Raparigas na política que trouxeram umas amigas também!

voz megafone shutterstock

Eu entrei para o partido liberal belga e, pouco tempo depois, as minhas duas melhores amigas entravam também na política, e não para o meu partido. Uma foi para os socialistas e outra para os comunistas”, conta, entre risos, a belga Laura Hidalgo, 24 anos. Júlia Fernandez, 19, espanhola, está a entrar por outra porta: longe das estruturas formais partidárias, esta estudante de Direito em Madrid escolheu o voluntariado e está a trabalhar na campanha europeia que apela ao voto This Time I’m Voting (Desta vez vou votar, em tradução literal). “Tenho amigas muito próximas que acabaram por aderir ao movimento recentemente”, conta a madrilena.

Com as eleições europeias à porta, marcadas para 26 de maio em Portugal, e com o medo de uma fraca adesão por parte dos cidadãos do “velho continente”, com crescentes níveis de abstenção, as instituições de Bruxelas e Estrasburgo querem contrariar essa tendência e pôr os jovens na linha da frente desta convocação.

Estes são os temas que as mulheres mais querem ver debatidos nas Europeias

Laura Hidalgo, ligada às estruturas de juventude do partido ALDE, e Julia Fernandez sentaram-se à mesma mesa no seminário intitulado O Poder das Mulheres na Política, que decorreu em Bruxelas, a 5 e 6 de março. Uma coincidência que tem nada de acaso. Mas elas têm outro ponto em comum: querem ir para Erasmus já em 2020. E quem sabe Bruxelas e o Parlamento Europeu não serão, para ambas, as salas de aula que estas alunas de Direito procuram? Afinal, Laura e Julia creem que o futuro passará pelas leis e pela política que se faz no centro da Europa.

“Temos de ser uma mente aberta. É aí que nascem as ideias”

Laura conta que a vida dela e das suas amigas continua com a mesma frequência, mas a intensidade aumentou até porque os temas políticos passaram a dominar os encontros. “Continuamos a estar juntas e a jantar”, ri-se.

“Somos as melhores amigas, em primeiro lugar. Conseguimos falar de política. Uma delas é comunista e temos muitas discussões, muito interessantes e intensas. Há argumentos em que fico a pensar porque ela acha isto ou aquilo ou porque é que penso assim. E olhamos para as razões de uma e outra, e pensamos”, revela, contando que uma das suas colegas já é responsável municipal de um partido. Para Hidalgo não há mistérios. “Temos de ser uma mente aberta. É aí que nascem as ideias”, garante.

E apesar de haver diferenças – uma delas, claro, versa o pró e o anti-europeísmo -, Hidalgo conta que “o debate com as raparigas com as quais cresceu se tornou apaixonante para todas”, dando por garantido que a amizade vem mesmo em primeiro lugar.

Laura conta que as amigas começaram a ficar seduzidas pela política ao vê-la ter outros projetos. “Não saía tanto à noite como outros jovens, mas “tinha outros amigos, tinha outras redes, discutia, sentia-me muito bem, e elas começaram também a achar graça a isso”.

Sem opositores ideológicos internos em jantares ou saídas à noite, Julia parece ter o trabalho mais facilitado. Esta estudante de Direito viu chegar ao movimento europeu pelo voto – que diz não ter qual financiada pela União Europeia – “três dos seus amigos mais próximos”. Hoje, trabalham em conjunto pelo voto nas eleições europeias. “É mesmo assim que as coisas acontecem, e funcionam!”, revela Fernandez ao Delas.pt.

Porém, Julia admite que nem tudo é perfeito. “Notamos que os novos elementos que chegam ao movimento já estavam de alguma forma ligados à política ou a iniciativas dessa dimensão”, refere. Portanto, o desafio é claro: “temos de ir buscar outras pessoas, a outros quadrantes da sociedade, sobretudo os mais desfavorecidos. É preciso também encontrar representantes dessas pessoas”, afirma. Mas… como?

Espalhar a palavra com conferências, quizzes em bares e festas

Não faltam iniciativas a correr e que vão desde conferências a um nível académico, mas que podem acomodar outro tipo de eventos. “Fizemos dois quizzes (concurso de cultura geral) em bares com perguntas sobre a União Europeia e que tinham por objetivo encorajar o conhecimento sobre as matérias europeias”, refere.

Nos planos, e para lá das sessões de esclarecimento, o movimento europeu com sede em Espanha quer “organizar mais festas e ter uma presença junto dos jovens a um nível mais casual”, contando, inclusivamente, com a presença da Rede de Estudantes Europeia (ESN, no acrónimo original).

“É preciso convencer estas pessoas que votar é importante e têm de o fazer se querem ser e estar representados”, acrescenta Fernandez. Hidalgo faz o mesmo a partir de uma estrutura política consolidada, um partido: “Estou a tentar lutar contra os extremos, o inimigo comum, os populismos. Por isso estou a fazer tudo isto. Quero lutar porque não quero ver partidos que odeiam o projeto europeu no Parlamento”, conclui.

No futuro e na próxima composição parlamentar europeia, Hidalgo espera “que o Parlamento Europeu encoraje os países a criar uma aplicação móvel grátis para fomentar a solidariedade para com as mulheres e raparigas vítimas de violência”. A jovem belga acredita que tal “permitirá um alerta rápida e um contacto com amigos, familiares, ajudantes e associações ou outros interlocutores à escolha”, diz ao Delas.pt.

Imagem de destaque: DR

Europa: Da ‘macho culture’ e do assédio às exigências das mulheres na política