Já sabíamos que a menstruação era a razão pela qual as raparigas em África não iam à escola, três a sete dias por mês. Países como o Uganda ou o Quénia já tinham detetado o problema, que põem em causa o sucesso escolar das raparigas e a consequente falta de oportunidades para as mulheres. O obscurantismo ou a falta de informação pouco têm a ver com estas faltas escolares – é sobretudo pela falta de recursos económicos para comprar absorventes que as raparigas africanas estão a faltar à escola.
O problema, agora, está a bater-nos à porta. Na cidade de Leeds, em Inglaterra, uma escola pediu ajuda à ONG Freedom4Girls depois de ter detetado um absentismo regular entre as raparigas. A BBC recolheu em março alguns testemunhos em que se pode escutar as razões das ausências regulares: quando as raparigas tiveram a primeira menstruação passaram a faltar à escola por não terem informação e dinheiro para comprarem pensos ou tampões.
O assunto foi levado ao Parlamento britânico, em março, e corre na internet uma petição para que a utilização de absorventes menstruais deixe de ter custos para as raparigas mais pobres. A petição defende ainda que as escolas distribuam gratuitamente às raparigas carenciadas os pensos e os tampões necessários para a higiene íntima durante o período.
Tomar banho ou comer? Uma questão para os carenciados
O absentismo escolar por causa da menstruação já originou uma nova expressão: o Period Poverty. E a pobreza, sabe-se agora, está a afetar a higiene em muito mais campos. O jornal britânico ‘The Guardian’ publicou ontem a notícia que dava conta da escolha que muitas famílias de baixos rendimentos têm de fazer diariamente: comprar comida ou comprar produtos de higiene.
Foi um relatório da instituição de caridade In Kind Direct que chamou a atenção para a pobreza higiénica. Nele se pode ler que há centenas de pessoas a passar por uma crise escondida e com cada vez mais famílias a pedirem ajuda para receberem produtos de higiene (+67% em 2016 do que no ano anterior). O aumento da inflação no Reino Unido – uma das consequências mais imediatas do anunciado Brexit, por causa da desvalorização da Libra – está a diminuir o poder de comprar dos britânicos e aqueles que viviam no limiar da pobreza têm cada vez mais dificuldade em comprar bens de primeira necessidade, como champôs ou desodorizantes.
Mulheres mais expostas à pobreza por causa da menstruação
Estima-se que entre 150 a 300 milhões de mulheres em todo o mundo não tenham proteção adequada para os dias da menstruação. A impossibilidade de ir à escola e, depois, de trabalhar, durante os dias do período fazem com que elas estejam em desvantagem desde o início da puberdade:
Desvantagem nos estudos + desvantagem no trabalho = menos rendimento disponível
Mas mesmo as mulheres que têm acesso aos produtos de higiene estão em desvantagem face aos homens. É fazer as contas. Se tivermos em consideração, para Portugal, o valor indicativo de uma embalagem de pensos com 16 unidades – que chegará para as necessidades da maioria das mulheres por menstruação – €2,50 e o multiplicarmos pelos ciclos menstruais de uma mulher saudável – 456 em média – descobrimos que as mulheres, em Portugal, gastam obrigatoriamente mais €1140 ao longo da vida. Não parece muito? Junte-se agora as diferenças salariais de género conhecidas e os baixos salários das mulheres para pensar se fica assim tão barato ser mulher e ter o período.