Quem é a cabeleireira que está a processar o estado português por desigualdade

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Vânia de Oliveira [Fotografia: DR]

Tem 41 anos, é de Braga, tem salão próprio desde 2006 e já penteou celebridades e manequins. Vânia de Oliveira interpôs processo contra o estado português, na quarta-feira, 27 de janeiro, por considerar não haver igualdade de tratamento no setor dos cabeleireiros, o que permite que salões encerrem por todo o país devido à pandemia, mas não impede que celebridades possam fazer os cuidados capilares e profundas alterações de imagem.

“Não acho justo sermos só nós a fecharmos e não acho que sejamos um palco para o alto risco de contactos de covid-19”, começa por afirmar ao Delas.pt. “Quando vi a publicação da Cristina Ferreira e ainda me revoltou mais. As apresentadoras estão sempre penteados, isto quer dizer que só elas é que têm direito, só elas é que são mulheres, só elas é que existem em Portugal?”, indaga Vânia de Oliveira, que dirige atualmente o espaço Hair & BodyClinic.

Apesar da tentativa de obter uma reação oficial por parte da apresentadora e diretora de Ficção e Entretenimento da estação de Queluz de Baixo, até ao momento tal não foi ainda possível.

Vânia de Oliveira [Fotografia: DR]
Vânia de Oliveira [Fotografia: DR]

Por isso, pede para que as famosas façam como as outras mulheres: “que se arranjem em casa, como nós todas”. “Pretendo mais a igualdade. Não quero que os salões abram e que, por minha causa, morra mais gente. Mas, ao fecharmos, todos temos mesmo de estar fechados. Só quero igualdade. Não quero abrir numa altura em que estão a morrer 300 pessoas por dia. Só quero que haja igualdade só isso que peço”.

Uma ação interposta no Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga que visa o Estado Português – e não Cristina Ferreira – , “que já tem juiz atribuído”, mas que só deve dar respostas mais formais “a partir de segunda-feira [2 de fevereiro]”. Uma acção contra o estado português que quer ir mais longe: “As lojas de roupa estão fechadas e não pode ser vendida roupa no supermercado. Mas, no caso dos cabelos, as lojas de produto de cabeleireiro estão abertas e também se vendem tintas nos supermercados. A minha ação faz referência a tudo em modo de igualdade”, afirma Vânia de Oliveira, mãe de um rapaz, que diz estar a assumir metade dos custos desta ação, a par dos advogados que a representam.

“Estive doente há algum tempo. Fui doente oncológica, em 2017, durante três anos andei metida em hospitais e cirurgias, fiz tudo. Livrei-me de uma coisa, mais ou menos, fiquei com dívidas à Segurança Social porque não tinha dinheiro pagar tudo e agora deparo-me com isto. Não aguento com tudo. Não tenho apoio de ninguém”, justifica a cabeleireira e gerente de Braga, que diz contar com o apoio de vários quadrantes: “outras gerentes, outras cabeleireiras e clientes”.

“Todas as mulheres estão um bocado revoltadas. A Cristina fez um bocado má figura. Nenhuma mulher está a expor o seu cabelo, madeixas, extensões e la faz com que isso seja visto por toda a gente, ainda por cima numa situação em que os cabeleireiros têm de estar todas fechados”, insiste.

Vânia de Oliveira [Fotografia: DR]
Vânia de Oliveira [Fotografia: DR]

Esta é uma ação que, segundo Vânia de Oliveira, se junta a outras que já tinham tido lugar. “Há duas ou três pessoas que me escreveram e que dizem que meteram ações desta natureza noutras fases da pandemia. Não sei se a minha vai dar em alguma coisa, espero que sim, elas também estão espera”, revela. “O que reivindico é o direito à igualdade e que se feche tudo a ver se este vírus passe, e que não sejam só sempre os mesmos a sofrer. Tem de fechar tudo para este vírus acabar. Já chega de gente a morrer”, acrescenta.

“Gostava até de ter uma reação da Cristina”

Embora a ação seja interposta agora, Vânia conta que já andava a “pensar nisto há algum tempo”. Se a imagem da apresentadora, diretora de Ficção e Entretenimento da TVI e acionista da Media Capital com o novo look para o novo formato espoletou a sua ação, a verdade é que esta gerente e cabeleireira “gostava até de ter uma reação de Cristina”.


Gostava que ela explicasse às mulheres todas porque publicou a imagem a fazer a sua mudança de visual. Quando, para uma mudança de visual daquelas, é preciso cortar o cabelo, colocar extensões e pintar. Mas só ela é que pode”, desabafa a especialista.

Nós temos de ficar peludas, com o dito bigode português, com brancas, enquanto as outras pessoas da televisão não”, refere a cabeleireira, que diz já ter penteados celebridades e modelos, sem querer avançar nomes.