as pessoas, mas é mais difícil. A situação está pior”, disse.

Ramos Horta também avaliou a situação como pior, referindo que, como outros Nobel, deu “muitas palestras”, mas que parece que não lhes dão ouvidos, porque “o mundo está pior”.
“A resposta é apenas não desistir, não desistir, não desistir”, defendeu o ex-presidente timorense, suscitando um forte aplauso da audiência.

Rajendra Pachauri concordou que “há grandes desafios, determinantes para a paz”, como as alterações climáticas e as migrações”, mas considerou que a atribuição do Nobel ao Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas em 2007 permitiu uma consciencialização a nível global da urgência de agir pelo ambiente, que não foi estranha à conclusão do Acordo de Paris, que “resulta muito” do que o Painel “trouxe ao debate”.