Racismo: Guia para educar as crianças para o respeito pela diferença

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Não é segredo que as crianças são instintivas e que os seus comportamentos são o espelho das atitudes dos adultos que admiram todos os dias enquanto crescem.

Num momento em que existem protestos contra o racismo um pouco por todo o mundo com o movimento #BlackLivesMatter, devido à morte de George Floyd – um cidadão norte-americano de 46 anos que sucumbiu às mãos da polícia norte-americana a 25 de maio -, o Delas.pt esteve à conversa com Inês Afonso Marques. A psicóloga clínica especialista na área infantojuvenil explicou de que forma os pais devem educar os filhos para o respeito pela diferença.

O papel dos pais

A especialista começa por dizer que “os pais são modelos para as crianças, pelo que estas estarão sempre atentas àquilo que eles fazem e dizem”. Sendo que é durante a infância que o comportamento de cada indivíduo se forma, “as crianças irão ganhar consciência de diferenças que observam nos outros, começando a surgir questões normativas, sobre as diferenças que notam, quer sejam diferenças decorrentes do género, da idade ou da raça”, explica a psicóloga.

Quando educados desde cedo, conviver com as diferenças pode ser algo fácil. Mas para tal acontecer, é vital que exista diálogo e demonstrações práticas para que as crianças compreendam que a igualdade está presente mesmo onde há diversidade.

Para a especialista, é importante que, “desde cedo, as crianças tenham contacto com a noção que existem dimensões em que somos todos iguais e que existem outras em que somos diferentes e que nos tornam únicos e especiais”.

Como tal, Inês Afonso Marques diz ao Delas.pt que “o respeito pela diferença não precisa de ser passado de forma formal”, mas a especialista sublinha que, “muitas vezes se pode recorrer a livros para sublinhar e conversar de forma mais ou menos explícita sobre princípios, ideais e valores que os pais queiram passar aos filhos”.

“Os pais podem deixar de lado as palestras e aproveitar as interações do dia-a-dia, e as brincadeiras nas quais o filho se envolve, para que os valores que são importantes para a família façam parte desde cedo da vida da família, de forma natural”, acrescenta.

Os valores que se estabelecem na memória de uma criança, permanecem e transformam-se ao longo da vida, fortalecendo a importância do respeito por tudo e por todos.

Ensinar consoante as idades

“Desde cedo, os pais podem ajudar as crianças a compreender que no interior somos todos iguais. Que aquilo que nos define vem de dentro, naquilo que se é e se faz, e não naquilo que se tem, seja a cor da pele, o estilo da roupa ou o género dos brinquedos”, afirma.

A especialista deixou algumas questões que os pais podem fazer aos filhos de modo a abordar o tema do racismo: “Como imaginas que se sente aquele menino que é gozado pela cor da sua pele? Como achas que se sente aquela menina que é rejeitada das brincadeiras pelo facto de ter uns olhos com um formato diferente? Como te sentirias se te pusessem de parte por falares com um sotaque diferente dos outros meninos?”

No entanto, algumas das questões variam conforme a idade das crianças, sendo que há diferentes abordagens a ter. Nas crianças mais pequenas, o foco é o comportamento. A questão “Vamos jogar à bola com estes meninos?” é o conselho deixado sobre a forma como os pais os podem ensinar nas atividades lúdicas.

Nas crianças em idade pré-escolar, já se pode mencionar o nome do valor em causa. “‘Percebo que encaraste como uma injustiça o facto de os teus amigos não deixarem o João jogar à bola, por ter uma cor de pele diferente'”

Quanto às crianças mais velhas, estas “compreendem que através de certos gestos transparecem valores e compreendem o valor da motivação intrínseca, pautando a sua conduta com base em valores importantes para si e que, na sua maioria, terão sido ‘herdados’ da sua família”, tal como aponta Inês Afonso Marques.

É por isto que é importante que os adultos façam uma reflexão sobre as suas atitudes e se certifiquem que elas estão de acordo com o que acreditam ser as melhores práticas para ensinar as crianças.

Crianças e os protestos antirracistas

Como sabemos, é vendo como os adultos agem diante das variadas situações que as crianças têm a possibilidade de aprender e incorporar essas práticas nas suas interações ao longo da vida.

Mas num momento em que na televisão se mostra os confrontos violentos que estão a decorrer entre a polícia e manifestantes, nos Estados Unidos da América, devido ao racismo, de que forma os pais podem explicar o que se está a passar aos mais novos?

Inês Afonso Marques afirma que as imagens, desde que selecionadas e que possam ser de difícil compreensão para os mais novos, cujos conteúdos possam ser mais violentos, “podem ser um excelente ponto de partida para pais e filhos conversarem sobre valores como justiça, respeito, tolerância e entreajuda”.