Que febre é esta dos biquínis? O fenómeno das marcas portuguesas de roupa de banho

Com atilhos ou sem alças, com folhos elaborados ou muito simples, mais ousados ou mais conservadores, sempre com padrões que procuram a originalidade, as marcas de fato de banho Made In Portugal à venda na Net, e não só, crescem como grãos de areia na praia.

E se há insígnias que já se impuseram pelo tempo, outras chegam com a chancela de quem é figura pública. Falamos, por exemplo, de Magali Aravena, mulher do jogador do Benfica Sálvio. Mas, afinal, que febre é esta que está a atingir o mercado nacional? Na galeria acima, reveja 30 das muitas marcas nacionais que estão a dar cartas à beira-mar.

“Desde há uns cinco ou seis anos que este movimento se tornou evidente junto das miúdas portuguesas. Antes, só as pessoas que viajavam, que iam ao Brasil e traziam modelos é que tinham acesso a peças diferentes, mas, desde que passou a haver mais diversidade cá, as miúdas perceberam que era giro andar com um biquíni diferente na praia”, conta Marta Oliveira.

Saiba como escolher o biquíni certo para o seu tipo de corpo

Para a fundadora e designer da marca nacional 38 graus, o passo seguinte foi simples: “Elas começaram a ter um vício que passa por comprar o número máximo de peças de banho para poderem ter os mais originais, conseguindo, assim, as fotos mais giras para as redes”, refere a mesma empresária.

“A praia já não é um lugar descontraído”

“É um fenómeno social chamado Moda”, acrescenta Cristina L. Duarte. A socióloga e autora do livro Moda e Feminismos em Portugal vinca que “é curioso e feliz serem exatamente marcas nacionais, em que ‘o que é nacional é bom ‘.”

“A moda de praia está muito em voga”, refere Margarida Brito Paes. A editora de Moda e Beleza do Delas.pt acrescenta que o areal, “hoje, já não é um lugar descontraído, as pessoas vão arranjadas porque é o sítio onde estão mais expostas fisicamente.” Um caso ainda mais veemente se se “passar férias em sítios com muita gente conhecida”.

É claramente uma febre”, diz Marta Oliveira, que revela: “Há miúdas que compram seis e sete biquínis só numa marca, não imagino o que possam comprar nas outras outras”.

“Os pais ajudam muito a fomentar este movimento”, refere Marta Oliveira

A empresária da 38 graus acrescenta mesmo que os pais estão longe de ser agentes passivos nesta ‘loucura’. “Eles ajudam muito a fomentar este movimento. Há muitos que me ligam a avisar que a filha vai à loja no dia seguinte e fazem logo o pagamento, previamente. E se houver um ou outro atraso, chateiam-se a sério connosco...”, desabafa a fundadora da marca.

Tempo, dinheiro, praia, corpos e likes… o motor da roupa mini

Brito Paes nota que o público que traz cor e bronze a este mercado é diferente da maioria das clientes que compra roupa de banho. “Falamos de adolescentes, de miúdas que têm dois meses de férias, que fazem uns trabalhos em regime de part time ou de hospedeira, e por isso têm não só muito tempo para ir à praia – e com isso usar muitos biquínis diferentes, mas também o seu próprio rendimento para os comprar.”

Nem só o tempo e o dinheiro – fatores de luxo, é certo – dão mais colorido a esta moda e potenciam o negócio. Há argumentos sociais e a editora de Moda e Beleza do Delas.pt fala em dois: “um é o ‘efeito bando’, bastando que a rapariga mais popular use determinada marca de biquínis para que as amigas passem a comprar (e se forem todas mesmo giras, até as suas rivais as vão querer imitar); a outra razão é a proliferação do culto do corpo nas redes sociais.”

E, como verifica Margarida, “as fotografias em biquíni e fatos de banho têm tendencialmente mais likes do que as outras”. Por isso, “numa altura em que ser uma celebridade das redes sociais é um ambição real de muitas raparigas, ter muita roupa de praia torna-se, de facto, mais desejável, porque quanto mais roupa, mais fotografias diferentes”.

“As fotografias em biquíni e fatos de banho têm tendencialmente mais likes do que as outras”, vinca a editora de Moda e Beleza do Delas.pt

Cristina L. Duarte também tem olhar semelhante sobre os motivos que estão a fazer crescer a roupa reduzida. “Numa idade, diria eu, a partir dos 12 anos, é cultural começarmos a observar e a imitar o modo de vestir, numa altura em que se procura também o grupo de pares”, contextualiza a socióloga. Tendo por base esta realidade, “o poder de ser igual” é que pode estar a impulsionar esta demanda.

Uma procura e uma viragem comportamental que começaram, como confirma Margarida, há “cinco a seis anos”. A editora lembra até que “a primeira marca portuguesa muito falada foi a Cantê”.

Negócio rentável e muito talento disponível no mercado

Para lá do que a lei da oferta e da procura e a economia ditam, que outros fatores levam tantos e tantas a aplicar tempo e dinheiro neste nicho tão sazonal? “Um biquíni consome menos material do que uma peça de roupa – de um metro de tecido fazemos dois ou três -, conseguimos reduzir os custos”, explica Marta Oliveira.

A este corte na despesa, junta-se a produção que, assevera a responsável, “sai mais barata porque as fábricas fazem um preço estimado e bastante competitivo para todos os biquínis, em que os mais simples vão compensar os mais elaborados”.

Cristina L. Duarte concorda que este negócio “proporciona um investimento menos avultado – menos matéria-prima, tecido – e há muita gente, há muitos anos, a sair dos cursos de Design de Moda (superiores e profissionais) e muita gente, sobretudo isso, a precisar de trabalhar”.

“O principal motivo é porque, de facto, se trata de um tipo de roupa que vende. Há muita gente que se confessa viciada”, analisa Brito Paes, que olha para este negócio como “proposta aliciante”, tendo em conta que há “muita predisposição das consumidoras para descobrir marcas novas”.

“O design diferente, os padrões exclusivos, o facto de serem a escolha de influenciadores e a produção reduzida […] são fundamentais na estratégia de marketing”, refere Margarida

Investimentos que têm na exclusividade um dos seus segredos menos bem guardados. “Quando olhamos para as marcas portuguesas de roupa de banho, nunca falamos de mass market, nem é essa a ideia”, lembra a editora do Delas.pt.

“Aqui”, enumera Brito Paes, “o design diferente, os padrões exclusivos, o facto de serem a escolha de influenciadores e a produção reduzida de peças (em que subjaz a ideia de exclusividade) são fundamentais na estratégia de marketing” para esta área de negócio que “começou por vender no Facebook”, mas está a crescer em toda a parte.

Imagem de destaque: Shutterstock

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