Rania da Jordânia: “A cor de pele e religião afetam os instintos humanitários”

PORTUGAL-TECH-WEB SUMMIT
[Fotografia: PATRICIA DE MELO MOREIRA / AFP]

A partir do palco principal da WebSummit, que está a decorrer em Lisboa até 4 de novembro, a rainha da Jordânia apresentou contas do mundo virtual e pediu à tecnologia que interrompa o caminho que está a seguir para se mover numa outra direção.

“Segundo dados do ano passado, foram passados mais quatro minutos por dia, por pessoa online. E o número continua a subir”, afirmou Rania Al Abdullah da Jordânia. Por isso, apresentou a partir do palco Altice Arena, nesta quarta-feira, 2 de novembro, um guia para melhor investir esses mesmos quatro minutos porque, considera, “é preciso ir além do algoritmo” e criar “inteligência artificial sem preconceito”.

O primeiro minuto deve ser usado em aumentar a compaixão e o segundo a criar um conceito comum de verdade, olhar pelo outro ponto de vista, abrir as mentes e espaço para terreno comum, há sempre uma terceira via. É preciso tirar partido dos dois lados”, afirma. Pede, para um terceiro minuto, “decência humana” e apoio “nos próprios valores”. “Estar no online não apenas para distração, mas para direção. Mal temos tempo para pensar. Estamos a abdicar dos nossos próprios processos de pensamento, e é perigoso”. Num quarto momento, Rania quer que se “invista o tempo nas pessoas que se ama. O tempo move-se apenas numa direção e não o poderemos recuperar”, vinca.

“A tecnologia pode ajudar a construir melhores vidas. Que os social media não nos evada, mas nos ajude a focar, que a Inteligência Artificial não antecipe as nossas ideias, mas ajude a explorar novas, que não tome decisões por nós, mas que nos ajude a tomar as melhores opções”, refere.

Um testemunho que olhou, a todo o momento, para os refugiados de múltiplas geografias do mundo e para a forma como a tecnologia pode e deve dar a mão a quem vive esta realidade, mas também a quem tem de ser solidário. “No nosso mundo interconectado não podemos evitar ver os outros sofrer. Temos de olhar uns pelos outros se querermos paz e estabilidade para todos nós”, afirma. “É difícil ignorar que a cor de pele e religião afeta os instintos humanitários”, acrescenta.

Temos de investir mais em mobilizar a compaixão e não apenas de formas seletiva e temporária. Todos têm o mesmo valor (…) O mundo respondeu à crise de refugiados da Ucrânia e mostrou que conseguimos muito mais quando os nossos corações estão juntos. É difícil ignorar a diferença de generosidade entre os que chegam da Ucrânia e os que chegam da Síria, Sudão do Sul e Myanmar”, distingue Rania, arrancando um aplauso a meio do discurso.