Menos tabaco, menos álcool, mas também menos uso do preservativo numa vida sexual que começa mais tardiamente. Estes são alguns dos resultados do estudo ‘Health Behaviour in School-aged Children’, feito junto de mais de 200 mil jovens e divulgado esta terça-feira, 15, pela Organização Mundial de Saúde. Este inquérito aponta também para uma maior incidência de doenças psicológicas mais acentuadas nas raparigas do que nos rapazes.
Com mais de 220 mil entrevistas feitas junto de adolescentes com 11, 13 e 15 anos a viver em 42 países da Europa e da América do Norte, o inquérito aponta para um decréscimo de alguns comportamentos de risco.
No Reino Unido, o Departamento Nacional de Estatísticas britânico revelou que o número de gravidezes na adolescência está a diminuir e os especialistas correlacionam esses dados com o aumento de consumo das redes sociais. Assim, se os jovens dedicam mais tempo ao relacionamento ‘online’, têm menos necessidade de saírem de casa e menos oportunidades para a interação sexual, afirmam os técnicos.
Álcool e tabaco diminuem
Dezassete por cento dos jovens com 15 anos admitiu ter fumado o seu primeiro cigarro antes dos 13 anos, um valor que desceu dos 24% e que tinha sido registado no último estudo feito pela OMS, em 2009/10. O consumo regular de tabaco, ou seja, pelo menos uma vez por semana, também decresceu para os 12% face aos 18% registados no inquérito de 2010.
“A redução do álcool e do tabaco significa que as políticas que os países têm estado a implementar estão a tocar nos riscos do tabaco e do álcool nos jovens”, afirmou o diretor da divisão de Doenças Não Comunicáveis e Promoção da Saúde da OMS para a Europa, Gauden Galea
Também no álcool há descidas acentuadas a assinalar. O relatório fala mesmo em “declínio considerável” e aponta para um consumo de bebidas alcoólicas semanais na ordem dos 13%, pouco mais de metade do que o que foi detetado em 2009/10 (21%). “Este relatório tem uma série de muito boas notícias. A redução do álcool e do tabaco significa que as políticas que os países têm estado a implementar estão a tocar nos riscos do tabaco e do álcool nos jovens”, afirmou Gauden Galea à Lusa.
O diretor da divisão de Doenças Não Comunicáveis e Promoção da Saúde da OMS para a Europa alerta, contudo, para a necessidade de os países precisarem “de se manter vigilantes com as raparigas, mais do que com os rapazes”, até porque, considera o responsável, “o declínio [neste tipo de comportamentos] nas raparigas” não é “tão grande como nos rapazes”, disse Galea.
Saúde mental mais volátil junto das raparigas
Mais de 4/5 dos inquiridos dizem-se satisfeitos com a vida que têm, mas a OMS alerta para a urgência de se estar atento à saúde mental dos mais novos. De acordo com o referido estudo, essa mesma satisfação parece baixar com a idade dos entrevistados e os 13 anos parecem constituir o ponto de partida para a diferenciação entre género: elas parecem viver, a partir daquela idade, menos satisfeitas do que eles.
Aliás, a partir dos 15 anos, uma em cada cinco adolescentes diz ter saúde regular ou fraca e metade relata queixas uma vez por semana, pelo menos. À Lusa, Gauden Galea afirmou que as raparigas “estão muito mais preocupadas com a sua aparência, têm muito mais probabilidade de estar insatisfeitas e de entrar em dietas”, embora não existam relatos objetivos de excesso de peso ou mesmo de obesidade.
A agressividade parece estar também mais diluída, sendo ainda mais comum nos rapazes e a decrescer com a idade. No que diz respeito ao ‘bullying’ nestas idades, o relatório da OMS aponta para uma ligeira redução na percentagem de jovens de 13 e 15 anos que o admite ter praticado sobre outros jovens.
Preservativo e sexo geram preocupações
Esta é uma das grandes surpresas do estudo – que é realizado a cada quatro anos e desde há 33 – e que está a levar a OMS a pedir aos vários países para incrementar políticas de promoção e acesso à proteção sexual. E porquê? Porque, de acordo com o inquérito – apenas colocado a jovens de 15 anos nesta matéria específica (e não aos de 11 e 13 anos) -, só 65% dos adolescentes relatou usar preservativo. Tal configura, assim, um decréscimo face a 2009/10, quando 75% dos jovens assumiu usar aquele método de proteção.
“Pediremos aos 53 estados membros que considerem formas de melhorar o acesso aos contracetivos, mesmo entre adolescentes”, disse Gauden Galea, diretor da divisão de Doenças Não Comunicáveis e Promoção da Saúde da OMS para a Europa
“É uma área que estamos a tentar abordar com os países na Europa e (…) pediremos aos 53 estados membros que considerem formas de melhorar o acesso aos contracetivos, mesmo entre adolescentes”, disse Gauden Galea à Lusa, pedindo uma abordagem focada na “educação sexual positiva e proativa”, permitindo também que os jovens tenham acesso aos “instrumentos que lhes permitam proteger-se e às competências para exigi-lo aos seus companheiros”.
Sexo, redes sociais e gravidezes
Já na semana passada, o Departamento Nacional de Estatísticas britânico tinha revelado dados do país que indicavam um decréscimo dos casos de gravidez antes dos 18 anos. Aliás, os números de gravidez na adolescência bateram os seus recordes mais baixos, descendo de 22.653 casos em 2014 para 24.306 em 2015. Um decréscimo próximo dos 7%.
De acordo com as estatísticas reveladas pelo jornal ‘The Times’, a taxa de conceção em raparigas dos 15 aos 17 anos situa-se nas 22,9 gravidezes por mil, menos de metade do valor considerado alarmante e registado em 1998. Para os investigadores, estes resultados explicam-se pelo incremento do acesso à contraceção, pela aposta na educação sexual nas escolas, pelo acesso à pílula do dia seguinte, mas também pelo crescimento das redes sociais na vida dos mais novos, levando a uma interação completamente distinta entre eles.
“Se um tablet ou um telemóvel proporciona entretenimento suficiente em casa, os jovens provavelmente saem menos e acabam por interagir de outra forma entre eles”, justifica Clare Murphy, diretora do Serviço britânico de Aconselhamento à Gravidez
“Há muitas razões por trás do decréscimo da gravidez na adolescência, e o acesso a uma melhor contraceção e saúde sexual estão entre elas. Mas também é importante reconhecer que a vida dos jovens mudou muito”, afirmou Clare Murphy, diretora do Serviço britânico de Aconselhamento à Gravidez.
“Se um tablet ou um telemóvel proporciona entretenimento suficiente em casa, os jovens provavelmente saem menos e acabam por interagir de outra forma entre eles”, afirma a mesma responsável. O aumento de atividade online junto dos mais novos explica, no entender daquela diretora, a redução de oportunidades para a interação sexual entre eles. Clare Murphy sustenta, assim, que as redes sociais fazem diminuir a incidência de gravidezes em idades precoces.