Quintal: O restaurante da Amadora onde se petisca ‘à grande e à portuguesa’

Margarida Breia tinha uma licenciatura em ciências farmacêuticas, quase três anos de experiência na indústria, quando um anúncio de trespasse lhe mudou a vida. Foi no bairro da cidade onde cresceu e viveu toda a vida, na Venteira, Amadora, que encontrou a nota afixada no número 5B da Rua Bernardim Ribeiro.

A vontade de ter um restaurante já estava lá. Afinal, o irmão era chef de cozinha e a família Breia sempre esteve habituada a ter a casa cheia, com muitos petiscos para todos os amigos e familiares que apareciam. “Todos os fins de semana tínhamos pessoas em casa”, recorda a jovem. “Além disso, queria ter um sítio onde as pessoas da Amadora também pudessem ir para jantar, sem terem de se deslocar ao centro de Lisboa.”.

Talvez por esse motivo, este Quintal seja tão familiar. Chamou-o assim para homenagear o antigo espaço, um restaurante tradicional português, que ficou assim conhecido por ter um pequeno jardim verde nas traseiras. Este é o único elemento que hoje une passado e presente, já que tudo o resto mudou: desde o acolhedor hall de entrada com uma parede de portas pintadas com cores rústicas e duas poltronas azul-elétrico à sala principal, onde as mesas e diferentes cadeiras cativam com a sua imperfeição.

As grandes mudanças aconteceram, claro, na cozinha, onde antigamente saiam os pratos típicos de tasca. Depois de um empurrãozinho de Rui, o proprietário da famosa petisqueira Maria Azeitona (que tem sempre muitas filas de espera), na Venteira, Margarida resolveu que o petisco era o caminho a seguir, agradando assim aos que são da terra.”No outro dia tive cá um casal de turistas, mas a maioria são mesmo portugueses que até vêm de outras zonas da cidade”, sublinha a proprietária, que com o tempo, juntou alguns dos clássicos das suas refeições em família, como o bacalhau à Brás, as moelas e os ovos rotos a outros petiscos mais elaborados, com assinatura de chef.

David Coelho, ex-chef executivo do Sheraton, foi o consultor do menu durante os primeiros dois anos do restaurante e, em janeiro de 2019, assumiu finalmente as operações da cozinha, onde hoje está diariamente. Esta mudança manifestou-se em algumas alterações na carta, como por exemplo a introdução de um prato totalmente vegetariano, coração de alface grelhado com vinagrete de mel. É um dos mais discretos do menu, mas também um dos que mais surpreende.

Os petiscos preferidos continuam a ser, no entanto, os estaladiços de alheira, o tártaro de corvina, mas também a recente morcela com batata-doce e compota de tomate, que pode também fazer em casa, já que O Quintal cedeu esta receita ao Delas.pt. Além dos petiscos, o restaurante tem ainda uma lista curta de pratos em tamanho normal, para os que não gostam de dividir ou que preferem uma refeição individual.

David Coelho não se limita à criatividade dos petiscos, marcando ainda a diferença pelo cuidado com que prepara cada pratinho, fazendo todos os molhos e preparações, de raiz. Nada é comprado já feito, nem mesmo a compota de tomate que acompanha a famosa morcela. “Fazemos mesmo tudo aqui na cozinha e temos muito cuidado com os ingredientes. Não trocamos pota por polvo, aqui gostamos do que é autêntico”, frisa Margarida.

As sobremesas caseiras são apenas mais um espelho desta filosofia. São preparadas na casa, claro, e mudam todos os dias, sendo apresentadas num tabuleiro. Pode ser que tenha a mesma sorte que nós e que venha para a mesa uma gulosa pana cotta de frutos vermelhos.

 

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