
Num apelo direto ao presidente norte-americano Donald Trump e um dia depois de ter tomado posse e de ter assinado ordens executivas relativas políticas de migração e revogação dos direitos transgénero, a reverenda da igreja episcopal de Washington, Mariann Edgar Budde, pediu-lhe “misericórdia”.
No sermão que proferiu no serviço religioso, Budde evocou a crença de Trump de que foi salvo por Deus de ser assassinado e pediu: “Sentiu a mão providencial de um Deus amoroso. Em nome do nosso Deus, peço-lhe que tenha misericórdia das pessoas do nosso país que estão assustadas neste momento“.
A bispa afirmou, com Trump sentado nos primeiros lugares diante do altar, que “há crianças gays, lésbicas e transgéneros em famílias democratas, republicanas e independentes, algumas que temem pelas vidas”. Budde lembrou também “as pessoas que colhem as nossas plantações e limpam os nossos prédios de escritórios, que lavam a louça depois de comermos em restaurantes e trabalham nos turnos noturnos em hospitais, elas podem não ser cidadãs ou ter a documentação adequada, mas a grande maioria dos imigrantes não é criminosa”.
Budde, que fez o sermão deste ano, juntou-se a outros líderes da catedral para criticar Trump anteriormente, repreendendo a sua “retórica racializada” e culpando-o por incitar à violência em 6 de janeiro de 2021, quando ocorreu a invasão do Capitólio.
Quando regressou à Casa Branca, Trump foi questionado sobre o sermão: “Não foi muito emocionante, pois não?. Não achei que fosse um bom serviço”, apontou o presidente norte-americano, enquanto caminhava com a equipa em direção à Sala Oval.
Posteriormente, o presidente dos Estados Unidos da América, que regressa à Casa Branca, qualificou a bispa episcopal de Washington, de “desagradável”. “Esta pseudo-bispa que falou no serviço nacional de oração, na terça-feira de manhã, era uma radical de esquerda que odeia Trump”, escreveu o líder norte-americano na plataforma Truth Social, rede social da qual é proprietário.
O jornal The New York Times revelou que Budde, em conversa telefónica, declinou comentar a reação de Trump ao sermão e refere que decidiu fazê-lo após o medo que sentiu junto das comunidades de imigrantes e LGBT. A reverenda refere que queria que o novo Chefe de Estado “estivesse consciente de que as pessoas que estão assustadas”.
Quem é Mariann Edgar Budde?
Aos 65 anos, a reverenda é a primeira mulher a liderar espiritualmente a Diocese Episcopal de Wasghington, fazendo-o desde 2011. Antes e por duas décadas tinha prestado serviço em Minneapolis.
De acordo com a biografia disponibilizada pela diocese, Budde, casada, com dois filhos adultos e avó, cresceu entre Nova Jérsia e Colorado, formou-se em História pela Universidade de Rochester. Na biografia disponibilizada pela Diocese, a reverenda é mestrada em Estudos da Divindade, em1989, e doutorada em Ministério (2008) pelo Seminário Teológico da Virgínia.
Alguns dos sermões que tem proferido têm sido publicados em documentos periódicos e livros, tendo já publicado três: Há dois anos editou How We Learn to Be Brave: Decisive Moments in Life and Faith (Como Aprendemos a Ser Corajosos: Momentos Decisivos na Vida e na Fé, em tradução direta). Em 2019, Budde publicou Receiving Jesus: The Way of Love (Receber Jesus: O Caminho do Amor) e, em 2007, Gathering Up the Fragments: Preaching as Spiritual Practice ( Reunir fragmentos: a pregação como prática espiritual)